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The.Supplement
{Info on A-Infos}
(pt) O anarquismo na argentina informe para a revista Perspectives (USA)(ca)
From
a-infos-pt@ainfos.ca
Date
Mon, 29 Sep 2003 21:39:23 +0200 (CEST)
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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
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[de CMI Brasil]
Por Fernando Lopez Trujillo (CeDInCI), Buenos Aires.
Argentina 2001-2003: Crises e expectativas
Alguns apontamentos sobre o movimento libertário em erupção
Os sucessos de 19 e 20 de dezembro de 2001 na Argentina se inscrevem na
crise de legitimidade das instituições políticas latino americanas, e em
particular, do regime democrático surgido da sinistra ditadura '76-'83.
Das ditaduras militares que sofreram nossos povos nos anos '70 surgiram
democracias débeis sujeitas à chantagem de militares que não terminavam de
ir do poder. Estas democracias restringentes chegaram para legitimar a
violenta concentração da riqueza que as ditaduras haviam produzido em
beneficio de uma classe parasitária cada vez mais restringida e
onipotente. As promessas dos políticos populistas de uma maior
redistribuição social -quando na realidade buscavam cristalizar a
repartição do PBI limitando seus aspectos mais regressivos- se frustraram
com a continuação de um sistema que ao par que reduzia o mercado e
condenava ao exílio da exclusão à milhões, concentrava a renda fazendo aos
ricos mais ricos e mais poderosos. Nos anos '90, durante o "menemato", a
privatização das empresas públicas à preço vil, a reconversão do Estado e
a precarização da legislação trabalhista, levou ao desemprego um quarto de
toda a população economicamente ativa, somando-se a uma porcentagem
similar já excluída do mercado.
Em 1999, a Aliança radical-frepasista [1] fazendo utilização em seu
discurso político das taras produzidas por dez anos de menemato,
prometeram varrer a corrupção do aparato de Estado, da Justiça, do
Parlamento, e elevar a qualidade de vida da população. Porém seu
incendiário governo, recém empossado desatou um formidável ajuste do
Estado aprofundando o estancamento econômico dos últimos quatro anos.
Pronto, começa a desmanchar-se a frente política, o próprio
vice-presidente da nação renuncia frente às manobras corruptas do
executivo a suas colunas no Senado [2]. Um feito que termina de provar que
a segunda parte das promessas de campanha, a moralização da vida pública e
o combate à corrupção tão pouco eram prioridade desta administração. Desde
o meio dos anos '90 muitíssimos economistas haviam advertido que o "casaco
de força" colocado à moeda com a lei de Convertibilidade, que teoricamente
transformava cada peso da economia em um dólar, era falso; que a
produtividade era distinta, que o retrocesso que produzia a cotização
desalentaria qualquer reativação da economia e que tenderia a estalar á
qualquer momento já que só poderia financiar-se com ingressos de divisas
que se haviam cancelado[F1] depois do "Festival das Privatizações"
públicas e agora só podiam vir de um endividamento externo insuportável. A
princípios do 2001 já esta tensão era tão aguda que transcorria a conta
regressiva para uma quebra inexorável do sistema, sem dúvida, o governo
radical o seguia negando ao mesmo tempo que aprisionava os depósitos
bancários (que teoricamente eram dólares) para evitar uma "corrida" que
viciara um sistema financeiro que não tinha capacidade de entregar esses
dólares ao mercado. O "corralito" que imobilizou depósitos e chegou em
seus últimos tempos inclusive à todas as contas bancárias afetando não só
a toda a classe média, senão ao conjunto dos assalariados [3], constituiu
um elemento de peso no crescimento da irritação popular que estourará em
fins de 2001.
Em dezembro desse ano, o governo pretendeu responder à mobilização popular
crescente com uma repressão que se correspondia com a envergadura do
consenso que esta mobilização começava a ter. Assim, ao par da repressão
aos piquetes e outras atividades dos excluídos, se somou uma campanha de
desinformação tendendo a equiparar à mobilização popular com uma operação
política de desestabilização institucional conduzida pela oposição
peronista. Oposição que, bom é remarcar-lo, não havia feito outra coisa
nestes dois anos, que apoiar o saque ao povo desde seus lugares de
privilégio no Parlamento e na Corte Suprema. Pela primeira vez em nossa
história uma "Declaração de Estado de Sitio" foi contestada por uma
mobilização popular tão massiva e multissetorial, que a tornou inoperante
e foi derrotada em silêncio pouco depois. Em certo modo, foi o supremo
símbolo de desobediência ao Estado e suas instituições, e desatou um sem
número de experiências autogestionárias e de auto governo que se
desenvolveram com distinta fortuna ao longo de todo o país.
