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{Info on A-Infos}
(pt) [Soma-iê] Morto Roberto Freire, Viva Roberto Freire
From
somaterapia@uol.com.br
Date
Wed, 19 Mar 2003 20:30:39 +0100 (CET)
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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
http://www.ainfos.ca/
http://ainfos.ca/index24.html
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Manifesto de 2003, 13 anos de Soma-iê
1ª Parte - MORTO
"A indignação é meu primeiro sentimento". Esta frase de M.
Bakunin explicita o que venho sentindo há algum tempo e
agora resolvo explicitar de vez: minha relação com Roberto
Freire e a Soma.
Se por um lado Roberto Freire continua vivo e atuando tanto
na literatura quanto na psicologia, para mim ele morreu.
Este ano eu completaria 14 anos de relação com Roberto
Freire: um ano como cliente da Soma, dez anos trabalhando
juntos dentro do Coletivo Brancaleone, um ano separado do
Brancaleone mas sendo supervisionado e este último ano,
separado e envolvido em fofocas, que agora resolvo
explicitar. Em 2002 houve a morte lenta da relação, e agora
resolvo cremar o assunto. Este manifesto marca a entrada do
ano de 2003, sendo o último a entrar no CD-Rom/Livro
"Iêêêeee!!!", que pretendo publicar brevemente.
A frase que escolhi como título deste manifesto é uma
adaptação da frase que Freire criou quando caiu o Muro de
Berlin: Morto o socialismo autoritário, Viva o socialismo
libertário. O que parecia um triste fim das lutas marxistas
se mostrou um bom momento para lembrar o que o socialismo
libertário (anarquismo) sempre denunciou: que a proposta
marxista de socialismo de cima pra baixo não é possível,
como Bakunin prenunciou no início da revolução russa.
Uso dessa maneira esta frase de impacto pra explicitar o fim
triste da relação de amor e admiração que tive por Freire
desde 1990. E explicitar, por outro lado, a admiração e amor
que TENHO por Freire: a pessoa que foi e suas obras, a
somaterapia e vários de seus livros. Roberto Freire e a Soma
apresentaram uma forma de existência que mudou radicalmente
minha vida, emocional, profissional e politicamente. Sei que
aprendi mais na convivência que na terapia ou literatura,
mas até há pouco tempo, isto tudo era uma coisa só. Quando
conheci Freire, havia uma unidade entre seu comportamento e
suas teorias, hoje percebo que houve uma quebra, as teorias
se mantêm mas a prática mudou. Prefiro denunciar esse estado
de coisas agora para que Freire possa receber estas
críticas.
O ano de 2002 foi muito forte na minha vida. Da gravidez do
meu amor e por amor à minha produção resolvi nomear de
Soma-iê o trabalho que desenvolvo. No início de agosto de
2002 escrevi uma carta que entitulei Carta pra Ceci - uma
batalha pela soma que acredito. Foi uma carta direcionada ao
Freire e à minha filha que estava prestes a nascer. Na carta
falo da morte da minha relação pessoal com Freire e explico
os motivos para ele e para minha filha. Ao entregar a Carta
pro Freire em sua casa, lhe dei também uma garrafa de
absinto para ele brindar o fim da relação, uma forma de
buscar uma secessão anarquista, sem ressentimentos. Foi a
última vez que vi Freire pessoalmente.
Essa "morte" aconteceu num ambiente de fofocas a meu respeito
e minha produção; como Freire se negou sistematicamente a me
receber e esclarecê-las, e em respeito à sua saúde, optei por
oficializar para ele o fim de nossa relação. Como as
difamações aumentaram e Freire continua não disposto a
limpá-las, opto por trazer a público os detalhes desta
relação.
Em outubro, quando minha filha completou 12 dias, recebi um
e-mail assinado por Freire e outros três somaterapeutas.
Achei o conteúdo tão baixo que procurei me comunicar com
Freire, ao que ele disse, por telefone, não saber da
existência do e-mail e que iria procurar esclarecer o
assunto com o somaterapeuta João da Mata, um dos autores do
email. Informei a Freire que, de qualquer forma, responderia
ao e-mail publicamente, numa página da internet. A não
comunicação posterior de Freire me confirmou que, apesar de
não saber do e-mail, concordou com seu conteúdo ou já
concordava quando da sua emissão, pois na época que pertenci
ao Brancaleone, não tínhamos a prática de assinar pelos
outros sem seu conhecimento.
