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(pt) COMUNICAÇÃO AO CONGRESSO HISTÓRIA DA FAI Experiências, Fundamentos e Perspectivas do Anarquismo do Comitê Pró-Luta Popular (COMLUT)

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Date Tue, 22 Jul 2003 10:46:48 +0200 (CEST)


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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
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Texto apresentado pelo secretário de Organização do Comlut, José
Ferdinando Ramos Ferreira. Madrid, novembro e dezembro de 2002)
Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a oportunidade de participar
de um Congresso que tem muita razão de ser. E, reconhecendo sua
importância e necessidade, felicitamos ao Grupo de História Social de
Guadalajara, à Fundação Anselmo Lorenzo e aos protagonistas da história
revolucionária em Espanha, companheiros da Federação Anarquista Ibérica e
Confederação Nacional do Trabalho.
Sem dúvida alguma, a FAI ocupa um espaço de excepcional importância na
história do Anarquismo. E como não poderia deixar de ser, carrega em si
as marcas de experiências de lutas em determinados contextos sociais.
Desde 1923, diante do Congresso de Évora em Portugal, quando anarquistas
e anarco-sindicalistas portugueses e espanhóis começam a discutir a
unificação do movimento dos dois países (1), até sua constituição durante
encontro clandestino em 1927, em Valência.
Com o mesmo vigor que oferecia combate à ditadura de Primo de Rivera e de
Carmona, também recaía sobre a FAI o ódio produzido nas experiências
totalitárias, mesmo no período oportuno ao anarquismo espanhol, nos anos
de 1936 a 1939.
O interior da própria Organização cercava-se de toda a polêmica gerada no
processo revolucionário, sobretudo após o colaboracionismo datado de fins
de 1936 a 1937, promovido pelo recuo dos dirigentes da CNT, fato
amplamente discutido no movimento anarquista espanhol e criticado por Los
Amigos de Durruti.
Esta discussão assume importância na medida em que reflete a trajetória e
avanço das propostas de reorganização do anarquismo internacional nos
dias de hoje.
Observa-se que o anarquismo foi (e tem sido) um dos mais importantes
movimentos sociais a apresentar propostas no campo da transformação
social desde fins do séc. XIX e início do séc. XX, sobretudo se
consideradas as manifestações a partir da I» Internacional.
Seu reflexo possibilitou alicerçar bases de trabalhadores, bem como
importantes avanços da sociedade, no sentido da emancipação social, em
todo processo da Revolução Espanhola (1936-39), apresentadas em programas
das organizações anarquistas (Confederação Nacional do Trabalhado – CNT e
Federação Anarquista Ibérica – FAI).
No presente, suas práticas podem ser encontradas em pauta de discussão de
redes anarquistas internacionais.
A discussão que nos propusemos fazer neste Congresso, leva em
consideração as influências do anarquismo espanhol no encaminhamento das
atividades de Organizações presentes em outros países, e, neste caso em
especial, no Comitê Pró-Luta Popular.

Resumo
Tornamos objeto de análise o trabalho e o exercício militante do Comitê
Pró-Luta Popular (COMLUT), sua disposição no cenário político popular
contemporâneo, e situando-o na história paralela ao jogo político
institucional, para o entendimento de forma precisa e ajustada do
processo sócio-educacional em construção.
Para tanto, estão sendo realizados os estudos acerca de questões
relacionadas ao processo de construção de sua teoria e prática no
interior dos movimentos populares, entendendo que a constituição destes
elementos se concretiza no decorrer do próprio processo da dinâmica das
atividades. E desde cedo, apresentamos estes elementos constitutivos:
-Unidade orgânica através da aliança efetiva entre teoria e prática;
-Necessidade de organização (entre os militantes e destes nas suas bases
sociais);
-Planejamento Estratégico a partir da efetivação de comissões populares;
-Luta classista-combativa e caráter classista e social do anarquismo;
-Disciplina e responsabilidade coletiva em oposição ao espontaneísmo –
que contribui para a irresponsabilidade.
Contudo, levamos em consideração a base que sustenta esta corrente, cuja
maior motivação está materializada em Bakunin e Malatesta.
Trata-se de um estudo recente, que assume importância na medida em que
demonstra a realidade concreta de determinado grupo com propostas atuais
e específicas para cada região, a garantir a autonomia desta.
