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(pt) A BATALHA #200: Os corpos sob influência : um benefício particular
From
<jornalabatalha@hotmail.com>
Date
Sun, 21 Sep 2003 00:55:53 +0200 (CEST)
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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
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Mundialização, globalização, mercantilização. Termos simples,
com os quais nos confrontamos no quotidiano, transformados em
conceitos. Esta transformação ocorre porque são precisas novas
palavras para descreverem os movimentos de fundo que marcam de
forma duradoira o comportamento de umas e outros.Os corpos e as
sexualidades (conjunto de fenómenos sexuais ou ligados ao sexo)
são considerados como produtos que se vendem e se compram ; e
isto num contexto em que os meios de produção de troca estão sob
propriedade privada e onde o objectivo último é a obtenção do
lucro. A sociedade capitalista assim descrita beneficia de um
sistema de opressão social e jurídico baseado na submissão das
mulheres: o patriarcado. Neste contexto, a mercantilização dos
corpos e das sexualidades procura o lucro inerente à lógica
capitalista. Além disso, limites verdadeiros entre classes
sociais apoiam-se em práticas sexuais distintas, quer sejam
reais ou fantasmáticas. Trata-se de uma codificação
simultaneamente simplista e complexa que permite rejeitar uma ou
puxar o outro numa ou noutra classe.Depois, a sexualidade dos
dominantes, nutrida do autoritarismo e apresentada como
maioritária encontra-se dotada de uma função social : a
aprendizagem e a aquisição do hábito da submissão.Por fim,
delineia-se uma moral filosófica e sexual, variável a preceito,
cuja função é de legitimar e reforçar um patriarcado «opção
capitalismo». Esta moral «por medida» tem em conta as diversas
estratégias desenvolvidas e ignora as suas eventuais
contradições internas. Uma lógica capitalista O capitalismo
rege-se por esta regra : tudo se vende, tudo se compra. É a lei
do mercado, a oferta limita-se a responder à procura, sendo esta
dotada de meios de pagamento. Não faltam exemplos (carro,
computador, etc.) para ilustrar a estratégia bem rodada com
vista ã obtenção do máximo lucro possível. Um produto raro é
vendido por elevado preço a um sector do mercado capaz de o
comprar. Depois, os métodos de racionalização da produção tornam
possível a produção por um preço de custo menor ; logo de
vendê-lo um pouco mais barato a maior número de pessoas, em
geral um produto com uma qualidade menor, não interessando a
durabilidade por forma a que não se estanque a procura. Esta
lógica conseguiu uma proeza extraordinária : colocar a preço
módico o prazer em geral e o prazer sexual em particular. Sempre
tendo em conta apenas a população que dispõe de recursos e em
que 70% dos pobres no mundo inteiro são mulheres, esta colocação
a preço acessível destina-se aos homens. A proeza consiste na
apresentação da satisfação: como consequência da racionalização
da produção, esta satisfação reduz-se ao fenómeno mecânico da
ejaculação. Tudo o que seja do domínio do inquantificável, do
relacional, o que exige um esforço pessoal e um pôr em causa do
seu modo de vida, tudo o que faz a construção intelectual da
relação é negado, desclassificado. O prazer sexual é
simplificado para se conformar com uma prática mecânica :
«entrar», «sair», «recomeçar se necessário». Ao ponto de as
pessoas que se prostituem perguntarem num impressionante resumo:
« fazemos amor ou broche?» Esta mesma lógica de mercado faz com
que a condenação, apesar de muito forte, dos comportamentos
homossexuais, seja evitada em face das partes de mercado às
quais correspondem. A maioria dos homossexuais são homens
solteiros, sem ascendentes a cargo, dispondo de bons recursos :
um mercado interessante cuja demanda de consumo é satisfeita sem
qualquer hesitação. A maximalização do lucro exige a utilização
da publicidade. Uma das constantes da publicidade é a utilização
de corpos «erotizados», sobretudo femininos, como argumento de
venda. Tal utilização não seria tão sistemática se não fosse
eficaz. Será necessário interpretar uma compra como uma resposta
a uma solicitação sexual? Em todo o caso, a pulsão sexual é
considerada com estando na base da compra, e os recursos
maioritariamente masculinos. Note-se também que, em virtude do «
tecto de vidro » que impede a progressão profissional das
mulheres, os profissionais de publicidade e os seus clientes
directos são quase exclusivamente homens. Em paralelo com a
uniformização dos modos de vida, constrói-se assim uma
uniformização do erotismo, bem prática, pois mais propícia ao
aumento dos lucros numa lógica de produção em série. Os corpos
apresentados a maior parte das vezes de modo fragmentário (as
partes ausentes sendo frequentemente a cabeça, as mãos, os pés),
em posição expectante, frágil; com as zonas sexuais primárias ou
secundárias expostas por vezes com maior evidência do que o
produto vendido. Deste modo, é reforçada a ideia de que o corpo
da mulher pode ser colocado num jogo de compra e/ou de aluguer.
