A - I n f o s
a multi-lingual news service by, for, and about anarchists **

News in all languages
Last 40 posts (Homepage) Last two weeks' posts

The last 100 posts, according to language
Castellano_ Català_ Deutsch_ Nederlands_ English_ Français_ Italiano_ Polski_ Português_ Russkyi_ Suomi_ Svenska_ Türkçe_ The.Supplement
{Info on A-Infos}

(pt) GRUPO DIELO TROUDA: Plataforma organizacional

From a-infos-pt@ainfos.ca
Date Fri, 29 Aug 2003 22:46:06 +0200 (CEST)


______________________________________________________
A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
http://ainfos.ca/ http://ainfos.ca/index24.html
________________________________________________

INTRODUÇÃO

(Workers Solidarity Movement – Irlanda, 1984)

Em 1926 um grupo de anarquistas russos exilados na França, o grupo Dielo
Trouda (A Causa dos Trabalhadores), publicou este panfleto. Não surgiu de
algum estudo teórico, mas de suas experiências na Revolução Russa de 1917.
Eles tomaram parte da desintegração da velha classe dirigente, foram parte
do florescimento da autogestão dos trabalhadores, compartilharam o
otimismo existente acerca de um novo mundo se socialismo e liberdade... e
viram tudo isso ser desmanchado pelo Capitalismo Estatal e a ditadura do
partido Bolchevique.
O movimento anarquista russo teve uma participação muito longe de
desprezível, na revolução. Na época existiam cerca de 10.000 anarquistas
ativos na Rússia, sem incluir o movimento liderado na Ucrânia por Nestor
Makhno. Haviam ao menos quatro anarquistas no Comitê Militar
Revolucionário (dominado pelos bolcheviques), no qual se idealizou a
tomada do poder em Outubro. E, mais importante que isso, os anarquistas
estavam inseridos nos comitês de fábricas que surgiram logo da revolução
de Fevereiro.
Estes estavam baseados nos lugares de trabalho, eleitos por assembléias
massivas de trabalhadores, e tinham a função de supervisionar a fábrica e
coordenar-se com outros lugares de trabalho na mesma indústria ou região.
Os anarquistas forma particularmente influentes entre os mineiros,
estivadores, padeiros e tomaram uma importante papel na Conferência de
Comitês Fabris de Todas as Rússias, que se reuniram em Petrogrado quase ao
final da Revolução. Eram os comitês os quais os anarquistas viam como uma
base para uma nova autogestão que se implantaria após a revolução.
No entanto, o espírito revolucionário e a unidade de Outubro não durou
muito. Os bolchevistas ansiavam suprimir todas aquelas forças na esquerda
que viam como um obstáculo para exercer o poder de "partido único". Os
anarquistas e alguns outros na esquerda acreditavam que a classe
trabalhadora seria capaz de exercer o poder através de suas próprias
comunidades e soviets (conselhos de delegados eleitos). Os bolcheviques
não. Disseram que os trabalhadores ainda não podiam tomar controle de seu
próprio destino e assim os bolcheviques tomariam o poder como uma "medida
interina" durante o "período de transição". Esta falta de confiança nas
habilidades da gente comum e a tomada autoritária do poder conduziu à
traição dos interesses da classe trabalhadora, e todas as esperanças e
sonhos.
Em Abril de 1918 os centros anarquistas de Moscou foram atacados, 600
anarquistas presos e muitos deles acabaram mortos. A desculpa foi que os
anarquistas eram " incontroláveis". Seja lá o que tenham querido dizer, o
certo é que o motivo era eles terem simplesmente se negado a obedecer aos
líderes bolcheviques.
Os anarquistas tiveram que decidir que fazer. Uma seção trabalhava com os
bolchevistas e se uniram e estes, ainda quando existia preocupação em
relação à eficiência e a unidade contra a reação – Outra seção lutou
duramente para defender as conquistas da revolução contra o que eles
corretamente vislumbraram uma nova classe dominante. O movimento
Makhnovista na Ucrânia e o levantamento em Kronstadt foram as últimas
batalhas importantes. Até 1921, a revolução anti-autoritária estava morta.
Sua derrota teria profundas e duradouras conseqüências para o movimento
internacional dos trabalhadores.
Era a esperança dos autores que um desastre não ocorresse novamente. Como
contribuição, eles escreveram o que tem sido conhecido como " A
Plataforma". Esta vê as lições do movimento anarquista russo, seu fracasso
em constituir uma presença dentro do movimento da classe operária,
suficientemente grande e efetivo para contrapor à tendência bolchevique e
outros grupos políticos para substituir-se a eles mesmos pela classe
trabalhadora. Constitui um guia que em linhas gerais sugere como os
anarquistas devem organizar-se, em resumo, como podemos chegar a ser
eficazes.
Colocou verdades bastante simples, tais como o que resulta ridículo se ter
uma organização que contenha grupos que tem definições contraditórias e
mutuamente antagonistas ao que é o anarquismo. Assinalou que necessitamos
colocar-nos formalmente de acordo por meio de políticas levadas ao papel,
através de documentos, a necessidade de deveres dos membros e assim por
diante; a sorte de estruturas que permitem uma organização democrática,
grande e efetiva.
Quando foi publicada pela primeira vez recebeu o ataque das mais
conhecidas personalidades anarquistas da época, tais como Enrico Malatesta
e Alexander Berkman. Foram acusados de estar " A só um passo dos
bolcheviques" e de querer um " Anarquismo bolchevique". Esta reação foi
exagerada, e foi devida em parte a proposição de criar uma União Geral de
Anarquistas. Os autores não explicaram claramente como seria a relação
entre esta organização e outros grupos de anarquistas fora dela. Continua
sem dizer que não haveria problema entre organizações anarquistas isoladas
que trabalhem juntas em publicações que compartilhem uma posição e
estratégia comum.
Não consiste, como tem sido dito tanto por seus detratores como por alguns
de seus aderentes nos últimos dias, em um programa para "afastar-se do
anarquismo em direção ao comunismo libertário". Os dois termos são
completamente intercambiáveis. Foi escrito para ressaltar o fracasso dos
anarquistas russos em sua confusão teórica; e assim, sua falta de
coordenação á nível nacional, desorganização e incerteza política. Em
outras palavras, carência de eficácia. Foi escrito para abrir um debate
dentro do movimento anarquista. Aponta, não para um compromisso com
políticas autoritárias, mas a necessidade vital de criar uma organização
que combine ativismo revolucionário efetivo com os princípios fundamentais
do anarquismo.
Não é um programa perfeito agora, e tampouco o era em 1926. Tem
debilidades. Não explica algumas de suas idéias com suficiente
profundidade, se pode argumentar que não cobre alguns tópicos importantes.
Mas lembremos que se trata de um pequeno panfleto e não de uma
enciclopédia de 26 volumes, os autores deixam bastante claro em sua
introdução que não é nenhum tipo de Bíblia. Não é uma análise ou programa
completo, é uma contribuição ao necessário debate – um bom ponto de
partida.
Apresentação