Não obstante, a sua articulação social hoje, enquanto veículo educativo
aos meios populares no qual está inserido, apresenta-se diante do
crescimento da “participação” da sociedade civil nas demandas das
políticas públicas dos países considerados democráticos, num período que
coincide com a crise de identidade da esquerda oficial, representativa e
participativa(2). Da mesma forma, há que levar em consideração que se
tratam de propostas Práticas-Teóricas cotidianas. Assim, traz o
entendimento de um processo de constante aprendizado do Homem na
constituição da sua integralidade física, moral e intelectual inserido no
contexto social, ou seja, educando-se para a liberdade.
Esta sociabilidade não tem estrutura piramidal ocupada pelo pai, ou
respectivos representantes alicerçados na hierarquia, e verticalidade e
refere-se a compartilhar experiências, vivências, etc.
De orientação coletivista bakuninista sugere a construção do conhecimento
a partir das experiências populares e a disputa do conhecimento acumulada
pela humanidade entendendo que a intelectualidade burguesa, embora tenha
a racionalização dos acontecimentos sociais, mas não se sustenta pelo
conhecimento do dia-dia. Tal conhecimento está inscrito a um recorte
temporal quantitativo e/ou qualitativo, mas não está de posse da
construção do fenômeno individual inserido no coletivo e constituído a
partir deste, de forma organizada.
Para Bakunin, uma sociedade libertária deve educar para a liberdade, que
ocorre a partir da aquisição da consciência (via instrução ou pela
educação política nos meios operários) efetivando-se através da
propaganda para a ação, pois trata-se da semente da própria revolução. É
neste sentido que o processo de formação do Homem acontece destruindo a
formação autoritária que herdou. Sugere a criação de grupos de estudos,
centros de cultura sociais e universidades populares que terão a função
de aliar a juventude instruída e o povo desenvolvendo o ensino mútuo,
afirmando que a escola real para o povo e para todos os homens feitos é a
própria vida(3). Trata-se aqui de negligenciar a autoridade constituída
em princípios de dominação e opressão.
Há que se considerar que as construções históricas dos homens são
instituídas socialmente e podem se alterar na medida em que oferece
respostas coletivas. Portanto, a constituição da liberdade é também um
ato coletivo e organizado(4).
Neste sentido, deve-se buscar a integração efetiva entre teoria e prática
revolucionária, garantida pela unidade entre base de movimento popular e
construção do conhecimento.
Sem a ação organizada, livre ou imposta, não pode existir sociedade; “sem
organização consciente e desejada, não pode haver nem liberdade, nem
garantia de que os interesses daqueles que vivem em sociedade sejam
respeitados (...)
Os trabalhadores são explorados e oprimidos porque, estando
desorganizados em tudo que concerne à proteção de seus interesses, são
coagidos, pela fome ou pela violência brutal, a fazer o que os
dominadores, em proveito dos quais a sociedade atual está organizada,
querem” (5).
Forma-se então a consciência de classe no interior da própria classe,
através do exercício educacional-coletivo.
Portanto, a luta de classes representa o enfrentamento real, político e
ideológico. É um processo construído e nele organizam-se as estruturas
necessárias para atender aos distintos aspectos das manifestações
populares. Obviamente, num movimento com estas características
constrói-se o sentimento e a necessidade de agir em conjunto, entre as
forças
populares, carregando também suas bandeiras específicas de luta; das
manifestações estudantis, operárias, comunitárias, etc; de caráter
combativo e popular em função da dinâmica própria que geram os fatos.
Esta luta e dimensão de profundidade deve ser planejada em função do
avanço das propriedades específicas do período que caminha ao processo de
ruptura revolucionária.
