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(pt) A BATALHA, #201: Diálogo com anarquista italiano (da FdCA)

From jornalabatalha@hotmail.com
Date Mon, 1 Dec 2003 10:43:06 +0100 (CET)


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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
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A Federação dos Comunistas Anarquistas de Itália (FdCA) foi constituída
em 1986 a partir de vários grupos pré-existentes. Declara-se
plataformista. Os leitores poderão consultar a sua página na Internet em:
http://www.fdca.it/. Aproveitando a presença de um elemento desta
Federação em Portugal, A BATALHA colocou algumas perguntas ao nosso
companheiro Pier Francesco Zarcone.

A BATALHA: Podes explicar-nos brevemente quais as diferenças essenciais
entre uma organização anarquista específica inspirada pelo
“plataformismo” (exemplos: FdCA italiana, FAG brasileira, WSF irlandesa
ou NEFAC dos EUA e Canadá ) e outras organizações, nomeadamente do tipo
“sintetista”
(exemplos: Federação Anarquista Francófona ou Federação Anarquista
Italiana) ? A FdCA nasceu em 1986 da fusão entre a O.R.A. (Organização
Revolucionária Anarquista) e a UCAT (União dos Comunistas Anarquistas da
Toscana). Naquela altura a ORA tinha já 10 anos de vida e secções em
várias regiões de Itália; a UCAT 5-6 anos de vida na Toscana. Constitui a
mais recente e completa experiência organizativa dos comunistas
anarquistas italianos. A FdCA é uma federação de militantes: os vários
militantes numa mesma cidade formam uma secção. É fundamento da
organização partilhar teses fundamentais: por isto há unidade de teoria,
estratégia de fundo e política, táctica. Acerca da estratégia política e
táctica o debate está sempre aberto e alimenta a definição do programa da
organização. A actividade política dos militantes desenrola-se no
respeito pela
responsabilidade coletiva. O orgão de decisão é o Congresso Nacional.
Neste, tomam-se as decisões em matéria de teses políticas, publicações,
órgãos internos (redacção, comissões, etc.), elege-se o Conselho dos
Delegados que coordena a gestão da organização entre um congresso e
outro, conforme as decisões tomadas no Congresso. O Conselho dos
Delegados elege no seu interior o Secretariado Nacional, com tarefas de
representação e de coordenação da actividade da Federação. Os militantes
mais idosos da FdCA entraram na cena política nos anos 68-69, anos de
lutas do movimento operário e estudantil; e portanto ressentiram o
empurrão daquela altura: um empurrão libertário mas sobretudo classista
que estes movimentos
expressavam. Estes, aproximando-se do anarquismo, encontraram uma
organização de síntese, a Federação Anarquista Italiana (FAI) que, se
aparentemente oferecia espaço, na realidade não era (nem é hoje) uma
organização, mas um conjunto de individualidades tendencialmente
individualistas. As leituras históricas sobre o anarquismo italiano e
internacional mostravam, pelo contrário, uma continuidade do anarquismo
comunista e classista o que, desde a Primeira Internacional, passava por:
as lutas sociais em muitas partes do mundo no início do século XX, antes
e depois da revolução russa; o biénio vermelho em Itália; o
anti-bolchevismo e anti-estalinismo; a revolução mexicana primeiro e
depois a espanhola. Em Itália, a continuidade do comunismo anarquista foi
quebrada por muitos acontecimentos, entre os quais o mais desastroso foi,
sem dúvida, a influência económica do anarquismo antiorganizativista e
aclassista italoamericano ligado ao jornal de Nova York “L’Adunata dei
Refrattari”, durante o fascismo e no pós- IIª Guerra. Uma “rebelião”
contra aquela tendência que ocorreu no anarquismo italiano nos anos 50
foi originar a organização de tendência chamada Grupos Anarquistas de
Acção Proletária (G.A.A.P.), com óptimos militantes que se dispersaram
após a expulsão para fora do anarquismo “oficial” feita pela F.A.I..
Felizmente, muitos destes militantes continuaram uma acção de classe
apesar a “excomunhão”,
disponíveis para narrar, para reavaliar as experiências de ontem e dos
inícios dos anos 70. Neste momento, tenho estado a estudar a história do
anarquismo italiano; partindo dos óptimos estudos de Masini (não é por
acaso que foi um dos militantes mais destacados dos G. A. A. P.),
prossegui com a obra da nossa companheira Adriana Dadà. O seu livro, “O
anarquismo na Itália: entre movimento e partido” foi um virar de página
nos estudos sobre o anarquismo italiano. Aí se põe em evidência, não
apenas as bases comunistas do anarquismo, como a teorização inicial do
dualismo de organização na própria Itália durante a Primeira
Internacional, com os seus teóricos máximos, desde Bakunin a alguns dos
seus correspondentes tais como Celso Cerretti, a quem Bakunin escreve uma
carta esclarecedora sobre esta temática. Acerca do plataformismo na área
italiana, Dadà conseguiu trazer à luz novos materiais que trouxeram
novos elementos para a história do anarquismo, até então toda ela
centrada em torno do papel de Malatesta, mediador sintetista de todas as
tendências. Ela descobriu que os próprios Fabbri, Fedeli e outros tinham
estado em contacto com Archinov, com a publicação das actas de reuniões
realizadas na região parisiense. Também os estudos sobre o período
fascista, quer sobre companheiros presos ou sobre o exílio daqueles que
se expatriaram para fugir à morte, vieram demonstrar recentemente a
continuidade entre o anarquismo comunista e classista de uma boa parte do
movimento libertário de antes do fascismo e dos debates nesses anos. Os
companheiros da tendência comunista anárquica, renascida nos inícios dos
anos 70, na maior parte não se deixaram atrair pela FAI, apesar das
polémicas com as quais esta organização tentou então cercear esta
iniciativa, e deram continuidade ao seu projecto desde então até hoje. A
FAI, sendo sintetista e reagrupando elementos heterogéneos entre si,
enquanto tal, não é operativa e não decide de nada, e muito menos nos
seus congressos. Em consequência disso, a contribuição dos seus elementos
acaba por ser em boa parte inutilizada, pois se trata de uma organização
apenas formalmente presente: a sua actividade e presença é apenas a dos
seus membros individuais. Embora numericamente maior e dotada de jornais,
a FAI sempre se manteve longe de uma prática de classe e do movimento
operário. Recentemente, tem mostrado maior atenção pela luta sindical,
pelo que iniciámos um percurso de debate e iniciativas comuns, quando
possível, entre a FAI e a FdCA.