É muito significante o fato de que, apesar da força e o caráter
incontestavelmente positivo das idéias libertárias, e apesar da franqueza
e integridade das posições anarquistas perante a revolução social, e
finalmente o heroísmo e inúmeros sacrifícios suportados pelos anarquistas
na luta pelo comunismo libertário, o movimento anarquista permanece fraco
a despeito de tudo, e tem aparecido, frequentemente, na história de lutas
da classe trabalhadora como um pequeno acontecimento, um episódio, e não
um fator importante.
Esta contradição entre a positiva e incontestável substância das idéias
libertárias, e a situação miserável na qual o movimento libertário vegeta,
tem sua explicação em um número de causas, das quais a mais importante, a
principal é a falta de princípios e práticas organizacionais no movimento
anarquista.
Em todos os países, o movimento anarquista é representado por várias
organizações locais que advogam teorias e práticas contraditórias,
ficando, assim, sem perspectivas para o futuro, nem uma continuidade no
trabalho militante, e habitualmente desaparecendo, dificilmente deixando o
menor vestígio de existência em seu lugar.
Considerando-o como um todo, tal estado de anarquismo revolucionário só
pode ser descrito como "desorganização geral crônica" .
Como a febre amarela, esta doença de desorganização se introduziu no
organismo do movimento anarquista e o tem abalado por dezenas de anos.
No entanto, sem sombra de dúvidas, esta desorganização se origina de
alguns defeitos de teoria: notavelmente de uma falsa interpretação do
princípio de individualidade no anarquismo: sendo esta teoria
freqüentemente confundida com a total falta de responsabilidade, Os
amantes da asserção 'eu', com o interesse voltado unicamente para o prazer
particular, agarram-se obstinadamente ao estado caótico do movimento
anarquista e citam em sua defesa os princípios imutáveis do anarquismo e
seus professores.
Mas os princípios imutáveis e os professores têm mostrado exatamente o
contrário.
Dispersão e quebra de unidade são arruinantes: uma união bem suturada é um
sinal de vida e desenvolvimento. Esta negligência de luta social aplica-se
tanto às classes quanto às organizações.
Anarquismo não é uma utopia bonita, nem uma idéia filosófica abstrata, é
um movimento social das massas trabalhadoras. Por esta razão, deve unir
forças em uma organização, agitando constantemente, como é exigido pela
realidade e estratégia de luta de classe.
"Nós estamos convictos" afirma Kropotkin, "de que a formação de uma
organização anarquista na Rússia, longe de ser prejudicial à tarefa
revolucionária comum, é, pelo contrário, desejável e útil no mais alto
grau." (Prefácio para The Paris Comune ("A Comuna Parisiense") de Bakunin,
edição de 1892.)
Bakunin nunca se opôs ao conceito de uma organização anarquista geral.
Pelo contrário, suas aspirações a respeito de organizações, assim como sua
participação na primeira Internacional nos oferece razões para vê-lo
justamente como um guerrilheiro ativo de uma organização como tal.
Em geral, praticamente todos os militantes anarquistas ativos lutaram
contra qualquer tipo de atividade dispersiva, e desejaram um movimento
anarquista soldado pelo unidade em meios e fins.
Foi durante a Revolução Russa de 1917 que se sentiu mais profundamente e
urgentemente a necessidade de uma organização geral. Foi durante esta
revolução que o movimento libertário mostrou o maior grau de fragmentação
e confusão. A falta de uma organização geral levou muitos militantes
anarquistas ativos a tomar parte de postos dos bolchevistas. Esta falha é
também a causa de muitos outros militantes atuais permanecerem passivos,
impedindo qualquer uso de suas forças, que é freqüentemente bem
considerável.
Nós temos grande necessidade de uma organização que, tendo reunido a
maioria dos participantes do movimento anarquista, estabeleça no
anarquismo uma linha política geral e tática a qual deve servir como um
guia para o movimento inteiro.
Está na hora do anarquismo sair do pântano da desorganização, pôr um fim
às infinitas vacilações das questões táticas e teóricas mais importantes,
mover-se definitivamente em direção a um ideal claramente reconhecido, e
operar uma prática coletiva e organizada. No entanto, não é o bastante
reconhecer a necessidade vital de tal organização: é também necessário
estabelecer o método para sua criação.
Nós rejeitamos como teoricamente e praticamente inapta a idéia de criar
uma organização baseada na receita da 'síntese' , que está reunindo os
representantes de diferentes tendências anarquistas. Tal organização,
tendo incorporado elementos teóricos e práticos heterogêneos, seria apenas
uma reunião mecânica de indivíduos, cada qual possuindo um conceito
diferente das questões do movimento anarquista, uma reunião que
eventualmente se desintegraria ao entrar em contato com a realidade.
O método anarco-sindicalista não resolve o problema da organização
anarquista, pois ele não dá prioridade a este problema, interessando-se
somente pela penetração e aumento de forças no proletariado industrial.
Entretanto, muito coisa não pode ser realizada nesta área, até mesmo em
adquirindo igualdade, a menos que haja uma organização anarquista geral.
O único método que leva à solução do problema de organização geral é, do
nosso ponto de vista, reorganizar militantes anarquistas ativos
baseando-se em posições precisas: teórica, tática e organizacional, a base
mais ou menos perfeita de um programa homogêneo.
A elaboração de tal programa é uma das principais tarefas imposta aos
anarquistas pela luta social dos últimos anos. É nesta tarefa que o grupo
de anarquistas russos em exílio dedica uma parte importante de seus
esforços.
A Plataforma Organizacional publicada abaixo representa os esboços, o
esqueleto de tal programa. Deve servir como o primeiro passo em direção a
um reagrupamento de forças libertárias em um único coletivo revolucionário
ativo capaz de lutar, a União Geral dos Anarquistas.
Não temos dúvidas de que há falhas na presente plataforma. Tem falhas,
assim como todos os passos novos e básicos que tenham qualquer
importância. É possível que algumas posições importantes tenham sido
deixadas de fora, ou que outras tenham sido tratadas de forma inadequada,
ou ainda que outras tenham sido muito detalhadas ou repetitivas. Tudo isso
é possível, mas não de relevância vital. O que é importante é fixar as
fundações de uma organização geral, e é este propósito que é atingido, em
certo grau de necessidade, pela plataforma presente.
Depende do coletivo como um todo, a União Geral dos Anarquistas, em
ampliá-la, para depois dá-la profundidade, transformá-la em uma plataforma
definitiva para todo o movimento anarquista.
Em outro aspecto também temos dúvidas. Nós prevemos que vários
representantes de um estilo próprio individualista e anarquismo caótico
irão nos atacar, espumando pela boca, e nos acusar de quebrar princípios
anarquistas. Contudo, sabemos que os elementos individualistas e caóticos
entendem pelo título 'princípios anarquistas' indiferença política,
negligência e total falta de responsabilidade, o que tem causado em nosso
movimento separações quase incuráveis, e contra as quais estamos lutando
com toda nossa energia e paixão. Esta é a razão pela qual podemos
calmamente ignorar os ataques provindos deste campo.
Baseamos nossa esperança em outros militantes: naqueles que permanecem
fiéis ao anarquismo, tendo experimentado e sofrido a tragédia do movimento
anarquista, e estão dolorosamente procurando por uma solução.
Mais ainda, colocamos grandes esperanças nos jovens anarquistas que,
nascidos na respiração da Revolução Russa, e posicionados desde o início
no meio de problemas construtivos, irão certamente exigir a realização de
princípios positivos e organizacionais no anarquismo.
Convidamos todas as organizações anarquistas russas espalhadas em vários
países do mundo, e também militantes isolados, a unir-se baseados em uma
plataforma organizacional comum.
Deixem esta plataforma servir como a espinha dorsal revolucionária, o
ponto de unificação de todos os militantes do movimento anarquista russo!
Deixem-na formar as fundações para o Sindicato (União) Geral dos
Anarquistas! Vida longa para a Revolução Social dos Trabalhadores do
Mundo!