Deve-se considerar que, num contexto de consolidação de bolsões de
miséria e de reordenação/reestruturação do capital privado e estatal, as
classes dominantes procuram transformar as conquistas históricas do povo
em novas práticas do sistema capitalista. Num primeiro momento sufocando
suas manifestações(6); posteriormente implementando a reestruturação do
mercado ao efetivar-se a organização dos trabalhadores em células
produtivas; e por fim adotando medidas para absorver as exigências
contestatórias e bandeiras de luta, transformando-as em mercadoria. Da
mesma forma, para materializar o controle dos meios de produção, bem como
da administração local, coletivizada e federalizada em bases
populares(7) – e não institucionais, portanto – é necessário (re)conhecer
a realidade das injustiças sociais, quer esteja no processo fabril e
tecnológico (afim de se consolidar um planejamento com vistas a não
tornar as fábricas e indústrias expropriadas em elementos de reprodução
das relações de produção), ou ainda na ocupação de terras (cujo objetivo
é desmantelar o princípio da propriedade privada). Neste sentido, não
depende apenas da boa vontade dos atores envolvidos, mas na capacidade
sincera de organização disciplinada dos movimentos populares no conjunto
da sociedade e do conhecimento adquirido na construção do poder popular
garantindo sua autonomia através do exercício da democracia direta.

O Contexto brasileiro e as experiências adquiridas:
Logo após o processo de abertura democrática no Brasil, durante o início
da década de 80, anarquistas e libertários de diversas regiões do país
retornaram, em suas instâncias de reuniões, o processo de discussão a
respeito de novas propostas de organização do Movimento Anarquista de uma
forma geral.
De início, destacaram-se forças, que prestigiavam a formação intelectual
humana, valorizadas pelos Centros de Cultura Social e suas adjacências,
os núcleos de espírito operário reconhecidos no Pró-COB (Confederação
Operária Brasileira)(8) de cunho anarco-sindicalista e Liga de
Trabalhadores em Ofícios Vários (a LTOV-SP); em expressões de rebeldia da
juventude, como o movimento underground - o Punk e, posteriormente o
Movimento Anarco-Punk (MAP), ainda aqueles que valorizavam a liberdade
através do corpo e da mente em sessões de terapia(9).
Estas propostas predominantes seriam assimiladas de alguma forma por
grupos anarquistas, inclusive nas tendências do Movimento Estudantil.
Permeando manifestações das correntes anarquistas, que oscilam entre o
federalismo, mutualismo, coletivismo, individualismo,
anarco-sindicalismo, pacifismo, etc, que sob determinada ótica propõem um
modelo de Federação Anarquista, surge também a proposta de se formar uma
organização atuante nas realidades distintas, com capacidade para lidar
com os problemas e lutas do cotidiano.
Este trabalho teve início com a realização de encontro nacional,
objetivando a estruturação do movimento estudantil e dos trabalhadores,
em Brasília, 1985.
Durante o encontro, discutiu-se a seguinte pauta: 1) Informes; 2) Análise
da conjuntura do Movimento Estudantil e do Movimento dos trabalhadores;
3) Formas e propostas de atuação.
Concluiu-se com a necessidade de criar uma organização que atue no
Movimento Estudantil e, pelo comprometimento entre os grupos anarquistas
presentes, empenhar-se na criação da Federação Estudantil Libertária
(FEL); com inserção estudantil para a luta, priorizando a ação na base do
estudantado, e que protagonizasse junto com a COB a tentativa de
construir uma organização anarquista mais ampla.
Dessa forma, a FEL, em processo de estruturação e organização imediata,
propôs-se a realizar, em seis meses, encontros regionais nas cidades dos
delegados presentes(10) e, ao grupo da cidade de Belém – PA, caberia
sediar a secretaria geral provisória, com o informativo da FEL rodado em
forma de encarte junto da Voz do Trabalhador(11).
Cabe dizer que propõe um anarquismo organizado, de inserção social, com
trabalho regular e metódico, cujo objetivo é de impulsionar as lutas
populares dentro de um contexto concreto na América Latina.
Vale lembrar que, neste período, o anarquismo encontrava poucos
referenciais de luta, sobretudo pela herança deixada pelos “anos de
chumbo”. A partir de 1996 integram-se grupos de São Paulo, compondo a
Construção Anarquista Brasileira, entre eles o Expressão Libertária
(posteriormente ESL – Expressão Socialista Libertária) aglutinado após
participação no Encontro Latino Americano, reunião que fez parte das
comemorações pelos 40 anos da Federação Anarquista Uruguaia – FAU,
durante os dias 24 a 29 de setembro de 1996 em Montevideo, Uruguay. O ESL
de Campinas contava com militância do antigo FIA (Fração Insurgente
Ácrata), com proposta de organização e inserção comunitária e do CLEL
(Coletivo Libertário Edgard Leuenroth) presente no movimento estudantil e
cultural.