A BATALHA: Sabemos que a FdCA tem participado activamente nos combates
contra a destruição das garantias sociais dos trabalhadores italianos.
Podes dar-nos uma panorâmica de como se tem posicionado a FdCA e os
anti-autoritários italianos em geral, face aos ataques do governo
Berlusconi?
O plataformismo inspira a nossa actividade em 4 aspectos:
- forte abordagem de classe e tendência à unidade de classe nas lutas -
análise atenta e aprofundada dos sujeitos em questão na luta e das
situações objectivas
- procura de uma linha comum e colectiva fruto de um debate nas secções -
prática do dualismo de organização, pelo qual se têm dado competências e
papeis distintos às organizações de massas do proletariado e à
organização política dos comunistas anárquicos, de modo a evitar
confusões e
sobreposições entre estas duas organizações
Cada secção da FdCA tem a sua actividade em relação com o território na
qual se encontra, embora a Federação se ponha enquanto força política em
relação com os movimentos e com outras realidades políticas. Somos parte
do movimento anti-globalização mas não fazemos parte do fórum social. A
FdCA está activa sobretudo no campo sindical, antimilitarista,
ambientalista, nas lutas por espaços sociais autogeridos e no movimento
anti-globalização. Uma boa parte dos seus membros é activista sindical (e
através deles, a Federação age no mundo do trabalho) quer na CGIL, quer
nos sindicatos de base, quer na promoção de associações e de coordenações
de base dos trabalhadores ou sindicalizados. A classe está hoje
distribuída entre três confederações tradicionais e 5-6 confederações de
base . Num plano específico a USI mantém um caracter ideologicamente
anarquista. A nós não nos interessa uma guerra entre sindicatos porque
retemos como
estrategicamente fundamental a unidade da classe, para lá das siglas
sindicais. Eis porque procuramos promover coordenações de delegados,
coordenações territoriais, coordenações de activistas sindicais
libertários, para dar força a um sindicalismo conflitual de prática
libertária. Contra os ataques do governo Berlusconi, a FdCA está
presente com as suas posições e a sua luta através das quais se
manifesta, como o demonstrou empenhando-se activamente na campanha do
referendo para alargar o Estatuto dos Trabalhadores a todas as empresas,
tema acerca do qual a FAI permaneceu dividida no seu interior entre
aqueles que eram contrários e os que eram favoráveis a participar no
voto. E sobre o assunto não vi que fosse tomada uma posição pela FAI.