The DIELO TROUDA GROUP (GRUPO DIELO TROUDA) Paris,
20.6.1926.


SEÇÃO GERAL

1. Luta de Classe, seu papel e significado

Não há uma humanidade
Há uma humanidade de classes
Escravos e Senhores

Assim como todas que a precederam, a sociedade capitalista burguesa dos
nossos tempos não é "uma humanidade". É dividida em dois campos bem
distintos, diferenciados socialmente por suas situações e funções, o
proletariado (no sentido mais amplo da palavra), e a burguesia.
A sina do proletariado é, e tem sido há séculos, carregar o fardo de um
trabalho físico e doloroso do qual provêem seus frutos, não para eles, no
entanto, mas sim para outra classe privilegiada que possui propriedade,
autoridade e os produtos culturais (ciência, educação, arte): a burguesia.
A escravidão e exploração social das massas trabalhadoras formam a base na
qual se ergue a sociedade moderna, sem a qual esta sociedade não poderia
existir.
Isto gerou uma luta de classe, por vezes, assumindo um caráter aberto e
violento, e, por outras, um semblante de progresso vagaroso e inatingível,
que reflete carências, necessidades e o conceito de justiça dos
trabalhadores.
No domínio social, toda história humana representa uma corrente
ininterrupta de lutas realizadas pelas massas trabalhadoras pelos seus
direitos, liberdade e uma vida melhor. Na história da sociedade humana
esta luta de classe tem sido sempre o fator primário que determinou a
forma e estrutura destas sociedades.
O regime social e político de todos os estados está acima de todo e
qualquer produto da luta de classe. A estrutura fundamental de qualquer
sociedade nos mostra o estágio no qual a luta de classe tem gravitado e
deve ser encontrada. A mínima mudança no curso das batalhas de classes,
nas posições relativas nas quais se encontram as forças da luta de classe,
produz modificações contínuas no tecido e na estrutura da sociedade.
Tal é o geral e universal âmbito e significado da luta de classe na vida
das sociedades de classes.
2. A necessidade de uma revolução social violenta

O princípio de escravidão e exploração das massas pela violência constitui
a base da sociedade moderna. Todas as manifestações de sua existência: a
economia, política, relações sociais, apoiam-se na violência de classe,
cujos órgãos servidores são: autoridade, a polícia, o exército, o
judiciário. Tudo nesta sociedade: cada empresa considerada separadamente,
assim como todo o sistema de Estado, não é nada mais do que o baluarte do
capitalismo, de onde eles mantêm vigília constante nos trabalhadores, de
onde eles sempre têm preparadas as forças intencionadas a reprimir
quaisquer movimentos feitos pelos trabalhadores que ameaçam a fundação ou
até mesmo a tranquilidade daquela sociedade.
Ao mesmo tempo, o sistema desta sociedade, deliberadamente, mantém as
massas trabalhadoras em um estado de ignorância e estagnação mental; ele
previne através da força o aumento do seu nível moral e intelectual, a fim
de obter mais facilmente o melhor aproveitamento delas.
O progresso da sociedade moderna: a evolução tecnológica do capital e a
perfeição do seu sistema político, fortifica o poder das classes
dominantes, e toma mais difícil a luta contra elas, desta maneira adiando
o momento decisivo da emancipação dos trabalhadores.
Análises da sociedade moderna nos levam à conclusão que a única forma de
transformar a sociedade capitalista em uma sociedade de trabalhadores
livres é pelo caminho de uma revolução social violenta.
3. Anarquistas e comunismo libertário