O primeiro foi fundado enquanto proposta em 1988-89, porém sem tê-las
aplicado de fato. O segundo data do mesmo período(12), 1988, e no ano de
1990 houve uma fusão entre os grupos com a primeira participação juntos
nas manifestações de 1¼ de maio daquele ano. Identificaram-se a partir de
1991-92 apenas como CLEL.
Suas resoluções foram aprofundadas junto á dinâmica da FAU, durante o
Encontro Latino Americano, no ano de 96, com necessidade de buscar
referências organizadas nos países deste continente. O grupo de Campinas
passa a reconhecer-se como OSL.
Como linhas políticas mínimas para organização, visa traçar um projeto
político (objetivo e finalidade) de longo prazo que marcará desde o seu
início, etapas mínimas de trabalho em curto prazo, definindo-as com
metodologia adequadas a cada circunstância, orientados por idéias-guia e
conceitos.
A partir de 1998, surgem divergências com a OSL-nacional, ocasionando no
desligamento do grupo de Campinas. A sua base de discussão se mantém,
vindo a formar um coletivo distinto da OSL, surgindo em 2000, o Comitê
Pró-Luta Popular (COMLUT).
O Comitê Pró-Luta Popular é uma organização política de orientação
libertária que iniciou atuando em SP, BA e SC com pretensão a atingir o
território nacional.
Estrutura-se a partir de militantes organizados em células, de onde se
mantém uma estrutura deliberativa (através de conselhos) e executivas,
com delegados assumindo secretarias. A discussão federada ocorre em
conselhos regionais e Congresso nacional, a oferecer unidade orgânica e
política ao COMLUT.
Neste entendimento, é possível afirmar que o COMLUT foi organizado a
partir da experiência de militantes que atuam no movimento anarquista e
popular desde 1988-89. Da mesma forma, sua orientação política ideológica
está baseada nas experiências mackhnovistas e espanholas, sobretudo no
entendimento de que os conselhos e comitês populares, proletários e
operários devam ser a forma primária e concreta da sua autodireção,
mantendo-se os princípios libertários:
a) direito dos trabalhadores a uma completa iniciativa;
b) direito de autodireção econômica e social;
c) princípio de não-estatismo na edificação social.
Ao mesmo tempo, considera-se em programa, os ensinamentos das
coletivizações espanholas, na participação da mulher, no ensino integral
às crianças e na coordenação de possíveis trocas de produtos (estudadas
no programa da sua Frente de Mobilização de Desempregados).
Há o entendimento de que o trabalho político deva estar necessariamente
envolvido na realidade concreta do povo oprimido, portanto em ocupações
urbanas e rurais, bairros populares, favelas, fábricas, com
desempregados, minorias, etc.
Contudo, o campo de atuação ainda restringe-se a poucas áreas – que podem
ser observadas no Programa Mínimo da Organização.
Suas experiências referem-se às seguintes áreas:
-Feira de Santana (BA): movimento estudantil secundarista e experiência
no movimento camponês (com ex-militante do MST e OTL);
-Campinas (SP): movimento social comunitário (área de saúde), sindical e
cooperativista, movimento estudantil universitário e secundarista.
Através do andamento de atividades de inserção comunitária, foram
realizados cursos em parceria com a Casa Lampião(13) possibilitando-nos
construir a Frente de Mobilização de Desempregados (FMD), que agrega
moradores das diferentes regiões de favelas da periferia de Campinas. A
FMD iniciou seus trabalhos nas favelas da zona leste e sudoeste da grande
Campinas (Itatiaia, Andorinhas e Vida Nova e tem por atribuição organizar
os desempregados através de Grupos de Trabalho, realizar cursos de
formação paralelamente ao encaminhamento destes interessados em
Associações e Cooperativas Populares.
Tem-se obtido resultados qualitativos, tanto no seu aspecto teórico
através do exercício de organização do curso, quanto prático, quando foi
possível fundar uma Associação de Costureiras no bairro Vida Nova e Vila
Formosa (Sociedade Unida da Vila Formosa). Ao mesmo tempo há trabalhos em
curso em outros bairros, que assumem o mesmo perfil.
O curso assume um caráter organizativo e educativo na medida em que os
participantes fazem a discussão do conteúdo aliado à sua realidade
concreta procurando adequar estes fatores na sua capacidade produtiva e
no exercício do trabalho coletivo.
