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(pt) [Parte I]Entrevista com Pier Francesco Zarcone, militante da seção de Roma (Itália) e membro do Conselho dos Delegados da Federação de Comunistas Anarquistas (FdCA)

From "Moésio Rebouças" <m_reboucas@yahoo.com>
Date Wed, 5 Nov 2003 11:57:16 +0100 (CET)


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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
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Agência de Notícias Anarquistas > Faça uma breve trajetória da FdCA
nestes anos. Quantos grupos integram a FdCA?

Pier Francesco Zarcone > As duas perguntas são ligadas, e devemos fazer
um pouco de história. A Federação dos Comunistas Anarquistas de Itália
foi constituída em 1986 a partir de vários grupos pré-existentes.
Declara-se plataformista. Os leitores poderão consultar a sua página na
Internet em: http://www.fdca.it/. A FdCA nasceu da fusão entre a O.R.A.
(Organização Revolucionária Anarquista) e a UCAT (União dos Comunistas
Anarquistas da Toscana). Naquela altura a ORA tinha já 10 anos de vida e
secções em várias regiões de Itália; a UCAT 5-6 anos de vida na Toscana.
A FdCA constitui a mais recente e completa experiência organizativa dos
comunistas anarquistas italianos. É uma federação de militantes: os
vários militantes numa mesma cidade formam uma seção. É fundamento da
organização partilhar teses fundamentais: por isto há unidade de teoria,
estratégia de fundo e política, táctica. Acerca da estratégia política e
táctica o debate está sempre aberto e alimenta a definição do programa da
organização. A atividade política dos militantes desenrola-se no respeito
pela
responsabilidade coletiva. O órgão de decisão é o Congresso Nacional.
Neste, tomam-se às decisões em matéria de teses políticas, publicações,
órgãos internos (redação, comissões etc.), elege-se o Conselho dos
Delegados que coordena a gestão da organização entre um congresso e
outro, conforme as decisões tomadas no Congresso. O Conselho dos
Delegados elege no seu interior o Secretariado Nacional, com tarefas de
representação e de coordenação da atividade da Federação.

Os militantes mais idosos da FdCA entraram na cena política nos anos
68-69, anos de lutas do movimento operário e estudantil; e portanto
ressentiram o empurrão daquela altura: um empurrão libertário mas
sobretudo classista que estes movimentos expressavam. Estes militantes,
aproximando-se do
anarquismo, encontraram uma organização de síntese, a Federação
Anarquista Italiana (FAI) que, se aparentemente oferecia espaço, na
realidade não era (nem é hoje) uma organização, mas um conjunto de
individualidades
tendencialmente individualistas. As leituras históricas sobre o
anarquismo italiano e internacional mostravam, pelo contrário, uma
continuidade do anarquismo comunista e classista o que, desde a Primeira
Internacional, passava por: as lutas sociais em muitas partes do mundo no
início do século XX, antes e depois da revolução russa; o biênio vermelho
em Itália; o anti-bolchevismo e anti-estalinismo; a revolução mexicana
primeiro e depois a espanhola. Em Itália, a continuidade do comunismo
anarquista foi quebrada por muitos acontecimentos, entre os quais o mais
desastroso foi, sem dúvida, a influência econômica do anarquismo
anti-organizativista e aclassista ítalo-americano ligado ao jornal de
Nova York “L’Adunata dei Refrattari”, durante o fascismo e no pós-IIª
Guerra. Uma “rebelião” contra aquela tendência que ocorreu no anarquismo
italiano nos anos 50 originou a organização de tendência chamada Grupos
Anarquistas de Ação Proletária (G.A.A.P.), com ótimos militantes que se
dispersaram após a “caçada” fora do anarquismo “oficial” feita pela
F.A.I.. Felizmente, muitos destes militantes continuaram uma ação de
classe apesar da “excomunhão”,
disponíveis para narrar, para reavaliar as experiências de ontem e dos
inícios dos anos 70. Neste momento, alguns companheiros começaram a
estudar a história do anarquismo italiano, partindo dos ótimos estudos de
Masini (não é por acaso que foi um dos militantes mais destacados dos G.
A. A. P.) e prosseguindo com a obra da nossa companheira Adriana Dadá.