A luta de classe criada pela escravidão de trabalhadores e suas aspirações
à liberdade geraram, na opressão, a idéia do anarquismo: a idéia da
negação total a um sistema social baseado nos princípios de classes e um
Estado, e sua substituição por uma sociedade livre não-estatal de
trabalhadores sob gestão própria.
Portanto, o anarquismo não se origina de reflexões abstratas nem de um
intelectual ou filósofo, mas sim da luta direta de trabalhadores contra o
capitalismo, das carências o necessidades dos trabalhadores, das suas
aspirações à liberdade e igualdade, aspirações que se tornam
particularmente vivas no melhor período heróico da vida e luta das massas
trabalhadoras.
Os notáveis pensadores anarquistas Bakunin, Kropotkin e outros, não
inventaram a idéia de anarquismo, mas, tendo encontrado este nas massas,
simplesmente ajudaram, com a força de seu pensamento e conhecimento, a
especificá-lo e propagá-lo.
O anarquismo não é o resultado de esforços particulares, nem o objeto de
pesquisas individuais.
De igual modo, o anarquismo não é o produto de aspirações humanitárias.
Não existe uma humanidade única. Qualquer tentativa de fazer do anarquismo
um atributo de toda humanidade atual, de atribuir a ele um caráter
humanitário geral seria uma mentira social e histórica, que levaria,
inevitavelmente, à justificação do status quo e à uma nova exploração.
O anarquismo é em geral humanitário somente no sentido de que as idéias
das massas tendem a melhorar as vidas de todos os homens, e que o destino
da humanidade de hoje e de amanhã é inseparável da exploração dos
trabalhadores. Se as massas trabalhadoras forem vitoriosas, toda
humanidade renascerá; caso contrário, violência, exploração, escravidão e
opressão reinarão no mundo como antes.
O nascimento, o florescimento, e a realização de idéias anarquistas têm
suas raízes na vida e na luta das massas trabalhadoras e estão
inseparavelmente ligadas ao seu destino.
O anarquismo quer transformar a atual sociedade capitalista burguesa em
uma sociedade que assegure ao trabalhador os produtos de seus esforços,
sua liberdade, independência, e igualdade política e social. Esta outra
sociedade será o comunismo libertário, no qual a solidariedade social e a
individualidade livre acharão sua expressão plena, e no qual estas duas
idéias se desenvolverão em perfeita harmonia. O comunismo libertário
acredita que o único criador de valor social é o trabalho, fisico ou
intelectual, e, consequentemente, somente o trabalho tem o direito de
governar a vida econômica e social. Por causa disto, ele nem defende nem
permite, em qualquer proporção, a existência de classes não-trabalhadoras.
Na medida em que estas classes existem simultaneamente com o comunismo
libertário, o último não reconhecerá obrigações em relação a estes. Isto
terá fim quando as classes não-trabalhadoras decidirem se tornar
produtivas e quererem viver em uma sociedade comunista sob condições
iguais para todos, as quais são a de membros sociais livres, gozando dos
mesmos direitos e deveres assim como todos os outros membros produtivos.
O comunismo libertário quer pôr um fim a toda exploração e violência,
sendo elas contra indivíduos ou as massas de pessoas. Para este fim, ele
instituirá uma base econômica e social que unirá todas as seções da
comunidade, garantindo a cada indivíduo uma posição de igualdade entre o
resto, e concedendo a cada um o máximo de bem-estar. A base é a
propriedade comum de todos os meios e instrumentos de produção (indústria,
transporte, terra., matéria prima, etc.) e a construção de organizações
econômicas dentro dos princípios de igualdade e gestão própria das classes
trabalhadoras.
Dentro dos limites dessa sociedade auto-gerenciada de trabalhadores, o
comunismo libertário estabelece o princípio de igualdade de valor e
direitos de cada indivíduo (não individualidade "em geral", nem de
"individualidade mística", nem o conceito de individualidade, mas sim cada
indivíduo real e vivo).
4. A democracia burguesa é uma das formas da sociedade capitalista

A base da democracia está na manutenção de duas classes antagônicas da
sociedade moderna: a classe trabalhadora e a classe capitalista e sua
colaboração na base da propriedade privada capitalista. A expressão desta
colaboração é o parlamento e a representação governamental nacional.
Formalmente, a democracia proclama liberdade de fala, da imprensa, de
associação, e a igualdade de todos perante a lei.
Na realidade, todas estas liberdades são de um caráter muito relativo:
elas são toleradas somente enquanto elas não contestam os interesses da
classe dominante isto é, a burguesia. A democracia preserva intacto o
princípio da propriedade privada capitalista. Desta maneira, ela (a
democracia) fornece à burguesia o direito de controlar completamente a
economia do país, toda a imprensa, educação, ciência, arte - que de fato
toma a burguesia senhora absoluta do país inteiro. Tendo um monopólio na
esfera da vida econômica a burguesia também pode estabelecer seu poder
ilimitado na esfera política. Em efeito o parlamento e o governo
representativo nas democracias não passam de órgãos executivos da
burguesia.
Consequentemente, a democracia é apenas um dos aspectos da ditadura
burguesa, encoberta por fórmulas enganadoras de liberdades e garantias
democráticas fictícias.
5. A negação do Estado e Autoridade