Na lógica do capitalismo, apenas existe o lucro e a sua procura,
sejam quais forem os clientes, as necessidades e os produtos.
Uma solidariedade patriarcal ? No nosso contexto político, uma
das classes sociais compõe-se de uma oligarquia definida pela
sua fortuna. Essa fortuna e poder de compra daí decorrente,
permitem-lhe constantes conciliações com a moral. Esta moral
serve , ela própria, de base a um verdadeiro arsenal legislativo
que reprime a delinquência e a criminalidade. Curiosamente,
alguns desvios não relacionados com a classe social, são menos
duramente reprimidos. Com efeito, as designações de desvios
sexuais são portanto menos graves (delito em vez de crime), as
penas são menos pesadas (multa e pena suspensa mais do que
prisão) e muito pouca tendência para perseguir activamente essa
delinquência. Os que estão na posição de exercer a repressão
fecham os olhos. O escândalo do Crédit Lyonnais foi absorvido
pelos dinheiros dos contribuintes, quanto ás vitimas de violação
elas continuam a ver a sua vida privada colocada sob acusação.
Os desvios de ordem sexual (violência familiar, violações,
mutilações, etc.) são comuns a todas as classes. Os homens das
classes médias e populares que as cometem são raramente
perseguidos pela polícia e condenados pela justiça: beneficiam
dos efeitos de uma certa solidariedade que compra o seu silêncio
e os perverte. É um dos efeitos do patriarcado que confere ao
homem o dever de chefiar a sua família com firmeza nem que tenha
de recorrer á violência para se fazer obedecer. Tais desvios,
que são outras tantas violências, têm como prémio o controlo
sobre a vida das suas mulheres e dos seus filhos. Assim, pelo
seu olhar e pelo seu relacionamento com as mulheres do seu
entorno, na qualidade de dominante, o homem com condutas
patriarcais imprime, na mentalidade das mulheres que ele
frequenta, a hierarquia entre sexos e géneros (os homossexuais
são a parte destituída da posição dominante). Estas condutas
causadoras de divisão fazem com que sejam em vão as tentativas
de uma solidariedade contra a opressão económica para maior
vantagem da opressão patriarcal : há exemplos históricos de
homens opondo-se ao recrutamento de mulheres em vez de se
mobilizarem para uma idêntica escala de salários, pelo menos.
Esta lógica de solidariedade entre dominantes inscreve-se dentro
da lógica de distribuição das migalhas do sistema. Estas
migalhas calmam efectivamente o apetite desviando-o de outros
alvos e permitem uma certa identidade no consumo mas com
«produtos» cuja qualidade se torna cada vez mais baixa á medida
que se desce na escala social(as prostitutas são castigadas por
atribuição de sector onde predomina uma população imigrada).
Parece que a prática ritual da iniciação do filho levado pelo
próprio pai «às putas» se tenha perdido. Esta era realmente um
caso de integração social na sua plenitude por intermédio de uma
prática de consumo. Esta prática tem um significado duplo:
confirmar a identidade enquanto consumidor e confirmar o
estatuto de objecto sexual das mulheres. Torna-se difícil de
ignorar a explosão do rap comercial e dos seus temas favoritos :
o dinheiro, o machismo, as mulheres. Se a sua classe natural
ainda lhes permite seduzir sem que disso se apercebam, algumas
mulheres ainda lhe são recusadas pois são reservadas a outros.
Nesta situação a violação ou a sedução de mulheres de categoria
social elevada faz parte da lógica de reapropriação individual;
o mesmo que roubar um carro, ou dinheiro. Mas, pelo contrário os
mesmos estão prontos para santificarem as sua própria mãe e
denunciar as violências, incluindo as conjugais, a que elas
tiveram de fazer face. Mais um esforço para lá chegar... Função
social de uma sexualidade autoritária A perspectiva de
manipulação do dinheiro com todas as vantagens inerentes toma a
dianteira sobre qualquer outra consideração, incluindo da moral
dominante : fidelidade (um homem poderoso tem, pelo menos, uma
amante), respeito pela vida ( traficância de orgãos roubados de
pessoas vivas mas incapazes de se defender), moral sexual
(associação de comerciantes gays que monopoliza as marchas de
gay pride). O sistema patriarcal apresenta a sexualidade
masculina como uma pulsão imperativa, que não pode ser adiada
nem controlada. Então a fatalidade é oposta ao desamparo das
vítimas e aos homens que querem pôr em causa estes
comportamentos violentos. A intensidade dessa pulsão é função da
potência geral do indivíduo ; a expressão pública dessa
intensidade (assim como a abundante progénie) tem o condão de
provocar admiração, consideração e estima à sua volta. Numa
situação de crise, a satisfação dessa pulsão conduz a actos que
a moral do próprio indivíduo reprova. As relações homossexuais
entre homens desencadeiam o desprezo ou os chefes de bando na
prisão recorrem com frequência a violações homossexuais. Se
necessário fosse uma prova de que o que está em jogo com esta
violência é o controlo do outro: o receio e o respeito dos
outros presos aumente em função dessa frequência. Graças a uma
“cegueira” curiosa o violador não “desce” ao nível de
homossexual, é o violado que se torna no equivalente de uma
mulher. Assim tudo permanece estável no melhor dos mundos
patriarcais: os poderosos reforçam o seu domínio a cada acto de
controlo; a cada ataque os dominados baixam um pouco mais a
cabeça e os braços e culpabilizam a si próprios. Fazer com que
se aceite que a sexualidade masculina é uma pulsão que tem de
ser satisfeita dê por onde der, é muito prático noutros
aspectos. Esta ausência de reflexão sobre as consequências de
seus próprios actos, este grau zero de consciência da violência
sexual quotidiana é o mesmo estado de espírito que permite
absorver sem crítica os discursos políticos ou comerciais
demagógicos. A publicidade preenche uma função dupla : promover
a compra de produtos e promover um sistema social. A maioria da
publicidade baseia-se num argumento sexual sobre o qual os
homens aprenderam verdadeiramente a reagir de modo impulsivo: de
novo, não avançar com argumentos racionalmente construtivos,
privilegiar o “repouso do guerreiro” confirmar a ideia de que o
corpo das mulheres é destinado ao prazer dos homens. Privilegiar
a ideia de que algumas pessoas são mais humanas do que outras,
desde a mais tenra infância e fazer a demonstração pelo exemplo.
