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(pt) Brail, Capixaba, FACA: NOTA DO CONSELHO DE LIDERANÇAS DO POVO GUATÓ SOBRE OS INCÊNDIOS QUE DESTROEM O PANTANAL (ca, de, en, it, tr)[traduccion automatica]
Date
Sun, 28 Jul 2024 08:18:43 +0300
A Federação Anarquista Capixaba (FACA) se solidariza com os e as
camaradas do Povo Guató, oportunidade na qual difundimos a nota por eles
confeccionada. Destacamos que somente o combate imparável contra o
capitalismo e o estado poderá garantir um futuro viável e sustentável
aos povos que habitam o Guadakan e toda a Terra!
---------------------
Nós, membros do Conselho de Lideranças do Povo Guató no
Guadakan/Pantanal, vimos a público prestar esclarecimentos e registrar
posicionamento sobre os incêndios que destroem a planície pantaneira.
Em primeiro lugar, descendemos das mais antigas populações indígenas
canoeiras que se estabeleceram no Pantanal. Ao longo de mais de 8 mil
anos, jamais destruímos o Guadakan, pelo contrário; sempre promovemos a
preservação ambiental e mudanças positivas nas paisagens locais. Este
bioma é sagrado e nosso território ancestral, onde somos o que somos, um
povo originário resistente, aguerrido, trabalhador e defensor da
biodiversidade.
Em segundo lugar, os incêndios que ocorrem em muitos lugares, como
verificado em 2020 e agora em 2024, em nada têm a ver com qualquer
prática tradicional de queimada promovida por povos originários. Esses
incêndios são invenções dos brancos que se instalaram no Guadakan e
percebem a região como um espaço de oportunidades para o lucro sem fim.
Em 2020, por exemplo, incêndios destruíram grande parte da cobertura
vegetal de áreas tradicionalmente ocupadas pelas comunidades das Aldeias
Aterradinho e Barra do São Lourenço, e por pouco não chegaram até a
Aldeia Uberaba. Também atingiram e seguem atingir áreas onde comunidades
Guató sofrem um doloso processo de invisibilidade étnica, tanto em Mato
Grosso quanto em Mato Grosso do Sul.
Em terceiro lugar, a ausência da presença eficaz e moralizadora do
Estado Brasileiro no Pantanal profundo faz parte de um projeto político
e econômico de longa data. Favorece para que o Guadakan continue a ser
uma terra onde a lei predominante é a vontade dos poderosos, que detêm o
poder econômico e possuem representantes nos poderes constituídos na
República. Esses poderosos têm acesso à mídia e costumam posar de
defensores da natureza, divulgar inverdades e falar impropérios sobre a
crise climática e os incêndios. A ausência efetiva do Estado Brasileiro
também serve para o empoderamento de ONGs (Organizações Não
Governamentais) ambientalistas e anti-indígenas, financiadas com
recursos sabe-se lá de onde, que promovem a invisibilidade étnica do
povo Guató, causam cisões e desentendimentos nas comunidades e propagam
mentiras a nosso respeito. Elas impõem a muitas de nossas famílias e
comunidades os rótulos de "tradicionais", "ribeirinhas", "descendentes
de indígenas", "isqueiras", "corixeiras" etc. Ora, sabemos que filhote
de onça-pintada não pode ser outra coisa senão onça-pintada. Portanto,
filhas e filhos de pais Guató ou de pai ou mãe Guató são Guató, e isso
deve ser motivo de orgulho, jamais de vergonha.
Em quarto lugar, a experiência exitosa da Expedição Guató e da Expedição
Técnica Guató, realizadas na segunda quinzena de abril de 2024, são
exemplos positivos do que desejamos em relação à presença eficaz e
moralizadora do Estado Brasileiro. As duas expedições contaram com a
valorosa participação da Marinha do Brasil (6º Distrito Naval e Flotilha
de Mato Grosso), Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (representado
pelo Conselho de Supervisão dos Juizados Especiais), Secretaria Especial
de Agricultura Familiar, Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da
SEMADESC (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência,
Tecnologia e Inovação do Estado de Mato Grosso do Sul), GIZ (Agência
Alemã de Cooperação Internacional), FUNAI (Fundação Nacional dos Povos
Indígenas), Ministério Público Federal, AGRAER (Agência de
Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), Fundação de Cultura de Mato
Groso do Sul, pesquisadores de universidades e representantes de
movimentos sociais. Por isso, a data de 24 de Abril de 2024 marca um
novo momento para a comunidade da Aldeia Barra do São Lourenço, há muito
esquecida no Pantanal profundo, onde, na década de 1990, muitas de suas
famílias foram vítimas de remoção forçada e tiveram suas casas
destruídas na localidade chamada Acurizal. O esbulho foi feito por
pessoas a serviço da ONG Ecotrópica, que a época também posava de
defensora do Pantanal e sua biodiversidade.
Em quinto lugar, desde os anos 1990 que registramos a ausência do apoio
de ONGs indigenistas. Até aquela década, contávamos com assessoria e
ajuda do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Kaguateca (Associação
de Índios Kaguateca Marçal de Souza) e outras entidades. Elas nos
ajudaram nas lutas iniciadas em 1976 na cidade de Corumbá, que
culminaram com a regularização fundiária da Terra Indígena Guató,
localizada na Ilha Ínsua, onde há o Destacamento de Porto Índio, do
Exército Brasileiro, com o qual mantemos boas relações.
Em sexto lugar, embora saibamos da existência do Ministério dos Povos
Indígenas, criado no início do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, até o momento não registramos qualquer ação positiva desta pasta
em nossas comunidades, sequer uma visita para tomar ciência da realidade
enfrentada pelas famílias do povo Guató. As principais notícias que
chegam até nós são de ações político-partidárias, para tentar destituir
o Prof. Elvisclei Polidório do cargo de Coordenador Regional da FUNAI em
Campo Grande, favorecer familiares e emplacar candidaturas às eleições
deste ano. Seria de bom alvitre para nossas comunidades se o referido
Ministério ou outra pasta governamental nos enviasse, emergencialmente,
combustível e conjuntos básicos de equipamentos de proteção individual
para o combate a incêndios.
Em sétimo lugar, iniciativas parlamentares de aprovação de certas leis,
como a Lei Transporte Zero (Lei n. 12.197/2023) em Mato Grosso, o
Projeto de Lei do Pantanal em Mato Grosso do Sul e a proposta de
Estatuto do Pantanal que tramita no Congresso Nacional (Projeto de Lei
n. 5.482/2020), dentre outras, jamais foram pensadas em atenção ao nosso
modo de vida e sequer fomos devidamente ouvidos para isso. O que
observamos sobre o assunto são pessoas posando de "experts" e defensores
do Pantanal, e ávidos por curtidas, comentários e compartilhamentos de
postagens nas redes sociais. Até agora, nenhum deles veio a nossas
comunidades para saber da realidade enfrentada no dia a dia e nos ouvir
a respeito da proteção e preservação do Pantanal.
Dito isso, conclamamos as autoridades e órgãos do Estado Brasileiro que
venham ao nosso encontro, ajudando-nos a preservar o Pantanal e
socorrendo-nos neste momento em que muitas partes do Guadakan ardem em
chamas por conta dos incêndios.
Pantanal, 1º de Julho de 2024.
Coordenação do Conselho de Lideranças do Povo Guató no Guadakan/Pantanal
https://federacaocapixaba.noblogs.org/post/2024/07/06/nota-do-conselho-de-liderancas-do-povo-guato-sobre-os-incendios-que-destroem-o-pantanal/
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