As ideologias da burguesia definem o Estado como o órgão que regulariza as
complexas relações políticas, civis e sociais entre os homens na sociedade
moderna, e protege a ordem e leis destes. Os anarquistas estão em perfeito
acordo com esta definição, mas eles a completam afirmando que a base desta
ordem e destas leis é a escravidão da grande maioria das pessoas pela
minoria insignificante, e que é precisamente este propósito que é servido
pelo Estado.
O Estado é simultaneamente a violência organizada da burguesia contra os
trabalhadores e o sistema de seus órgãos executivos.
Os socialistas de esquerda, e em particular os bolchevistas também
consideram o Estado e a Autoridade burgueses como empregados do capital.
Mas eles mantêm que esta Autoridade e o Estado pode tornar-se, nas mãos de
partidos socialistas, uma arma poderosa na luta pela emancipação do
proletariado. Por esta razão, estes partidos são a favor de uma Autoridade
socialista e um Estado proletário. Alguns querem conquistar poder através
de meios parlamentares pacíficos (o social democrático), outros por meios
revolucionários (os bolchevistas, os 'sócio-revolucionários' de esquerda).
O anarquismo considera estes dois fundamentalmente errados, desastrosos no
trabalho pela emancipação dos trabalhadores. A Autoridade sempre depende
da exploração e escravidão da massa de pessoas. Ela nasce desta
exploração, ou é criada dentro dos interesses desta exploração. A
Autoridade sem violência e sem exploração perde toda razão de ser (raison
detre).
O Estado e a Autoridade tiram toda iniciativa das massas, matam o espírito
de criação e atividade livre, cultivam nelas a psicologia servil de
submissão, de expectativa, de esperança de escalar a escada social, de
confiança cega em seus líderes, de ilusão de compartilhamento em
autoridade.
Desta maneira, a emancipação do trabalho só é possível na luta
revolucionária direta das vastas massas trabalhadoras e de suas
organizações de classe contra o sistema capitalista.
A conquista do poder pelos partidos sócio-democráticos através de meios,
pacíficos, sob as condições da ordem em vigor atualmente, não irá
colaborar no progresso da tarefa de emancipação dos trabalhadores, pela
simples razão de que o poder verdadeiro, consequentemente a autoridade
verdadeira, permanecerá com a burguesia, a qual controla a economia e a
política do país. O papel da autoridade socialista, neste caso, fica
reduzido ao campo das reformas: o aprimoramento deste mesmo regime.
(Exemplos: Ramsay MacDonald, os partidos democráticos da Alemanha, da
Suécia, da Bélgica, os quais adquiriram poder numa sociedade capitalista).
Mais ainda, tomar o poder através de uma revolução social e organizar um
assim chamado "Estado proletário" não pode servir à causa autêntica de
emancipação dos trabalhadores. O Estado, imediatamente e supostamente
construído pela defesa da revolução, invariavelmente termina deturpado
pelas necessidades e características peculiares a si mesmo, tornando-se
ele mesmo a meta, produz castas específicas e privilegiadas, e,
consequentemente, restabelece a base da Autoridade e do Estado
capitalistas; a habitual escravidão e exploração das massas através da
violência. (Exemplo: "o Estado operário-camponês" dos bolchevistas.)
6. O papel das massas e o papel dos anarquistas na luta social e na
revolução social
As principais forças da revolução social são a classe trabalhadora urbana,
as massas de camponeses e uma parte dos 'pensadores trabalhadores'.
Observação: apesar de ser uma classe explorada e oprimida assim como os
proletariados urbanos e rurais, os pensadores trabalhadores são
relativamente desunidos se comparados com os trabalhadores e os
camponeses, graças aos privilégios econômicos concedidos pela burguesia a
alguns de seus membros. É por isso que, durante os primeiros dias da
revolução social, somente a camada menos favorecida dos pensadores
participou ativamente.
A concepção anarquista do papel das massas na revolução social e na
construção do socialismo difere-se tipicamente daquele dos partidos
estadistas. Enquanto o bolchevismo e tendências afins consideram que as
massas possuem somente instintos destrutivos e revolucionários, sendo
incapazes de realizar atividades criativas e construtivas - a principal
razão pela qual a última atividade deve concentrar-se nas mãos dos homens
que formam o governo do Estado do Comitê Central do partido - os
anarquistas, pelo contrário, acham que as massas trabalhadoras possuem
enormes possibilidades criativas e construtivas inerentes, e os
anarquistas desejam suprimir os obstáculos que impedem a manifestação
destas possibilidades.
Os anarquistas consideram o Estado o principal obstáculo, que usurpa os
direitos das massas e retira delas todas as funções da vida econômica e
social. O Estado deve perecer, não "em algum dia" na sociedade vindoura,
mas sim imediatamente. Deve ser destruído pelos trabalhadores no primeiro
dia de sua vitória, e jamais deverá ser reconstituído usando qualquer
outro tipo de falsa aparência. O Estado será substituído por um sistema
federalista de organizações dos trabalhadores de produção e consumo,
unidas federalmente e autogestionadas. Este sistema exclui tanto as
organizações autoritárias quanto a ditadura de um determinado partido,
qualquer que seja ele.
A Revolução Russa de 1917 demonstra precisamente esta orientação do
processo de emancipação social através da criação do sistema de soviets de
operários e camponeses e os comitês de fábrica. Seu triste erro foi não
ter liquidado, em um momento oportuno, a organização de poder do estado:
inicialmente do governo provisório, e em seguida do poder bolchevista. Os
bolchevistas, aproveitando-se da confiança dos trabalhadores e dos
camponeses, reorganizaram o estado burguês de acordo com as circunstâncias