Se em 2002 foi difícil lidar com estes conflitos, 2003
começou pior ainda: recebi por correio um convite, em carta
registrada, para o lançamento da autobiografia de Freire, EU
É UM OUTRO. Divulguei o lançamento e estava ansioso para ir
e ver Freire pessoalmente, pois se morreu nossa relação
pessoal, tinha a esperança de ter novamente contato com o
escritor. Além disso, estava curioso para saber se e como,
eu era citado no livro. Quatro dias antes do lançamento
recebi uma comunicação indireta vinda da pessoa que mora com
Freire, o "Buí", me dizendo pra não aparecer no lançamento,
senão me expulsaria com os seguranças da loja. Procurei
esclarecer as fofocas ligando para o Buí. Depois de desligar
algumas vezes o telefone na minha cara, finalmente consegui
comunicá-lo que ameaças não me intimidariam e que eu só não
iria ao lançamento se o próprio Freire não quisesse minha
presença. Quando um cliente meu e de Freire fez o favor de
verificar a história diretamente, soube que Freire achava
melhor eu não ir. Não fui, mas pedi pr'uma amiga comprar o
livro e pedir um autógrafo. Este foi meu último ato de
interesse por Freire, em 11 de fevereiro de 2003.
Hoje existem alguns Freires, não os "outros" que ele cita
poeticamente no título e no corpo de sua autobiografia, mas
"outros" que estão matando o seu eu original: um que não quer
me receber e esclarecer fofocas, outro que escreve em seu
recente livro "Rui Takeguma afastou-se recentemente de nossa
equipe de somaterapeutas e executa um trabalho de Soma
independente do nosso e sobre o qual não tenho nenhuma
informação", sem falar de um Freire que diz ter se afastado
de mim por motivos financeiros. Sem falar na onda de
difamações praticadas por estas pessoas: João da Mata, Jorge
(no livro George) Goia, Vera Schroeder, Alcides (Buí) e Paulo
Freire.
Sobre as fofocas, elas só acontecem se existirem duas
pontas: quem pratica e quem recebe. Estes que praticam
mostram sua personalidade, os que recebem e não buscam
esclarecer se mostram tão medíocres quanto. Assim, as
pessoas que fizeram Soma nestes últimos anos e me conheceram
dentro do Brancaleone, quando ficam sabendo dessas histórias
atuais, mostram atitudes variadas: os que aprenderam algo
conosco e exercitam sua crítica individual procuraram os
dois lados do conflito e tiraram seu partido, outros ao
ouvir as fofocas cortaram as relações comigo sem
esclarecê-las. Estes mostram que a admiração por Roberto
Freire não se dava pela proposta do anarquismo, e sim por
uma idealização mítica de personalidade, que nós libertários
combatemos; outros ainda devem optar por um democratismo da
maioria, como eu estou só e o Brancaleone é composto por
três, dão razão a eles...Tentando ver como a personagem
Pollyanna do livro homônimo, que sempre via um lado bom nas
desgraças, acho que esta crise está servindo para que os
fofoqueiros e os que endeusam Roberto Freire se distanciem
de mim. Para aqueles com espírito crítico, continuamos
nossas relações, independente das relações que tenham com
aquelas pessoas.
O Freire que não quer me ver, receber ou dialogar é um
Freire morto que contradiz toda sua obra científica. A Soma
que aprendi e creio não mais existir a não ser na vertente
Soma-iê que venho desenvolvendo, sempre pregou uma
comunicação limpa e clara. Somos influenciados pela
antipsiquiatria que defende a sinceridade. Lutamos pela
clareza na comunicação humana, e a sinceridade é preferível
aos jogos e pactos de silêncio, por mais difícil ou dolorida
que seja. Se Freire na sua sinceridade não quer se comunicar
diretamente, quaisquer que sejam os motivos (esperei ainda
alguns meses, imaginando ser problema de saúde), isso mostra
que optou pelas fofocas mantidas pelos ditos anarquistas do
atual Brancaleone.