O seu livro, “O anarquismo na Itália: entre movimento e partido” foi um
virar de página nos estudos sobre o anarquismo italiano. Aí se põe em
evidência, não apenas as bases comunistas do anarquismo, mas também a
teorização inicial do dualismo de organização na própria Itália durante a
Primeira Internacional, com os seus teóricos máximos, desde Bakunin a
alguns dos seus correspondentes tais como Celso Cerretti, a quem Bakunin
escreve uma carta esclarecedora sobre esta temática. Acerca do
plataformismo na área italiana, Dadá conseguiu trazer à luz novos
materiais que logo trouxeram novos elementos para a história do
anarquismo, até então toda ela centrada em torno do papel de Malatesta -
mediador sintetista de todas as tendências. Adriana Dadà descobriu que os
próprios Fabbri, Fedeli e outros tinham estado em contato com Archinov,
com a publicação das atas de reuniões realizadas na região parisiense.
Também os estudos sobre o período fascista, quer sobre companheiros
presos ou!
sobre o exílio daqueles que se expatriaram para fugir à morte, vieram
demonstrar recentemente a continuidade entre o anarquismo comunista e
classista de uma boa parte do movimento libertário de antes do fascismo e
dos debates nesses anos. Os companheiros da tendência comunista
anarquista, renascida nos inícios dos anos ‘70, na maior parte não se
deixaram atrair pela FAI, apesar das polemicas com as quais esta
organização tentou então cercear esta iniciativa, e deram continuidade ao
seu projeto desde então até hoje. A FAI, sendo sintetista e reagrupando
elementos heterogêneos entre si, enquanto tal, não é operativa e não
decide de nada, e muito menos nos seus congressos. Em conseqüência disso,
a contribuição dos seus elementos acaba por ser em boa parte inutilizada,
pois se trata de uma organização apenas formalmente presente: a sua
atividade e presença é apenas a dos seus membros individuais. Embora
numericamente maior e dotada de um semanário, a FAI sempre se manteve
longe de uma prática de classe e do movimento operário. Recentemente, tem
mostrado maior atenção pela luta sindical, pelo que iniciamos um percurso
de debate e iniciativas comuns, quando possível, entre a FAI e a FdCA.

O plataformismo inspira a nossa atividade em 4 aspectos:

- forte abordagem de classe e tendência à unidade de classe nas lutas

- análise atenta e aprofundada dos sujeitos em questão na luta e das
situações objetivas

- procura de uma linha comum e coletiva fruto de um debate nas secções

- prática do dualismo de organização, pelo qual se têm dado competências
e papeis distintos às organizações de massas do proletariado e à
organização política dos comunistas anárquicos, de modo a evitar
confusões e
sobreposições entre estas duas organizações

Cada secção da FdCA tem a sua atividade em relação com o território na
qual se encontra, embora a Federação se ponha enquanto força política em
relação com os movimentos e com outras realidades políticas.



ANA > Mas esse dualismo permite que militantes da FdCA participem de
partidos políticos?



Pier > Não, somos militantes anarquistas, e neste assunto vale o
pensamento anarquista com respeito aos partidos políticos.



ANA > A FdCA está implantada em toda Itália?

Pier > Não. Temos seções e militantes nestas cidades: Genova, Fano,
Pesaro, Cremona, Crema, Bologna, Roma, Firenze, Bari, Mantova, Rovereto,
San Vito al Tagliamento, Palermo. Concretamente a presença maior fica no
norte/centro de Itália.

ANA > Quais as principais lutas que estão levando a cabo neste momento?

Pier > A FdCA está ativa sobretudo no campo sindical, antimilitarista,
ambientalista, nas lutas por espaços sociais autogeridos e no movimento
anti-globalização, mas não fazemos parte do fórum social. Uma boa parte
dos seus militantes é ativista sindical (e através deles, a Federação age
no mundo do trabalho) quer na CGIL, quer nos sindicatos de base, quer na
promoção de associações e de coordenações de base dos trabalhadores ou
sindicalizados. A classe está hoje distribuída entre três confederações
tradicionais e 5-6 confederações de base. Num plano específico e pequeno
a USI mantém um caráter ideologicamente anarquista. A nós não nos
interessa uma guerra entre sindicatos porque retemos como
estrategicamente
fundamental a unidade da classe, para lá das siglas sindicais. Eis porque
procuramos promover coordenações de delegados, coordenações territoriais,
coordenações de ativistas sindicais libertários, para dar força a um
sindicalismo conflitual de prática libertária.

Contra os ataques do governo Berlusconi, a FdCA foi e está presente com
as suas posições e a sua luta através das quais se manifesta, como o
demonstrou empenhando-se ativamente na campanha do referendo para alargar
o Estatuto dos Trabalhadores a todas as empresas, tema acerca do qual a
FAI permaneceu dividida no seu interior entre aqueles que eram contrários
e os que eram favoráveis a participar no voto. E sobre o assunto não vi
que fosse tomada uma posição pela FAI.




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