do momento e, consequentemente, mataram a atividade criativa das massas,
através do apoio e da manutenção do estado: que sufocou o regime livre dos
soviets e dos comitês de fábrica, o que havia representado o primeiro
passo em direção à construção de uma sociedade socialista não-estatal.
A ação dos anarquistas pode ser dividida em dois períodos, um antes da
revolução, e outro durante a revolução. Em ambos, os anarquistas só podem
satisfazer seu papel como uma força organizada e se possuírem uma
concepção clara dos objetivos de sua luta e os caminhos que levam à
realização destes objetivos.
A tarefa fundamental da União Geral dos Anarquistas no período
pré-revolucionário deve ser a de preparar os operários e camponeses para a
revolução social.
Negando a democracia formal (burguesa), a autoridade e o Estado,
proclamando a total emancipação trabalhista, o anarquismo enfatiza ao
máximo os rigorosos princípios da luta de classe. Isto atenta e desenvolve
nas massas consciência de classe e a intransigência revolucionária da
classe.
E precisamente em direção à intransigência de classe, 'anti-democratismo',
anti-estadismo' das idéias do anarco-comunismo que a educação libertária
das massas deve ser direcionada, mas a educação em si não é o suficiente -
É também necessária uma certa organização da massa anarquista - Para
realizar isto, é necessário trabalhar em dois sentidos: por um lado,
trabalhar em direção à seleção e agrupamento de forças revolucionárias de
trabalhadores e camponeses levando em conta uma base libertária comunista
teórica (uma organização especificamente libertária comunista); por outro
lado, em direção à um reagrupamento de trabalhadores e camponeses
revolucionários baseado em uma economia de produção e consumo
(trabalhadores e camponeses revolucionários organizados em volta da
produção: trabalhadores e camponeses livres cooperativos). A classe dos
trabalhadores e camponeses, organizada com base na produção e consumo,
penetrada por posições anarquistas revolucionárias, será o primeiro grande
ponto a favor da revolução social.
Quanto mais estas organizações estiverem conscientes e organizadas de uma
maneira anarquista, como a presente, maior será a manifestação da vontade
intransigente e criativa na hora da revolução.
Quanto à classe trabalhadora russa: está claro que após oito anos de
ditadura bolchevista, que acorrenta as necessidades naturais de as massas
terem atividade livre, a natureza verdadeira de toda e qualquer forma de
poder é demonstrada melhor do que nunca; esta classe possui dentro de si
grandes possibilidades para a formação de um movimento anarquista de
massa. Militantes anarquistas organizados deveriam ir imediatamente, com
toda força a seu dispor, encontrar-se com estas necessidades e
possibilidades, de forma que elas não se degenerem em reformismo
('menchevismo').
Com a mesma urgência, anarquistas deveriam dedicar-se à organização dos
camponeses pobres, que são esmagados pelo poder estatal, procuram uma
solução para o problema e escondem um enorme potencial revolucionário.
O papel dos anarquistas no período revolucionário não pode ser restrito
somente à propagação das linhas mestras das idéias libertárias. A vida não
é só uma arena para a propagação desta ou daquela concepção, mas também, e
da mesma forma, uma arena de luta, de estratégia, e de aspirações destas
concepções na gestão da vida social e econômica.
Mais do que qualquer outro conceito, o anarquismo deveria se tornar o
principal conceito de revolução, pois é somente dentro da base teórica
anarquista que a revolução social pode ser bem sucedida na total
emancipação trabalhista.
A principal posição das idéias anarquistas na revolução sugere uma
orientação de acontecimentos direcionados pela teoria anarquista.
Contudo, esta força teórica condutora não deve ser confundida com a
liderança política dos partidos estatais que levam, por fim ao Poder de
Estado.
O anarquismo não aspira ao poder político nem à ditadura. Sua principal
aspiração é ajudar as massas a tomar o caminho autêntico da revolução
social e da construção do socialismo. Mas não é o bastante que as massas
tomem o caminho da revolução social. É também necessário manter esta
orientação de revolução e seus propósitos: a supressão da sociedade
capitalista em nome dos trabalhadores livres. Como a experiência da
revolução russa de 1917 nos mostrou, esta última tarefa está longe de ser
fácil, principalmente por causa dos inúmeros partidos que tentam orientar
o movimento para uma direção oposta à da revolução social.
Apesar de as massas se expressarem profundamente nos movimentos sociais,
em termos de tendências e princípios anarquistas, estas tendências e
princípios ainda permanecem dispersos, sendo descoordenados, e,
consequentemente, não levam à organização da força condutora das idéias
libertárias, a qual é necessária para a preservação da orientação
anarquista e dos objetivos da revolução social. Esta força condutora
teórica só pode ser expressada por um coletivo criado especialmente pelas
massas com esse propósito. Os elementos anarquistas organizados constituem
exatamente este coletivo.
As massas exigem uma resposta clara e precisa dos anarquistas a respeito
destas e de muitas outras questões. E, a partir do momento que os
anarquistas declaram uma concepção de revolução e da estrutura da
sociedade, eles são obrigados a dar uma resposta clara à todas estas
questões, relacionar a solução destes problemas à concepção geral de
comunismo libertário, e devotar todas suas forças à realização destes.
Somente desta forma a União Geral dos Anarquistas e o movimento anarquista
asseguram completamente sua função como forças teóricas condutoras na
revolução social.
7. O período de transição

