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(pt) A BATALHA #199: ANÁLISE DO FÓRUM SOCIAL PORTUGUÊS

From A BATALHA <jornalabatalha@hotmail.com>
Date Mon, 14 Jul 2003 17:51:37 +0200 (CEST)


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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
http://www.ainfos.ca/
http://ainfos.ca/index24.html
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Por Manuel Baptista
Não vejo que seja uma iniciativa política e social interessante.
Acho que para o ser teria de partir de uma dinâmica genuína, das
bases, das organizações sociais, elas próprias impulsionadas
pela própria população.
O que vejo desde há 1 ano é basicamente arranjos entre grupos
políticos e partidários, para partilharem o bolo mediático do
Fórum.
Recordo que há cerca de um ano, um dirigente do BE me
confidenciava que já tinham conseguido "registar" o nome de
Fórum Social português, com medo que lhes roubassem a patente!
A minha concepção de organização “não autoritária” não passa por
tais arranjos entre direcções políticas, onde as 'estrelas' e os
membros que estão na organização em nome de sindicatos,
associações, etc. ... são repartidos em negociações entre
cúpulas e sujeitas a toda a espécie de manobras.
Deixemo-nos de ilusões: ou queremos construir desde a base um
movimento social pujante, autónomo em relação a todos os
poderes, independente, capaz de estar à altura dos desafios do
nosso tempo... ou nos ficamos pela (pouco ambiciosa)
"recomposição da esquerda". Como é esta última postura a da
maioria das pessoas que organizaram o evento, não vejo nele
qualquer interesse.
Aquilo que me parece pertinente perguntar:
- vão os organizadores tirar as devidas lições no sentido de
compreenderem que a sociedade civil evoluiu, que existe um real
repúdio pela forma como se "faz política", ou seja, temos o
"cidadão comum" por um lado e os "políticos" por outro?
O divórcio em Portugal entre a política e a cidadania é tão
profundo, porquê?

A minha tentativa de resposta:

Há uma involução lenta de um período em que a política
assumiu-se como A VIA para a resolução dos problemas do país. A
desilusão começou por voltas de 77 ou 78 e prolongou-se até aos
nossos dias. Por outro lado, as castas hierárquicas que mandam
nos partidos políticos, são da geração que tinha 15-20 anos em
torno do 25 de Abril de 74. O que significa que ficaram
fortemente marcados por um modelo sub-reptício de "imperialismo
da política e do político".
Curiosamente, o fascismo não saiu da cabeça das pessoas. Nem o
estalinismo (fascismo vermelho), que imperou muito para além dos
partidos que se reclamavam orgulhosamente como herdeiros de
Estaline: consistiu em tornar tudo o que toca ao social, um
braço-de-ferro, uma relação de forças, uma contagem de
espingardas, um marcar do terreno, uma guerra-de-posições,
nomeadamente nos sindicatos e associações de estudantes.
Isso "matou" à partida qualquer veleidade de independência ou
autonomia das instâncias do movimento social, enquanto
movimentos de base... Ficaram quase só reduzidos a "capas" para
os partidos (sobretudo os mais à 'esquerda') exercerem a sua
influência.
Felizmente a população já não se deixa arrastar por tais
encenações. A única maneira dela sair da letargia (em que os
partidos têm obviamente a maior responsabilidade), é criar
espaços não crispados, saídos das vontades colectivas, não de
Fóruns mediáticos.
Enquanto uma certa esquerda (que se diz anti-capitalista)
apostar na política-espectáculo, estará fadada ao desgaste e ao
fracasso.

Creio que é possível eliminar muitas das diferenças NA BASE,
pelo que eu me tenho esforçado por uma actuação séria e em
unidade com os da minha classe social (a classe trabalhadora).
Agora, essa necessária unidade de classe, não obsta à crítica
entre correntes. Aí é que começa a haver problema, porque a
tendência de hegemonização dos espaços e instituições que a
todos deveriam pertencer começa por ser levada a cabo, muito em
especial pelos que estão imbuídos de uma (apressada) leitura
leninista da questão da revolução.
ESSA DISTORÇÃO FAZ COM QUE - POR EXEMPLO- NÃO TENHAM VERGONHA EM
ATRELAR OS SINDICATOS (SEM MANDATO SEQUER DOS SÓCIOS, E MESMO
QUE O TIVESSEM, BASTARIA ALGUNS DISCORDAREM PARA QUE TAL FOSSE
ILEGÍTIMO Á LUZ DE UM CONCEITO NÃO TRANSVIADO DE DEMOCRACIA
SINDICAL) A PROJECTOS POLÍTICO-PARTIDÁRIOS:
Tal aconteceu no passado com a FSM (*)e com a Internacional
Sindical Vermelha, a internacional de sindicatos controlada
pelos partidos comunistas-autoritários, da IIIa Internacional.
Agora, no FSM (**) e nos seus epígonos regionais em unidade com
todas as tendências da social-democracia (desde a direita á
extrema-esquerda: desde Lula e sua corrente até aos diversos
esquerdismos: estalinistas, trotsquistas, guevaristas, maoistas,
etc.)
NESTAS COISAS, SÓ É CEGO QUER NÃO QUER VER.

###

Na minha opinião, o movimento social tem de ser encarado com
total autonomia, para desempenhar o seu papel cabalmente. Têm de
ser os próprios participantes desse movimento, através das suas
assembleias da base, nos locais de trabalho, de estudo, de
convívio, de residência, a determinar as modalidades de
intervenção das suas próprias estruturas, controladas por eles
próprios, em relação a tudo.
Na prática, o que se observa, cá em Portugal, é o inverso: uma
casta burocrática, colocada (pelos diversos partidos) na
direcção de sindicatos, associações de estudantes,
colectividades populares, comissões de moradores, etc., vai
decidir "em nome de" e em vez de seus representados aquilo que é
bom para o movimento social em Portugal... O que se espera disso
senão mais do mesmo? O que se espera disso senão um encobrimento
da atitude criminosa e de traição de muitos os seus dirigentes?
O que se espera, senão uma tentativa de branqueamento dessas
mesmas práticas e desses mesmos indivíduos que as têm promovido
ao longo dos últimos vinte anos?

Por todos os motivos acima apontados não participei em tal tipo
de “evento”.
Isto não significa que esteja dissociado de uma esquerda que se
revê no combate anti-capitalista de base, sem hegemonia de
burocracias partidárias, com a qual os libertários têm
afinidade. Refiro-me a uma esquerda anti-parlamentar,
anti-vanguardista, conselhista, marxista-libertária. Embora seja
muito fraca a sua expressão em Portugal, não é o caso de outros
países como Itália, Alemanha e mesmo os EUA, onde essa esquerda
anti-autoritária tem estado muito activa no combate à
globalização capitalista. Tem portanto significado falar-se de
'esquerda anti-autoritária', sendo ela mais lata do que as
diversas correntes do anarquismo social.
De resto o anarquismo social integra sem problemas (aliás muito
naturalmente) lutas ecologistas, anti-racistas e anti-sexistas,
além da luta de classes numa perspectiva revolucionária.

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(*) FSM = Federação Sindical Mundial
(**) FSM = Fórum Social Mundial
Esta confusão de siglas não ocorre em inglês




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