O Freire que escreve em seu livro que não tem nenhuma
informação sobre meu trabalho está morto, pois mente, ou por
estratégia ou por delírio. O livro foi lançado em fevereiro
de 2003 e independente da data da última revisão mandada
para a editora, há uma confusão de datas no seu interior:
Freire terminou o relato em 11 de setembro de 2001. A essa
época Freire trabalhava de forma independente e dava
supervisão a mim e ao grupo de somaterapeutas do Rio de
Janeiro, o Brancaleone. Em setembro de 2001, quando
inaugurei o Espaço Cultural TESÃO, Freire fez uma carta
convite para as pessoas conhecerem o espaço, inclusive
participando de um "chat" na internet, acontecido no TESÃO.
Assim, Freire fala de minha separação da Soma 'deles'
(Freire e o Brancaleone), o que ocorreu no início de 2002.
Em fevereiro daquele ano, mandei textos para Freire: o
manifesto da criação da Soma-iê e o artigo "Capoeira Qual é
a sua, Angola, Regional ou Contemporânea", onde faço várias
críticas indiretas à visão de capoeira praticada pelo
Brancaleone e descritas no livro de João da Mata.
Sintetizando, Freire sempre esteve a par de minhas produções
até na época do fechamento de seu livro; dessa forma ele
seria mais ético ou sincero se publicasse que NÃO QUER TER
informações do meu trabalho.
O Freire que ouço falar de fofocas veio aos poucos. Desde
2001 recebo fofocas do Brancaleone que tentei limpar
seguidas vezes. O buraco se mostrou mais embaixo e o que
parecia comunicação truncada se mostrou uma ética de jogos e
mentiras. Desde 2001 desisti de acreditar nos somaterapeutas
do Brancaleone. Todos os meus conflitos ficaram explicitados
em adendos ao manifesto do ano passado. Por acreditar em
Freire e procurar lhe poupar de nossos conflitos por sua
saúde debilitada (câncer e esclerose), só explodi em outubro
de 2002, como já comentei. As fofocas do Buí surgiram
repentinamente agora em fevereiro de 2003. Até há pouco
tempo atrás visitávamos seu espaço de capoeira, e quando
veio a participar da roda dentro do 3º Encontro da FACA
(http://f-a-c-a.vila.bol.com.br/3sampa), em agosto de 2002,
no nosso espaço, declarou publicamente que não tinha
problemas comigo. Mas o que me fez decidir a colocar TUDO de
vez na internet e explicitar todos os detalhes dessa
ladainha soma x soma-iê, ou Freire e brancaleone x Rui
Takeguma foi um e-mail de Paulo Freire, músico e filho de
Freire. Como até sua família me cobra assuntos de nosso
trabalho científico e político, acho melhor me manifestar
agora de forma completa. Este Freire que fofoca e manipula
para mim está Morto.
Pra não ficar mais chato e minucioso que já está, colocarei
o e-mail de Paulo Freire e todos os detalhes das fofocas
financeiras num site da internet (link aqui), que vou
colocar no ar no dia 1º de abril de 2003. Um presente para
este dia da mentira marcar a entrada de algumas
sinceridades. Neste site vou disponibilizar em detalhes os
textos, trocas de e-mails, as páginas do Brancaleone neste
período de 2001 a 2002 e meus pagamentos financeiros ao
Freire digitalizados, pois, nas fofocas que praticam, usam
uma questão financeira para tentar me invalidar eticamente.
À época do fechamento da antiga Casa da Soma contraímos uma
dívida seguindo princípios anarquistas de confiança,
sinceridade e comunicação com Roberto Freire e Denise Wal,
ainda não completamente paga, para os dois. Pra não ficar só
respondendo às fofocas do Brancaleone, desmistificarei as
relações financeiras e irei discutir nossas diferenças no
campo da pesquisa; a que o Roberto Freire e "sua" Soma
pratica está detalhada no livro recente A LIBERDADE DO
CORPO, de João da Mata. Separados há pouco tempo,
explicitamos à época divergências que antes entendíamos ser
pequenas, mas grandes o suficiente para inviabilizar a
convivência. Hoje considero que buscamos, na prática,
caminhos opostos. No site aprofundarei a pesquisa soma-iê na
capoeira e nossa opção em viver a pedagogia libertária
através da nossa produção pessoal.