Os partidos socialistas entendem a expressão 'período de transição' como
sendo uma fase definitiva na vida do povo cujos traços característicos
são: ruptura com a velha ordem e a instalação de um novo sistema econômico
e social - um sistema que, no entanto, ainda não representa a total
emancipação dos trabalhadores. Neste sentido, todos os programas mínimos*
(Um programa mínimo não tem o objetivo de transformar o capitalismo, mas
sim de solucionar alguns dos problemas imediatos que assolam a classe
trabalhadora sob o regime capitalista.) dos partidos políticos
socialistas, por exemplo, o programa democrático dos oportunistas
socialistas ou o programa comunista pela 'ditadura do proletariado', são
programas do período de transição.
O traço essencial de todos estes é que eles consideram impossível, no
momento, a concretização completa dos ideais dos trabalhadores: sua
independência, liberdade e igualdade - e, consequentemente, preservam
várias instituições do sistema capitalista: o princípio de coerção
estatal, privatização dos meios e instrumentos de produção, a burocracia,
e muitos outros, de acordo com as metas do programa de cada partido.
A princípio, os anarquistas sempre têm sido inimigos de tais programas,
considerando-se que a construção de sistemas de transição, que mantêm os
princípios de exploração e coerção das massas, levam, inevitavelmente, a
um novo crescimento da escravidão.
Em vez de estabelecer programas mínimos políticos, os anarquistas sempre
defenderam a idéia de uma revolução social imediata, que priva a classe
capitalista de seus privilégios econômicos e sociais, e coloca os meios e
instrumentos de produção e todas as funções da vida econômica e social nas
mãos dos trabalhadores.
Até agora, foram os anarquistas que mantiveram este posicionamento.

