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(pt) A BATALHA, # 200 - EDITORIAL - A VERDADE SOBRE OS FOGOS FLORESTAIS EM PORTUGAL

From <jornalabatalha@hotmail.com>
Date Sat, 20 Sep 2003 23:42:20 +0200 (CEST)


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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
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Qual é a base para a existência desta catástrofe, que se repete
ciclicamente todos os anos e que este ano, mercê de condições climatéricas
especiais, atingiu proporções de desastre nacional?A base é uma mancha florestal em progressão contínua nas zonas do
interior, principalmente no Centro.Como se constituiu essa mancha florestal contínua de muitas centenas de
milhares de hectares?Constituiu-se nos anos sessenta, com a crise da agricultura de
subsistência e a emigração maciça para as grandes cidades do litoral e
para o estrangeiro de toda uma geração de jovens agricultores.A partir desse momento, as explorações agrícolas são abandonadas e
transformadas em «florestas» de produção de pinho e de eucalipto.Essa conversão foi estimulada pelo "Estado Novo", cujos planos de fomento
visavam assegurar a sustentabilidade da indústria das celuloses.Esta, tornou-se rapidamente a segunda fonte de divisas de produtos para
exportação, apenas superada pelo tradicional vinho do Porto e outros
álcoois.Assim, as celuloses, com o apoio activo do Estado e do ministério da
Agricultura, fomentaram durante decénios a formação de um enorme deserto
verde, no centro do país, com manchas contínuas de milhares de hectares.As populações que restavam em pequenos lugarejos perdidos nessa imensidão
de deserto verde, eram principalmente compostas por idosos que pouco mais
podiam fazer do que vender às empresas de celulose a sua produção de
madeira de pinho ou de eucalipto, ao preço que estas determinavam.
Como todos os governos – antes e depois do 25 de Abril de 74 – se baseavam
num modelo de Estado capitalista/capitalismo de Estado, em proporções
variáveis segundo a conjuntura política, houve uma continuidade de
políticas de de litoralização (demográfica e industrial) com
desertificação do interior do país e oferta desse vasto território à gula
das empresas de celulose.A adesão à União Europeia mais estimulou esta política de abandono forçado
da agricultura e de reconversão de vastas áreas em «floresta» de produção.Os tecnocratas de Bruxelas, em conferências e simpósios organizados em
1986 para instruírem empresários, cientistas e universitários sobre os
projectos que iriam apoiar não deixaram dúvidas:pretendia-se transformar o interior de Portugal num imenso reservatório de
"energia verde" com vista a obter uma maior autonomia energética da
Europa.Nessa altura não se temia ainda o efeito de estufa e portanto não havia
qualquer obstáculo à queima de grandes massas de madeira e de subprodutos
da floresta em centrais de energia eléctrica movidas a "petróleo verde".Os ditos cujos tecnocratas também estavam cientes que os portugueses,
pouco esclarecidos do ponto de vista ecológico, se não importariam em
ficar sem agricultura e com os seus rios poluídos em virtude da manutenção
e ampliação da maior indústria de pasta de papel da Europa. Tais
preocupações seriam, pelo contrário, de temer por parte dos cidadãos
ecologicamente mais conscientes dos países mais a norte (França, Bélgica,
Alemanha, Grã-Bretanha, etc), por sinal os maiores consumidores de pasta
de papel (e de energia).Portanto, aquilo a que se assiste agora é a fase preparatória da
reconversão final do interior do país nesse tal deserto verde. Os
proprietários agrícolas e florestais das áreas queimadas ficaram
arruinados e sem meios de sobrevivência pelas próximas décadas. A menos
que passem a ser subsidiados pelo ministério da Agricultura durante o
longo período de crescimento das novas árvores, só lhes restará vender as
suas terras por qualquer preço. Esta seria uma excelente oportunidade para
as grandes empresas agrícolas e silvícolas adquirirem muitos terrenos a
baixo custo e colocá-los a funcionar para o mercado de exportação. Dada a
necessidade de aumentar as exportações para melhorar a nossa balança
comercial, e com outros sectores exportadores em crise, dificilmente se
poderá esperar uma política de reordenamento territorial e «florestal»
capaz de satisfazer os mais elementares anseios dos ambientalistas. A
atitude do governo relativa ao não adiamento ou suspensão da abertura da
caça, em oposição às propostas comuns das organizações de caçadores,
agricultores e ecologistas é já um mau prenúncio. É evidente que houve uma
enorme mortandade da fauna selvagem nas áreas ardidas e que o repovoamento
destas terá de se efectuar a partir das áreas não queimadas. Permitir a
caça nas áreas não afectadas significa uma catástrofe adicional que
poderá levar à extinção algumas espécies mais raras e que irá dificultar o
futuro repovoamento cinegético das áreas destruídas pelo fogo. Só não vê
quem não quer ver.









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