No cerne desta discussão vejo formas políticas de se viver o
anarquismo. E o anarquismo é como a vida, não existe UMA
verdade, e sim a verdade de cada um e esta muda muito no
decorrer da vida. Aqui exponho a MINHA verdade, e o tenho feito
usando a internet. Este veículo contemporâneo está criando novos
paradigmas de troca de informações; tomando os "bloggs" como
exemplo, onde as pessoas abrem seus diários (algo tão íntimo
antigamente), eu também uso a internet como uma forma de
explicitar o poder de quem tem influências, mesmo dentro do meio
'alternativo' ou 'marginal'.
Repito o que tenho falado nos últimos meses: desafio Freire e Brancaleone
a debater idéias e limpar estas diferenças de visão, num debate público
com moderadores isentos. É lamentável que uma obra importantíssima que
Freire nos deixou, a Soma que está descrita nos livros A ALMA É O CORPO e
A ARMA É O CORPO, esteja se perdendo nas mãos superficiais de
Brancaleone. Infelizmente vejo que Freire, na sua morte, aplica o que
sempre combateu: o uso da fofoca contra a Soma, no caso contra a Soma-iê.
2ª Parte - VIVA
Roberto Freire tem uma importância cultural e política
gigantesca, mas como todo contestador, não é reconhecido á
seu tempo, ou enquanto vivo. Por isso digo e repito, Freire
estará vivo enquanto sua obra tiver uma validade. Admiro
Freire por sua literatura, especialmente os livros COIOTE e
OS CÚMPLICES I e II. Mas sua maior obra, a meu ver, foi o
desenvolvimento da Soma, conjunção de seus conflitos e
história pessoal, gerando uma mistura de ciência com arte.
Pela Soma houve o cruzamento de ciências marginais e
revolucionárias com a arte popular da capoeira angola, que
gerou uma pesquisa extremamente original. Freire,
justificado em suas deficiências físicas, se manteve à parte
da implantação da capoeira angola na somaterapia, que
produzimos num grupo de extrema radicalidade e unidade, o
Brancaleone de 1991 até 1997. Foram anos ricos em
experiências e trocas. Só que dentro dessa unidade,
fundamental inclusive para combater outros somaterapeutas
que se afastaram e desistiram de pesquisar a capoeira
angola, nasceu uma diferença na pesquisa da capoeira angola
e sua relação com a soma. Assim a Soma superara a crise de
implantação da capoeira angola, e tinha formado até 2000,
quatro somaterapeutas, Eu, e os três do Brancaleone: João,
Jorge e Vera. Pois nos formamos na década de 90 e fechamos a
base da pesquisa da capoeira angola. Se há dois anos atrás
Freire me declarava Somaterapeuta formado, hoje seu filho me
questiona ser Somaterapeuta e falar de seu pai.
Em 2000 essas diferenças se somaram a várias outras de
produção e na forma de viver a soma. O que poderia ser um
ambiente rico de diversidades e possibilitaria um grande
passo para a somaterapia, terminou com minha saída e de
Freire do coletivo Brancaleone. Se dentro do mesmo coletivo
fomos incompetentes em trabalhar essas diferenças, quando
separados a situação agravou-se. Em 2002 fui sincero com o
Brancaleone, pois minha sinceridade, na minha cabeça, poderia
fazê-los rever seus erros e abriria espaço para que eu
pudesse receber críticas gerando um apoio mútuo mesmo em
separados. Mas agora vejo que minha sinceridade foi um erro:
enquanto tive a estratégia de sair do Brancaleone para
continuar sendo somaterapeuta, o coletivo adotou a estratégia
de que, saindo do coletivo, eu sairia da soma; ao invés de me
verem como um ex-companheiro em vôo solo me viram como um
concorrente que precisava ser eliminado, típica competição
capitalista de mercado. Repito que vou destrinchar essa minha
visão subjetiva no site, trazendo exemplos objetivos, para
cada um criticar á sua maneira.
Assim, apesar dessa crise de fofocas, a Soma desenvolvida
por Freire e descrita em seus dois citados livros é genial e
está viva e pulsante, só que mudou de nome, chama-se agora
SOMA-IÊ. Acredito que quando produzirmos a atualização
científica dos conceitos da Soma, ficará claro que a junção
original de Freire, resgatando o lado político de Reich,
junto com a Antipsiquiatria, Gestalterapia e Anarquia,
formam idéias que estão presentes nas pesquisas de ponta da
atualidade. A pesquisa científica da Soma está descrita, num
linguajar acessível, em três livros fundamentais: UTOPIA E
PAIXÃO, SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO e AME E DÊ VEXAME.