Esta introdução é só uma resumida síntese da emergência que determinou a
renúncia de De la Rua o processo de transição que vivemos. A palavra
transição parece sugerir um "telos" para onde nos encaminhamos, as
evidências da realidade tornam por enquanto muito confuso prever um
destino para esta sociedade que se desenvolve como um laboratório a céu
aberto dos efeitos mais perversos da globalização em curso.
¿Quais são os pontos desta mobilização popular? ¿tem referentes
organizativos de alguma experiência ou é pelo contrário totalmente
espontânea e inorgânica?
Por um lado a mobilização de dezembro que continuou em forma intermitente
durante os meses de janeiro e fevereiro de 2002[F2], pode ser
caracterizada como espontânea, policlassista e pluralista. Sem dúvida o
elemento detonante do movimento foi o próprio discurso de De la Rua
declarando o "Estado de Sitio", que foi contestado -¡minutos depois!- pela
indignação de milhares de portenhos que saíram à rua manifestando-se
contra a burla que esse discurso significava. O espetáculo da gente na rua
multiplicado pelos meios de comunicação levou às ruas milhões em todo o
país com panelas e qualquer troço que pudesse ser golpeado. Não teve
líderes, nem convocantes. Ninguém pode reivindicar sua paternidade, e
talvez os partidos opositores -a esquerda incluída- foram os mais
surpreendidos pela súbita explosão. Não havia consígnias prévias e, a que
foi adotada majoritariamente : "Que se vayan todos" - palavra de "ordem"
muito simpática para os anarquistas- não tinha, sem dúvida, conteúdo
concreto.
Por outro lado, também é certo que os novos agrupamentos de desempregados
conhecidos com o nome generalizador [4] de "piqueteros", que se
desenvolveram na última década de destruição sistemática das fontes de
subsistência da população, foram a vanguarda de uma agitação que começou
muito antes dos feitos de dezembro. A novidade foi que, desde o final do
governo De la Rua, aquele movimento conseguiu uma notável visibilidade
que, em fins de dezembro se converteu em simpatia popular.
Outra das novas formas que assumiu o protesto foi a generalização de
Assembléias Barriais com uma pretensão de autogoverno que ainda quando se
demonstrou desmedida em quanto a suas possibilidades reais de gestão,
permitiu uma politização e uma prática de discussão à setores sociais
alijados de tais práticas desde da longínqua tormenta repressiva dos anos
'70. Esta forma de democracia -que muitos vizinhos assumiram como
reemprego das formas comunais de organização política- só abarcou a cidade
de Buenos Aires e seus arredores. Um conglomerado nada desprezível de
cerca de 12 milhões de habitantes. No interior o intento foi mais
desequilibrado somando casos isolados em La Plata e Rosário.
O movimento anarquista percebeu em seguida as possibilidades que um
movimento espontâneo destas características tinha, adaptando-o como um
meio natural para sua inserção e propaganda. Assim, participaram em muitas
assembléias da cidade e do subúrbios militantes de agrupamentos
anarquistas como a Federação Libertária Argentina [5] e os grupos que ela
conecta, e a Biblioteca José Ingenieros [6] um grupo pequeno mas muito
dinâmico. Tentaram à partir dessa atividade gerar algum tipo de
coordenação interna que não pode superar a lenta dissolução da
experiência, que foi perdendo entusiasmo e participação na mesma medida em
que os partidos tradicionais da esquerda buscavam sua cooptação, esforço
que finalmente resultou em seu afogamento definitivo. Apesar de ainda
manterem sua inserção nos remanescentes daquela experiência, assembléias
que se consolidaram desenvolvendo um trabalho cultural, canalizando ajuda
para as famílias mais fracas e apoiando os empreendimentos produtivos em
fábricas ocupadas [7]. É o caso das Assembléias de Palermo Viejo, Floresta
e da del Cid Campeador, entre outras. Uma síntese da atividade libertária
na Capital Federal e na Grande Buenos Aires [8], deveria incluir à FORA
(Organización Obrera) [9] que além do local no tradicional bairro de La
Boca na Capital, conserva grupos associados em San Martín GBA, Cholila e
Esquel [10], separada daquela se conserva a Sociedade de Ofícios Vários de
Hurlingham GBA; a Organização Anarquista Liberdade de Avellaneda GBA
(Libertad); a Organização Anarquista Bandeira Negra e a União Fraternidade
Anarquista de Berisso GBA (Bandera Negra); o grupo Nova Aurora que publica
uma revista cultural libertária do mesmo nome e a Organização
Revolucionária Anarquista do bairro de Flores na Capital (Resistencia).
