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(pt) A BATALHA #201: Preocupações educativas no movimento
From
jornalabatalha@hotmail.com
Date
Wed, 26 Nov 2003 18:29:08 +0100 (CET)
______________________________________________________
A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
http://ainfos.ca/ http://ainfos.ca/index24.html
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por JOÃO FREIRE
Em homenagem ao Santana, ao Moisés e a todos aqueles que
contribuíram para que esta A Batalha pudesse atingir o n° 200,
em trinta anos de publicação ininterrupta
É sabido que os sindicatos influenciados pelo pensamento
libertário concederam um lugar importante nas suas actividades à
educação e à difusão do conhecimento e da cultura não apenas
entre os seus aderentes, mas igualmente junto dos respectivos
familiares e meio social vizinho. Contudo, ainda está por fazer
um levantamento historiográfico alargado dessas iniciativas em
Portugal no primeiro terço do Séc. XX, bem com das escolas
existentes nos núcleos locais das Juventudes Sindicalistas e nos
centros culturais de bairro.
Se esta apetência pelo conhecimento está patente quer na
literatura ideológica, quer nos comportamentos dos militantes,
importa referir que, no caso português, isso constituiu matéria
e campo para o estabelecimento de uma importante ligação e
cooperação entre o militantismo libertário e o republicano. Tal
como o anticlericalismo, a crença na "regeneração social" pela
via da educação era partilhada em comum por bom número de
anarquistas e de liberais ou jacobinistas republicanos. De
resto, estas duas "frentes de luta" articulavam-se, já que, em
particular, havia que atacar e destruir as posições detidas pela
Igreja Católica no sistema escolar ao tempo da Monarquia.
Feita esta observação preliminar – que não tem sido devidamente
sublinhada, porventura por não interessar aos "historiadores
empenhados" de agora – passemos a indicar alguns elementos que
concretizaram estas concepções.
Num levantamento dos grupos anarquistas referenciados (em número
de 700, entre 1900 e 1940), apurou-se que, no mínimo, 16% (isto
é, 113 grupos) dedicavam-se prioritariamente a actividades
educativas, constituindo ou animando escolas, ou dando aulas (em
sedes de colectividades populares, sindicatos, etc.) para uma
população exterior ao próprio grupo. Este número, só por si, diz
bem da atenção prestada pelos militantes a esta questão,
porquanto é de admitir que outros grupos e activistas também
dedicassem parte da sua actividade à alfabetização de adultos e
crianças, bem como à difusão da leitura, através da criação de
pequenas bibliotecas, círculos de leitura e discussão, e outros
meios.
Falando de algumas iniciativas concretas mais postas em destaque
pela imprensa popular da época, vale a pena referir o projecto
da 'Escola Livre', ideia lançada por João Campos Lima em 1906,
após ter visitado, em Rambouillet, nos arredores de Paris, a
escola/recolhimento infantil 'La Ruche', animada por Sébastien
Faure, da qual nos fala no livro Os Meus Dez Dias em Paris.
Tendo angariado o apoio moral, pedagógico e financeiro de
personalidades como Teófilo Braga, Bemardino Machado, Guerra
Junqueiro, João de Barros, Sebastião Magalhães Lima, Maria
Veleda, Nunes da Ponte, Ana de Castro Osório, António José de
Almeida, etc., e a adesão entusiástica de um punhado de
militantes anarquistas, Campos Lima lança-se na tentativa de
concretização do projecto: aquisição de uma propriedade em meio
rural mas não longe da cidade, educação de crianças pobres de
ambos os sexos a cargo da escola (alimentação, vestuário,
alojamento); instrução geral e profissional
(agrícola-industrial) "segundo o sistema moderno de ensino,
despertando nas crianças o desejo de aprender por si";
procurando "entre mestres e discípulos (...) franca cordialidade
(...) verdadeira família"; com o objectivo final de promover
sentimentos de "liberdade (...) auxílio mútuo (...) formar
homens de carácter" (do jornal A Vida, I, (73), II.Nov.1906). O
grupo da 'Escola Livre', de que fizeram parte, entre outros, a
professora Rosalina Ferreira e Miguel Stockler, publicou também
um Boletim da Escola Livre, em cujo n° 1, de Abril de 1907, se
explica detalhadamente este projecto pedagógico. Os meios
financeiros provinham das quotizações dos membros do grupo e de
apoiantes, bem como de empréstimos, e, pelo menos numa primeira
fase, não terão faltado: já instalado em Lisboa com banca de
advogado, Campos Lima anuncia em Janeiro de 1909 que o grupo
"tem já hoje em seu poder uma propriedade, rústica e urbana, nas
proximidades de Lisboa (em Queluz, Belas), para aí ser
estabelecida a Escola Livre. A parte urbana é constituída por 3
edifícios de dimensões muito boas para o fim que se tem em
vista, servindo um deles, o maior e mais bem construído, para a
aula, refeitório, dormitórios, cozinha, etc., tendo ainda uma
ampla loja onde podem instalar-se duas outras oficinas de
aprendizagem e produção. Os outros dois edifícios são inferiores
e demandam reparações. (...) A parte rústica é de boa terra (de)
semeadura, bem exposta e cortada por um rio e por uma estrada"
(A Vida, ll, (2), 10.Jan.1909). Apesar destas boas expectativas,
o projecto acabou por não conseguir vingar, por falta de meios
financeiros, mas provavelmente também por críticas e insinuações
de alguns, que (como desvela A Vida ll, (35), 19.Ago.1909) terão
desencorajado os seus promotores. Suspeitas de promiscuidades
pouco saudáveis nestas experiências comunitárias de adultos e
crianças, maledicência de sacristia ou mero criticismo
desbragado que minava tantas boas intenções no movimento social?