Freire fez, em sua obra, uma revisão dos conceitos afetivos
mostrando a política por trás do amor. Segundo Jaime Cubero,
um dos grandes conhecedores do anarquismo de seu tempo,
Freire tem uma contribuição das mais avançadas na área
libertária a respeito do afeto. Um exemplo da
contemporaneidade das pesquisas de Freire pode ser visto
dentro da biologia, em que vem nascendo uma área denominada
"biologia da cognição" (onde destacam-se autores como
Maturana e Varela) na qual neurocientistas investigam a
importância do amor e da emoção. Pretendo atualizar essas
pesquisas da soma em um futuro livro, a ser publicado em 2004
onde explicitarei a pesquisa Soma-iê.
Roberto Freire está vivo, e para que ele seja lembrado e
homenageado, inaugurei em fevereiro de 2003 a BIBLIOTECA
ROBERTO FREIRE. Na minha separação do coletivo, como fui o
único a manter o projeto da biblioteca, herdei os livros que
Freire acumulou nos últimos anos de pesquisa da soma. Agora
inaugurada, 12 anos depois de ser idealizada e depois de
inúmeras tentativas frustradas de organizá-la, vem recebendo
apoio do comércio local da Zona Oeste de SP. Trabalho para
que ela cresça e para que, nos próximos meses, possa se
manter economicamente.
Roberto Freire está vivo, pois suas idéias em pedagogia
libertária continuam atuais e gerando frutos.
Roberto Freire está vivo, pois se fui um "querido outro do
meu Eu", como disse o próprio Freire em sua autobiografia,
ele ainda é o mais querido dos meus outros Eu, agora junto
de Cleiri e Cecí.
Concluo esta parte do manifesto esclarecendo que não vejo
incoerência em Freire estar vivo e morto. Há muitos anos
atrás Freire me confidenciou que tinha medo de, na sua
velhice, terminar como sua mãe, esclerosada e saindo da
realidade; uma dessas experiências é relatada na
autobiografia citada. No ano passado, quando Freire me
informou que teve a esclerose diagnosticada pelo seu médico,
lembrei da história de sua mãe; quando me disse do seu
câncer, isso me remeteu de imediato às teorias reichianas
que associam câncer à desistência. Reich afirmou que o
câncer de Freud se deu pela desistência deste em pesquisar
revolucionariamente e optar pela aceitação social da
psicanálise. A história muda mas se repete, hoje a opção
deste Freire morto é a aceitação acadêmica da Soma. A
Soma-iê se orgulha de estar em caminho oposto: a
radicalidade pela pedagogia libertária. Relutei alguns meses
em perceber como as atitudes de Freire apoiando a
mediocridade do brancaleone já eram atos esclerosados. A
partir do lançamento de sua autobiografia e dos incidentes
que a cercaram resolvi denunciar a morte de Freire.
Concluo que, devido à esclerose, Freire morreu. E para este
Freire esclerosado não ficar na história, opto por denunciar
a mediocridade que o cerca, pois ele é o único doente. Seus
companheiros atuais me parecem ter atitudes reacionárias que
os movem a fofocar e invalidar o Freire que existiu. E este
Freire que conheci e convivi de 1990 a 2001 que quero
preservar vivo. Se Morta a Soma, Viva a Soma-iê.
3ª Parte - SOMA-IÊ (13 anos em 1)
Se ano passado acrescentei o sufixo "-iê", ao nome da minha
prática científica, luto hoje contra o criador da própria
soma, para defender o que acredito. A Soma criada pelo
Freire revolucionário hoje é praticada por um coletivo
medíocre que se acomodou na pesquisa e investe hoje no
academicismo apoiado pelo Freire esclerosado, que já não
possui grupos de terapia há muitos anos, e não possui mais a
competência para corrigir os desvios de seus
supervisionados.
Percebo que depois de fazer minha terapia somática, primeiro
como cliente, depois como assistente e terapeuta, a terapia
é um processo permanente de criação de estratégias para
ampliar os libertarismos no cotidiano. Desde então venho
desenvolvendo o que chamo de Soma-iê; só a técnica mudou de
nome por questões políticas destes conflitos com Freire.