A FMD procura trazer a discussão a respeito da economia social em
oposição à “solidária” e a política social versus política pública.
Portanto, opera no campo das contradições entre força produtiva e
mão-de-obra,
sociabilidade libertária e sociabilidade autoritária, posse coletiva dos
meios de produção versus propriedade privada.
Forma-se também o grupo de juventude: a Frente de Ação Libertária para a
Transformação Social (FALTS), cujo objetivo é de aglutinar, organizar e
formar estudantes e jovens de periferia em atividades políticas e
culturais. A FALTS agrega discussões a respeito da instituição de grêmios
livres, organiza debates, desenvolvem peças de teatros relacionadas aos
problemas da sociedade, ao proletariado, e ao movimento operário
histórico.
No início de 2001, realizou-se em Campinas, no estado de SP o “Encontro
de Organizações de Luta”, na tentativa de aproximar grupos de intenção
libertária para atuar em nível estadual mantendo unidade de ação política
e sócio-econômica através da construção de um “Fórum Popular
Permanente”(14). O segundo Encontro ocorreu em agosto do mesmo ano,
também em Campinas. Pretende-se manter atividades articuladas nas cidades
de Campinas, São Paulo e Baixada Santista (Santos e Cubatão), para
constituição local de Estruturas Federadas, mantendo a orientação
libertária.
Este trabalho deve levar em consideração alguns fatores: o perfil do
grupo a ser organizado; tempo para executar o trabalho; constituição da
entidade em nível local (enquanto “ligas populares”) e estadual
(federação), relação com o movimento social e popular e propaganda de
massas.
Já neste ano de 2002, o COMLUT esteve presente em algumas atividades que
possibilitaram aproximação de outros movimentos sociais (na greve
nacional de 21 de maço, quando foi discutida a flexibilização da CLT, no
1¼ de Maio, Greve dos Servidores Municipais de Campinas, e contatos
estabelecidos com o movimento de moradias de São Paulo), além de algumas
reuniões que
possibilitaram trazer diversos participantes das mais diferentes áreas de
Campinas, no sentido de estabelecer a unificação das propostas dos
movimentos sociais e populares.
Pretende-se uma estrutura ampliada capaz de discutir todas as atividades
descritas, levando-se em consideração fatores como tempo, número de
militantes e compromisso ideológico.
“O projeto visa gerar condições humanas e materiais necessárias para a
implantação de uma Estrutura Política Federalista articulando a região de
Campinas, constando a criação de um banco de dados sobre os grupos
envolvidos e as iniciativas por eles desenvolvidos, visando estabelecer
um olhar crítico e a construção de espaços de orientação libertária”.(15)
Portanto,
“Para impulsionar as propostas de transformação social de orientação
libertária e promover a intervenção direta popular nas decisões, tornando
realidade os anseios do povo pelo conjunto de políticas sociais (moradia,
trabalho, educação, lazer etc.), é necessário que o potencial científico
esteja nas mãos e nas ações do dia-a-dia dos grupos oprimidos através do
exercício do poder local. É necessário, portanto disputar o conhecimento
e produzi-lo aliando efetivamente teoria e prática revolucionária.
Através da reflexão da experiência adequada na militância política nas
suas diversas frentes de inserção, pretendemos construir o poder popular
horizontalmente, do local para o geral, do local para o regional.
A proposta promove a prática teórica estabelecendo unidade orgânica e
inovações em equipamentos e produtos bem como resgatando o processo
autogestionário através da tomada de decisão autogovernada visto a um
planejamento estratégico descentralizado com três finalidades:
-Utilizar a força acumulada das organizações libertárias como vetor de
inovações dos processos de produção e, sobretudo nas relações sociais e
de produção: a) no desenvolvimento de um sistema de coletivização, gestão
e avaliação de custos de atividades relacionadas às políticas sociais
(saúde, habitação, transporte etc.); b) na qualificação e organização das
forças produtivas, garantido suas conquistas históricas, lutando por
maiores benefícios à classe trabalhadora e ao conjunto dos movimentos
sociais de caráter libertário;
-Promover formas de produção compatíveis com o autodesenvolvimento
social, desde a geração de trabalho associativo e cooperado até o
desenvolvimento de sua produção incentivando:
a) uso de matérias-primas abundantes localmente,
b) a diminuição dos danos ambientais,
c) contribuindo para a capacitação e requalificação das forças
produtivas. -Contribuir para eficiência e efetividade do poder local:
desde a concepção de um dispositivo político e econômico para tratamento
da coletivização dos meios de produção, até qualificação de ativistas e
simpatizantes na sua capacitação em lidar com recursos e produtos. Para
tanto, o conjunto da militância deve compreender a autogestão com um
processo em construção, passando pelo desenvolvimento de sistemas
associativistas que permitam o fortalecimento da democracia direta dos
serviços prestados ao povo explorado e oprimido.