A BATALHA: A FdCA aderiu recentemente à Solidariedade Internacional
Libertária, uma rede internacional agrupando sindicalistas libertários e
diversos grupos anarco-comunistas, de todos os continentes. Como é que os
plataformistas italianos se situam em relação à hipótese da construção de
uma coordenação mundial de organizações anarquistas?
Temos relações estáveis com uma grande parte das organizações que se
inspiram da Plataforma noutros países, europeus e extra-europeus.
Consideramos muito útil a lista AP (Anarchist Platform) para o debate
internacional e aquando de Génova 2001 promovemos um encontro entre
organizações plataformistas. Consideramos útil uma rede de coordenação
entre organizações comunistas anárquicas a nível internacional e nesta
perspectiva participamos no projecto SIL, a Solidariedade Internacional
Libertária, juntamente com outras forças políticas e sindicais de classe
e libertárias, a qual pode constituir um passo avante. Uma coordenação
mundial dos comunistas anárquicos é um sonho ambicioso que não deve ser
abandonado, mas que é precedido por um processo de acréscimo do
conhecimento recíproco entre as organizações e seu trabalho comum sobre
temas singulares. Neste momento, assiste-se à formação de novos grupos
comunistas anárquicos na África do Sul, na América do Sul, etc. com os
quais estamos aumentando sempre mais os contactos recíprocos. A esperança
nasce da acção.

A BATALHA: Nenhuma organização anarquista específica (“plataformista” ou
não) parece ter mais do que umas dezenas ou centenas de membros. Será
isso uma limitação muito severa para a eficácia de tais organizações?
Como encara a FdCA o seu papel no combate pelo socialismo libertário? Já
anteriormente tínhamos referido o dualismo de organização bakuninista.
Ora bem, os limites quantitativos das organizações políticas específicas
não são em si um problema real, basta que se pense na Federação
Anarquista Ibérica. A questão está na ligação operativa com a classe
trabalhadora e as suas organizações. Um movimento sindical de massa, como
na Espanha dos anos 30, não é hoje coisa visível. No entanto, um trabalho
constante e concreto de acções de propaganda comunista libertária no
mundo laboral é o único instrumento pelo qual o dado quantitativo possa
ser superado, de facto, pela qualidade. Naturalmente, o inimigo é o mesmo
de sempre: o burocratismo sindical que abandonou o sindicalismo
conflitual e acaba por servir como amortizador entre as reivindicações e
a raiva dos trabalhadores face ao capital. O sindicalismo conflitual de
prática libertária, pelo contrário, está no centro da nossa acção e da
nossa propaganda.

A BATALHA: As motivações profundas para a tua participação nas fileiras
de uma organização anarquista: como te aproximaste dos ideais e pontos de
vista do anarquismo? Quais as razões principais que poderias avançar para
os jovens e menos jovens aderirem à tua organização ou a organizações
semelhantes?
A minha militância revolucionária começou nas fileiras marxistas:
"esquerda nova" dos anos 70/80, Democracia Proletária e - quando esta
derreteu-se - uma experiência breve no Partido da Refundação Comunista. A
passagem ao anarquismo foi fruto de uma maturação durante pelo menos 6
anos. No início, sobre este assunto, sabia o que normalmente se sabe:
estereótipos inúteis. Aprofundando os estudos sobre a revolução
espanhola, começou o meu conhecimento verdadeiro. Eu fui sempre livre de
dogmatismos, não era leninista e estava mais perto das posições de um
Pannoekek e duma
Luxemburgo. Ao final, cheguei à uma posição comunista anarquista e
plataformista. O caminho acabou. O último passo era tomar contacto com
uma organização deste tipo e em Itália há a FdCA. Agora, estar e lutar
com os companheiros dá-me entusiasmo, também pela humanidade rica e livre
deles. Reunir-nos para mim é sempre uma festa.
Que diria aos jovens? Uma organização como a FdCA tem um carácter
operativo: serve para lutar concretamente contra este estado de coisas,
no sentido de uma sociedade comunista libertária e participando nas lutas
reais das classes oprimidas ...

Ficamos por aqui.
A luta continua.

[entrevista realizada no início de Setembro de 2003, por M.B.]


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