Porém, em breve surgirão outras iniciativas, não exactamente do
mesmo tipo convivencial, mas antes normais instituições
escolares, orientadas contudo por pedagogias inovadoras para a
época. Aconteceu após a emoção suscitada pelo fuzilamento, em
(13 de Outubro de) 1909, do professor espanhol Francisco Ferrer
y Guardia (que nos havia visitado pouco tempo antes), maçon e
libertário, detestado pelos clericais e envolvido num suposto
"caso de bombas" em Barcelona. Isto originou uma nova
congregação de esforços de acratas e republicanos, agora para
criar em Portugal um movimento inspirado nos princípios
pedagógicos de Ferrer e da (sua) Ligue Internationale pour
I'Éducation Rationale de I’Enfance. Assim nasceu, em finais de
1909, o Grémio de Educação Racional, onde se envolveram pessoas
como Adolfo Lima, Emílio Costa, Monso Manaças, César Porto,
Simões Coelho, António Evaristo, Araújo Pereira, Severino de
Carvalho, Bernardo de Sá Viana, Bento Faria, Garibalda Freire,
Jaime Cortezão, Leonardo Coimbra, Lucinda Tavares e outros. O
seu objectivo era fundar "escolas modernas". E, nesta sequência,
criam-se de facto várias instituições por iniciativa de grupos
libertários, com ou sem ligação formal a este Grémio: a Escola
Racionalista das Amoreiras; a Escola de Ensino Livre do Alto do
Pina; A Escola de Educação Racional 'A Crecherie', à Calçada da
Graça; a Escola 'Novos Horizontes', nas Escadinhas de Sto.
Estêvão; a Escola Racional de Gervide (arredores do Porto) e
outras. Foram pequenas instituições que duraram alguns anos. Ao
mesmo tempo, com tal movimento, os anarquistas mais críticos da
governação republicana que se inaugura pouco tempo depois,
marcavam as suas distâncias relativamente à reforma do ensino
inspirada por João de Barros. Esta última, sem ser propriamente
hostilizada pelos libertários, suscitou-lhes diversas críticas,
em especial devido a certos conteúdos patrióticos do ensino
primário. Também a questão da "neutralidade" do ensino ou, pelo
contrário, da conveniência de nele introduzir fermentos de
crítica à desigualdade social, foi motivo de debate e de
polémica, inclusive entre os próprios libertários, como mostra a
discussão havida na imprensa entre Pinto Quartim e Lucinda
Tavares (A Vida, entre Novembro de 1909 e Janeiro de 1910).
Embora criada já uns anos antes, a Escola-Oficina n° 1, ao Largo
da Graça, em Lisboa (edifício ainda hoje existente), veio a
tomar-se, dentro deste movimento de renovação pedagógica, na
experiência mais emblemática, duradoura e consegui da de
educação racional, mista, experimental e participativa. De novo,
na base deste sucesso esteve o entendimento entre as pedagogias
libertárias impulsionadas e teorizadas entre nós por Adolfo Lima
e os apoios financeiros, políticos e institucionais de certos
sectores republicanos, que, por exemplo, também financiaram a
Sociedade Promotora de Escolas (de que ficou a conhecida
'Promotora', no Largo do Calvário). Frequentemente referenciada,
a experiência da Escola-Oficina foi objecto de investigação
histórica por parte de António Candeias e é relatada em termos
muito curiosos nas Memórias de Emídio Santana, que ali foi
educado.