O projeto deverá oferecer resolução às demandas populares e será
transversal na medida em que situa-se em contexto sócio político.
Funcionará como uma rede de democracia direta onde estarão presentes os
movimentos sociais de caráter transformadores, pesquisadores de
orientação libertária associados aos grupos populares.
Por tratar-se de um projeto social e popular, não se limita a uma função
administrativa ou conjunto de órgãos, visto a sua intencionalidade de
impacto contra o atual desenvolvimento da classe dominante. Portanto, a
rede de atores sociais inicia-se com aqueles diretamente envolvidos no
processo e amplia-se gradativamente com o potencial das forças populares
ampliando a força política libertária na fenda social.” (16)

E, neste sentido, o COMLUT elabora um projeto mínimo que
“... procura contribuir ao desafio que hoje se coloca para um grande
número de grupos políticos de intenção revolucionaria. Ele apresenta as
características observadas na problemática “prática-teórica da
organização classista”, na articulação federada no conjunto da sociedade
e, sobretudo, aos explorados e oprimidos.
Entende-se pois, que a produção do conhecimento engloba o conjunto de
atividades sócio-políticas e econômico sociais, desde a pesquisa
científica até o desenvolvimento das práticas realizadas no cotidiano,
efetivando-se métodos autogestionários das forças produtivas. Objetiva-se
a
disponibilização de uma unidade produtiva, de um novo bem ou serviço para
a sociedade classista. Portanto, articula-se desde o desenvolvimento de
uma máquina, até sistemas de processamento de informação ou de
autogestão. É importante destacar que tal “lógica industrial” deverá,
necessariamente, provocar no contexto social uma nova forma de vida e
lógica, onde as prioridades políticas, econômicas e sociais sejam frutos
da vontade do coletivo local, visando o seu bem estar e não mais a lógica
de mercado ou um regime de produção de tipo capitalista, hierarquizado ou
autoritário. Evidentemente, não abriremos mão das conquistas
trabalhadoras adquiridas nas relações de produção, ao mesmo tempo em que
deverão ser promovidas relações igualitárias da sociedade, através da
intensificação dos pequenos ofícios envolvidos pelas forças produtivas. A
inovação proposta assume características muito diferentes do modelo
descritivo de um arranjo societal típico do capitalismo avançado.
Propomos uma “pré-federalização”, em que uma densa teoria de atores gera
no interior do próprio movimento social como sinal de relevância entre
prática de ação coletiva, pesquisa e produção.
Simultaneamente, contempla o processo de luta de classes
orientado/organizado pelo conjunto da militância de intenção
revolucionária. Portanto, a disputa do conhecimento perpassa pelo
questionamento do tipo de competição proposto pelo capitalismo de Estado
e global financeiro. Trata-se de um planejamento coordenado entre várias
frentes de inserção social e das forças produtivas de responsabilidade do
conjunto da
militância e dos atores coletivos formados neste processo.
Neste sentido, deve-se entender que fazemos referência ao complexo
emaranhado das relações sociais e das forças produtivas, visando a
satisfação das necessidades pessoais e sociais”. (17)
Em relação às concepções básicas, a organização política anarquista não é
um fim, mas um meio para gerar um processo revolucionário, compreendido
que os meios, em grande medida, determinam os fins e necessariamente
devam estar em acordo com os objetivos propostos, para haver certo grau
de homogeneidade. Esta base de acordo, sendo respeitadas por todos os
integrantes, mantém e desenvolve forte sentimento de identificação e
compromisso com os oprimidos; também a compreensão da situação da América
Latina, suas particularidades e formas de agir, de um anarquismo adequado
às questões particulares de cada país e região.