Mais sistemático e de mais longo fôlego é o trabalho de organizações
específicas. É o caso de AUCA [11] com influência em La Plata e zonas do
sul da Província de Buenos Aires e da OSL Organização Socialista
Libertária com cede na Capital Federal e GBA. Esta última é herdeira como
eles mesmos se definem "das propostas da organização dos anarquistas-
declarados por Bakunin, esboçados por Malatesta, desenvolvidos pelo grupo
de ucranianos Dielo Trouda no exílio e reconhecidos pela Federación
Anarquista Uruguaya em 1955 inserido na prática latinoamericana [...]
propõe um anarquismo produto da luta de classes, uma ferramenta para a
militância política, social e popular, classista e revolucionária" [12].
Se constituiu em meados de 1996 com o nome de CAIN Agrupação Anarquista.
Em novembro de 1997 começam a publicar mensalmente seu periódico En la
calle [13], em conjunto com AUCA de La Plata e a OAR (Organização
Anarquista de Rosário). Esta coordenação se manteve até setembro de 2000
quando AUCA a abandona, em setembro de 2001 também a OAR abandona esta
coordenação [14], desde então En la Calle é o orgão oficial da OSL. Hoje,
colocam um grande esforço no movimento piquetero. Neste sentido buscam
incidir no rumo destas lutas desenvolvendo uma corrente própria no
Movimento de Trabalhadores Desocupados* Aníbal Verón, sem excluir o
trabalho em outros agrupamentos de desempregados. Sua atividade leva a
denunciar o verdadeiro caráter do desemprego, difundir as experiências
destes movimentos, insistir na unidade do movimento e reivindicar as
demandas e métodos que contribuam à criação de poder popular. No mesmo
sentido impulsionam a conformação de projetos produtivos autônomos de
auto-subsistência que sejam gestores de novas pautas de sociabilidade.
Também desenvolvem trabalho no plano sindical promovendo a democracia
operária, a horizontalidade e o federalismo.
AUCA - socialismo libertário, "é uma organização que se reconhece dentro
da tendência organicista, anarco-especifista, [...] Que supõe em linhas
gerais a união de todos os militantes libertários em um mesmo coletivo, em
um mesmo corpo orgânico, tentando introduzir o anarquismo em todos os
processos sociais onde se expresse a luta de classes." [15] Desde o ano
2001 editam seu periódico Ofensiva Libertária [16]. Seu trabalho no
movimento de desempregados conta com uma corrente própria, o Movimento de
Unidade Popular com participação em 10 bairros de 3 partidos (jurisdições)
do sul da periferia Bonairense e La Plata. Ali desenvolvem atividades de
propaganda e organização: os comedores, as hortas, oficinas de capacitação
e apoio escolar; atividades políticas como as assembléias e os cursos de
formação política; e atividades econômicas como os projetos produtivos
[17]. Aguanegra se denomina a agrupação com a que se inserem no movimento
estudantil e universitário de La Plata. Desenvolvem seu trabalho político
nas Faculdades de Jornalismo, Bellas Artes, Humanidades, Serviço Social e
Direito.
Ambos agrupamentos -AUCA e OSL- participam no movimento de HIJOS [18], e
outros organismos de direitos humanos e de luta contra a repressão
policial. É menor a atividade no interior do país. Além do já mencionado,
existe atividade em Mar del Plata: Biblioteca Juventude Moderna e o Grupo
Anarquista Marplatense; em Rosário a Biblioteca Alberto Ghiraldo (Revista
Archivo) e o Grupo Autogestionário (Revista Ideacción); em Córdoba aos
fins dos '80 funcionava um Partido Anarquista Buenaventura Durruti cujo 2°
congresso se efetuou em setembro de 1989, subsiste a atividade da
Cooperativa Agrícola CARACOL e o GRANCO Grupo Anarquista de Córdoba; em
Neuquén há bastante atividade através da ONAS Organización Neuquina
Antonio Soto [19] e o grupo Colectivo Feminista Libertario "Kasandras" e
mais ao sul em Bariloche (Prov. de Río Negro) funciona como grupo de
bairro com uma biblioteca o MALO Movimiento Anarquista de liberación
Obrera [20].