Uma outra experiência de acção conjunta dos libertários com
outros sectores ideológicos em matéria de educação foi a da Liga
de Acção Educativa que, por exemplo, organizou em 1926 uma
"Semana da Criança", com o envolvimento de personalidades como
António Sérgio, Alexandre Ferreira, Acácio Gouveia, Vitória Pais
e outras.
Dirigidas aos adultos, não podem deixar de se recordar as
"universidade livres". A do Porto foi animada, ainda no tempo da
Monarquia, por activistas do Comité Académico-Operário, e
reactiva-se por volta de 1925. A de Coimbra é inaugurada por
esta época, por iniciativa de libertários como Almeida Costa,
Aurélio Quintanilha ou Manuel dos Reis e outros como Álvaro
Viana de Lemos, Joaquim de Carvalho, Tomás da Fonseca ou o
capitão Alcide de Oliveira. A de Lisboa, na década de 10, esteve
geralmente nas mãos de republicanos mas, na década seguinte, é
claramente substituída pela Universidade Popular Portuguesa. Os
libertários ocuparam nesta posições influentes, ao lado de
liberais, socialistas, republicanos e, pouco a pouco, comunistas
também. Nos anos 30 toma-se mesmo num reduto de pensamento e
anti-fascista. Entre outros, aí desempenharam funções directivas
nomes como os de Alexandre Vieira, Adolfo Lima, José Carlos de
Sousa, Adriano Botelho ou Emílio Costa. Ideias de organização de
"universidades operárias" existiram várias (de Ladislau Piçarra,
de Manuel Joaquim de Sousa e de Mário de Oliveira), mas nunca
passaram de projectos.
Naturalmente que o associativismo docente concitou o interesse
destes activistas. Sobretudo, a União do Professorado Primário
Oficial andou sempre próxima do movimento sindical da CGT e o
seu jornal O Professor Primário (429 números saídos entre 1918 e
1930) foi um importante instrumento de ligação e irradiação de
ideias. Mas também é de referir a Associação dos Professores de
Portugal (entre 1923 e 1927), que foi lançada pelo anarquista
Canhão Júnior mas em breve se tomou palco de actuação dos
"homens de Moscovo", levando ao seu encerramento e à prisão de
pessoas como César Porto (que tinha ido à Rússia), Carvalhão
Duarte ou Mário Sedas Nunes, com o Diário de Notícias (de
30.12.1927) a anunciar: "Manejos extremistas: Descoberta uma
poderosa organização para a propaganda comunista nas escolas".
As revistas pedagógicas foram igualmente um importante veículo
desta corrente do educacionismo libertário. Foram, em especial:
a Educação Social, "revista de pedagogia e sociologia", dirigida
por Adolfo Lima (40 números publicados, entre 1924 e 1925); a
Escola Nova, dirigida em Coimbra por Almeida Costa (5 números
publicados em 1924-1925); e a Educação, animada por Mário de
Oliveira (3 números publicados, em 1929).
Também a presença de Emílio Costa (e de Faria de Vasconcelos) no
Instituto de Orientação Profissional 'Maria Luísa Barbosa de
Vasconcelos' deve ter sido bem aproveitada para a difusão de
certos conceitos educacionais modernos.
Enfim, para além dos nomes já citados, vale a pena acrescentar
ainda os de António Manaças, Virgílio Santos, Deolinda Lopes
Vieira, Rosalina Ferreira, António Lima, Manuel da Silva,
Francisco Quintal, Miquelina Sardinha, Martins dos Santos ou
José Negrão Buízel, pelo muito que fizeram em prol desta causa.
Em relação aos principais mentores – Adolfo Lima, Emílio Costa,
Campos Lima, Almeida Costa ou Mário de Oliveira – e à vista das
suas intervenções em congressos e pelos artigos publicados,
fica-se com a convicção de que eles conheciam bem não apenas as
teorias pedagógicas libertárias de Ferrer, Paul Robin ou Albert
Thierry, mas também as daqueles que marcaram as ciências da
educação da sua época como Maria Montessori, Decroly, Adolphe
Ferrlere, Claparede ou John Dewey. E, porém, certo que as suas
concepções sobre educação estavam fortemente marcadas pelo
positivismo e o cientismo que vêm do Séc. XIX. Disso dão conta
os programas de ensino, quer os destinados às crianças e
adolescentes, quer os destinados aos adultos.
João Freire
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