Uma moral filosófica e sexual variável a preceito e apoiando o
patriarcado na sua opção capitalista. No quadro do matrimónio,
um homem aceita que a sua esposa gaste o seu esperma em
crianças, orgulho do seu pai e o seu dinheiro também, para
atrair a consideração social (uma casa moderna e bem equipada,
uma boa apresentação física e de indumentária, estudos das
crianças). Esta consideração transforma-se por vezes em
autêntico argumento de venda no caso de jantares entre futuros
associados. Nessas ocasiões, exibem as sua vida familiar como
garante da sua credibilidade profissional. Um homem em situação
de divórcio concebe como evidente não ter de pagar nada de uma
pensão de alimentos visto não ter já acesso ao corpo da sua
ex-esposa e muito frequentemente o laço de paternidade
dissolve-se. Há portanto uma autêntica transacção comercial por
detrás dos laços conjugais. A visão de cenas com características
sexuais deve provocar uma sensação de prazer ou o riso. A recusa
de tomar conhecimento delas é vivida de forma negativa e fecha
todo um sector de sociabilidade, nomeadamente no espaço
profissional. O acesso aos escritos ou às imagens marcam também
um ritode passagem à idade adulta. As histórias humorísticas
veículam a ideologia patriarcal : o que penetra é o vencedor, a
penetrada é a vencida mesmo quando satisfeita (!) ; são as
mulheres que propagam as Doenças venéreas; as lésbicas estão à
espera do homem que saberá desvendá-las a elas próprias. Os
homens estão apenas no jogo da sedução e assumem as
consequências dos seus actos, como pessoas responsáveis. O velho
antagonismo entre o Dom Juan e a desavergonhada. Face a tais
práticas profanas os diversos mitos religiosos alimentam de
forma convergente a norma patriarcal. Os católicos têm em grande
valor a imaculada concepção de Maria (a única mulher a não ter à
nascença o pecado da sua anciã Eva) e à sua virgindade mantida
mesmo após o parto. Os judeus do sexo masculino fazem uma prece
ao acordar agradecendo não terem nascido mulheres. O estatuto do
sexo feminino no Islão é o de objecto que serve para produzir
filhos. Condenação à morte em diferentes países asiáticos
(assassínios de mulheres na Índia e na China, sequestração das
mulheres no papel da maternidade e do lar, geisha mas proibida
de ser actriz de teatro no Japão). Quer se trate da brejeirice
ou do sacro, as mulheres ficam irremediavelmente conspurcadas ao
terem contacto com homens : matrizes para a reprodução,
disponíveis para exercícios de higiene, beatificadas sobre o
altar dos cuidados a pessoas idosas ou então quando já estão
mortas. Eis algumas das funções que definem uma sub-casta de «
tocável » universal para maior conforto e alívio dos que não lhe
pertencem. A mesinha é antiga e conhecida : suporta-se melhor a
nossa própria opressão quando se tem alguém a quem oprimir. Uma
sexualidade autoritária serve de instrumento de controlo
permanente sobre os outros e sobre si próprio pois abre uma
espiral de violência que se alimenta a si própria e corta com
toda a sociabilidade. Esta posição de superioridade permite
descarregar as suas frustrações, de compensá-las no curto prazo.
Com efeito, todos os indicadores de desenvolvimento, sobretudo
os que têm em linha de conta a qualidade da vida, mostram que a
escolarização das meninas e a participação das mulheres nas
escolhas das sociedades se conjugam com estabilidade e
desenvolvimento durável. Em que sociedade queremos nós viver ?
Elisa Jandon
(Traduzido do francês por Manuel Baptista)
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