Todos estes movimentos e grupos são distintos em sua concepção e ainda de
difícil confluência, constituem às vezes correntes que tem estado
separadas desde muitos anos. Pero seu relativo desenvolvimento e
crescimento se nutre da ascensão do movimento social e da ânsia deste por
organizar-se horizontal e democraticamente. Uma equação tão sincera,
compartida por todo o espectro dos movimentos político-sociais e da nova e
velha esquerda, se transforma em expectativa pura e simples. Muitas vezes
desmedida enquanto à avaliação positiva do movimento libertário na
sociedade. Quando digo libertário quero ser todo a amplitude que o termo
permite como para incorporar o movimento geral da sociedade para formas
mais livres, participativas e democráticas. As últimas eleições, ainda que
acidentadas e fruto da emergência, deram início a este processo de
re-institucionalização e re-legitimação do Estado. O novo governo
respondeu rapidamente e com decisão frente a sentidas demandas sociais.
Ainda que, os novos movimentos sociais não têm perdido por ele
legitimidade e pressionam a este Estado gerando espaços de autonomia. Na
medida em que tais espaços de autonomia se desenvolvam mais imperioso será
para os grupos políticos do campo popular a necessidade de pensar na
gestão, na administração, e na recusa do Estado. É possível imaginar que
existe um amplo campo de desenvolvimento para uma nova esquerda que faça
confluir o movimento especificamente anarquista com outros emergentes
político sociais e culturais componentes de um mais amplo movimento
libertário e autogestionário.
[1] Em 1999 o peronismo, no governo desde 1989, enfrentou nas urnas a uma
coalizão da UCR (Unión Cívica Radical centenário partido
liberal-progressista) e a FREPASO (Frente País Solidário) um conglomerado
de peronistas dissidentes, social-democratas e progresismos vários, que
deu na denominada Alianza.[2] Que o mesmo vice presidente conduz.
[3] A bancarização total da economia foi disposta durante o governo
menemista pelo mesmo ministro de economia do governo posterior da Alianza
Domingo Cavallo, e estabeleceu que ainda o pagamento do jornal mais barato
da economia ou qualquer remuneração deveria ser canalizada por conta
bancária, o que enriqueceu aos bancos com uma milionária clientela nova e
involuntária.[4] Porque só faz referência à modalidade de luta mais freqüente. A
atividade dos excluídos é por sua mesma definição invisível para os meios
de comunicação de massa, a aposta acertada destes movimentos à interrupção
do trânsito de pessoas e mercadorias nas estradas do país, impôs uma
visibilidade que os meios de comunicação de massa (em mãos de consórcios
nacionais e multinacionais) tentavam ocultar.[5] Publica o mensuário El Libertario.
[6] Publica Desde el pié. Daqui adiante as publicações de cada grupo
constam entre parêntesis. (QUITAR)[7] Fábricas quebradas -às vezes fraudulentamente- e abandonadas por seus
proprietários que foram ocupadas por seus funcionários e postas a
trabalhar com formas de autogestão.[8] Daqui pra frente GBA.
[9] Entre parêntesis o nome de suas publicações. As têm mensais,
bimestrais e sem regularidade nenhuma.[10] Estes últimos na Província de Chubut.
[11] "Rebelde" na língua Mapuche.
[12] Citado de um documento interno dessa organização.
[13] O último n° com o que contamos é o "47" de abril de 2003. É uma das
publicações mais regulares no movimento atual.[14] Muito provavelmente por problemas internos do grupo rosarino.
[15] Citado de um documento interno dessa organização.
[16] Na frente gremial contam com o boletim Mate Cocido.
[17] Na Capital editam o boletim La Voz de los sin voz em conjunto com as
Milícias Culturales Autónomas e o Colectivo Editorial Desalambrando.[18] H.I.J.O.S. (Hijos por la Identidad y la Justicia contra el Olvido y
el Silencio) [AGREGAR] é um dos organismos mais dinâmicos do Movimento de
Dereitos Humanos.[19] É o nome de um militante anarquista que liderava nos anos ´20 as
greves patagônicas.[20] Esta resumida síntese deixa sem dúvida fora atividades que para serem
resenhadas requerem uma investigação de mais longo fôlego, pedimos desde
já desculpas e recolocamos que qualquer omissão não há sido intencional.* Desempregados
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