========================================================

(1) Rodrigues, E. “Notas e Comentários Histórico-Sociais”. RJ: CC&P
editores LTDA, 1998, pgs. 147 e 148.
(2) A crise de “direção” intelectual da esquerda é pressuposta por
elementos éticos-culturais “do projeto” anti-capitalista simultaneamente
à crise do “socialismo real”
(3) Bakunin, Mikhail. “Deus e o Estado”. São Paulo: Cortez, 1988, p.45.
(4) Bakunin, Mikhail. “O Conceito de Liberdade”. Porto: Rés , 1975, p.23.
Ver também Malatesta, Errico. “Escritos Revolucionários”. São Paulo:
Novos Tempos, 1987.
(5) “Agitazione d’Ancone”, 1897, in Malatesta, Errico. “Escritos
Revolucionários”. São Paulo: Novos Tempos, 1987, p.53.
(6) Como nos Conselhos operários na Hungria em 1956, na Tchecoslováquia
em 1968 onde há enfrentamento com a cúpula stalinista, as greves e
ocupações de fábricas em 1968 na França – que desencadearam lutas
proletárias em outros países como Itália, EUA, Alemanha (ocidental),
Espanha, Grécia, etc. (7) Carrasquer, Felix. Las Colectividades de
Aragón: Um Vivir
Autogestionado, Promesa de Futuro. Barcelona: Laia/Divergencias, 1986.
(8) Fundada em 1906 durante o 1¼ Congresso Operário Brasileiro, realizado
no Rio de Janeiro, organizado pela Federação de Associações de Classe,
contou com representantes trabalhistas cariocas, com a Federação Operária
de São Paulo (FOSP) e do interior de São Paulo, além do nordeste
brasileiro. Adotou sistema federalista nos moldes do sindicalismo
revolucionário da Confédération Générale du Travail – CGT/França,
garantindo ampla autonomia aos indivíduos no sindicato. O semanário A
Terra Livre (publicado entre 1906-1911) e outros, divulgavam as idéias
anarco-sindicalistas da época. Neste período, o Congresso Federal já
estudava a possibilidade de regulamentação dos Sindicatos pelo projeto
Adolfo Gordo. Em 1985 houve o congresso Pró-Cob em Brasília, com
participação da LTOV-SP.
(9) A somaterapia de Roberto Freire.
(10) Em Porto Alegre, Brasília, Belém e Rio de Janeiro.
(11) Periódico Anarquista da COB.
(12) Surgiu no Encontro de Estudantes Libertários, no Rio de Janeiro, em
88. (13) Sociedade civil sem fins lucrativos, que desenvolve trabalhos
sócio-educativos e culturais na periferias de Campinas. São desenvolvidos
cursos com crianças (educação integral) e com os jovens e adultos
(educação e geração de rendas). Para estes elaboram-se atividades
voltadas para a construção de cooperativas populares de caráter
autogestionário (trabalho e produção) e associações de trabalho. Os
“cursos” tem duração média de 03 a 06 meses. Embora a Casa Lampião seja
uma entidade que trabalhe com educação e cultura baseada na Educação
Integral de Paul Robin, não se trata de uma entidade libertária, no seu
sentido clássico.
A Casa Lampião e o COMLUT tem implementado um projeto de construção de
grupos de trabalho para geração de rendas denominado “Introdução ao
Cooperativismo e Associativismo”, cujo objetivo é de estabelecer a
organização comunitária voltada à atividade econômica, ao mesmo tempo em
que se privilegia a reconstrução da identidade destes grupos populares e
consequentemente a sua auto-estima.
Este trabalho é realizado com adultos cujo critério de participação é a
situação sócio-econômica dos mesmos e após o curso discute-se a
possibilidade de ser formada uma cooperativa ou associação de trabalho,
tipos de entidades que dependem do número de participantes e o interesse
demonstrado pelos participantes. Procura-se ainda manter a relação entre
as atividades lúdicas desenvolvidas com as crianças na sua relação com os
adultos, quando abordados os temas que envolvem situações familiares e
comunitários.
(14) Contido no “Encontro de Organizações de Luta”
(15) Documento “Construindo Espaços de Luta”, do Programa Mínimo do
COMLUT. (16) Projeto do Comitê, “Construindo Espaço Referencial de Luta”.
(17) Projeto do Comitê, idem.

retirado de HETERA : http://www.hetera.org/




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