Assim, afirmo que a Soma-iê possui doze anos de existência,
oito de raízes e quatro de asas. Curioso é que, em 1990,
quando Freire estava em conflito com os outros terapeutas, e
eu era um recém-chegado na formação, ele me perguntou minha
opinião sobre a mudança do nome da técnica para "Soma de
Angola". Afirmei que, por ele ter criado a Soma, os outros
terapeutas é que deveriam mudar de nome.
Treze anos depois, mudo de nome (consulte o manifesto de
2002), e depois de um ano de muita produção, parecem que
foram 13 anos de batalhas. Assim relembrando:
- relançamento do Jornal Tesão - produção em pedagogia libertária
no jornalismo, que este ano amplia sua independência editorial. Em 2002
voltou com numeração zerada, teve oito números no decorrer de 1993 a
1998.
- Manutenção do Espaço Cultural TESÃO - enquanto outros espaços
libertários abrem e fecham, o TESÃO completará em 2003 dez anos de
atividades contínuas, sendo inclusive o único Espaço dedicado a
Somaterapia no Brasil. De 1993 a 2000 na r. Dr. Cândido Espinheira, 2000
/ 2001 na r. Faustolo e 2001 / 2003 na r. Caiubi.
- Lançamento da Campanha SALVE O TESÃO, que busca através de um
serviço de venda de livros e revistas, a ajuda da manutenção do espaço
físico (aluguel). Estaremos ampliando a Campanha para manter o espaço
cultural num projeto de uma LIVRARIA VIRTUAL, com os últimos lançamentos
do movimento anarquista e temas afins.
- Relançamento do PRÊMIO WALTER FIRMO DE FOTOGRAFIA, aplicação da
pedagogia libertária na arte fotográfica - em março de 2003 se encerram
as inscrições do quarto certame. Os 3 primeiros aconteceram de 1996 a
1998.
- Formação da Federação Anarquista de Capoeira Angola - FACA, um
desenvolvimento natural da pesquisa da capoeira angola em pedagogia
libertária, que em novembro de 2002 gravou seu primeiro CD, o Faca de
Ponta. Neste 2º ano pretendemos iniciar um grande arquivo aberto de
pesquisa multimídia de capoeira angola, socializando informações no
universo da capoeira.
- Inauguração da BIBLIOTECA Roberto Freire, cujo acervo pode ser
consultado através da internet. Estamos buscando patrocinadores locais e
futuramente, de qualquer região, para ajudar a manter este espaço
cultural libertário.
- Para este ano, abertura de novos grupos de somaterapia nos
estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, com possíveis investimentos
em outras capitais. Pretendo iniciar a formação de novos somaterapeutas
com essa radicalidade política e científica.
- Para MARÇO de 2003 pretendo finalizar o CD-Rom/Livro
"Iêêêeee!!! - Capoeira Angola e outros anarquismos", onde mostro a
pesquisa de base da soma na capoeira angola, que serve de preparação para
o livro com minha pesquisa, previsto para 2004.
Apesar dos pesares, a vida continua...
e quem viver verá...
Rui Takeguma,
Carnaval de 2003, Espaço Cultural Tesão SP - publicado na WEB em
15/02/2003 (http://cultura.tesao.vilabol.uol.com.br/mortoviva.html)
Dúvidas, críticas, escreva para somaterapia@uol.com.br
Obs. Este manifesto nasceu inspirado nas frases que finalizam o filme
"Malcom X", nelas Martin Luther King e Malcom X , dizem que não devemos
usar a violência; mas se atacados violentamente não nos defendermos,
seremos burros.
Obs2. Outro título possível para este manifesto: Morta a Soma, Viva a
Soma-iê
Obs3. Se alguém me achou 'duro' com o Roberto Freire, leia o texto
Uni-vos contra os velhos no poder!, do livro Tesudo de todo o mundo,
Uni-vos! de 1995, onde ele mesmo se critica e denuncia a velhice
política, que não tem a ver com a idade física, mas na maior parte das
vezes são coincidentes. Freire sempre foi, a meu ver, mais jovem que eu,
e agora me parece que ele adoeceu, como falo neste manifesto, ou
simplesmente envelheceu, como ele fala em seu livro.
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