A idéia do período de transição, de acordo com o qual a revolução social
deve levar não à uma sociedade comunista, mas sim a um sistema X, mantendo
elementos do velho sistema. é anti-social em essência. Ele ameaça resultar
em um reforço e desenvolvimento destes elementos às suas dimensões
anteriores, e isto seria como dar um passo para trás.
Um flagrante exemplo disto é o regime de 'ditadura do proletariado'
estabelecido pelos bolchevistas na Rússia. De acordo com eles, o regime
deve ser somente uma passo transitório rumo ao comunismo total. Na
verdade, este passo resultou na restauração da sociedade de classes, na
qual os trabalhadores e camponeses voltaram a ficar por baixo.
O centro de gravidade para a construção de uma sociedade comunista não
consiste na possibilidade de assegurar a cada indivíduo liberdade
ilimitada para satisfazer suas necessidades a partir do primeiro dia de
revolução; mas consiste na conquista da base social desta sociedade, e
estabelecimento dos princípios de relacionamentos igualitários entre os
indivíduos. Quanto à questão da abundância, maior ou menor, ela não se
posiciona ao nível de princípios, mas sim como um problema técnico.
O princípio fundamental sobre o qual a nova sociedade será erigida e
posicionada, e que não deve ser restrito de qualquer forma é aquele de
igualdade de relacionamentos, de liberdade e independência dos
trabalhadores. Este princípio representa a primeira exigência fundamental
das massas, pelo qual elas se erguem em uma revolução social.
Ou a revolução social terminará com a derrota dos trabalhadores, que seria
o caso de recomeçarmos novamente a preparação da luta, uma nova ofensiva
contra o sistema capitalista-, ou levará à vitória dos trabalhadores, e
neste caso, tendo conquistado os meios que permitem auto-gestão - a terra,
produção, e funções sociais, os trabalhadores começarão a construção de
uma sociedade livre.
Isto é o que caracteriza o início da construção de uma sociedade
comunista, que, uma vez começada, continua seguindo o rumo de seu
desenvolvimento sem interrupções, reforçando-se e aprimorando-se
continuamente.
Desta forma, a tomada das funções sociais e produtivas por parte dos
trabalhadores, traçará uma linha exata de demarcação entre as eras estatal
e não-estatal.
Se deseja se tornar um porta-voz das massas combatentes, a bandeira de
toda uma era de revolução social, o anarquismo não deve assimilar traços
da velha ordem em seu programa, as tendências oportunistas de sistemas e
períodos de transição, não escondem seus princípios fundamentais, mas,
pelo contrário, os desenvolve e aplica o máximo possível.
8. Anarquismo e sindicalismo

Consideramos a tendência de opor comunismo libertário a sindicalismo, e
vice-versa, artificial e desprovida de fundamento e significado.
As idéias do anarquismo e as do sindicalismo pertencem a dois planos
diferentes. Enquanto o comunismo, isto é, uma sociedade de trabalhadores
livres, é a meta da luta anarquista - sindicalismo, isto é, o movimento
revolucionário de trabalhadores nas suas ocupações, é somente uma das
formas de luta de classe revolucionária. Através da união de trabalhadores
baseada na produção, o sindicalismo revolucionário, como todos os grupos
baseados em profissões, não possui uma teoria determinada, não possui uma
concepção do mundo que responda todas as complicadas questões sociais e
políticas da realidade contemporânea. Os sindicalismo sempre reflete as
ideologias de diversos grupos políticos, notavelmente daqueles que
trabalham mais intensamente em seus postos.
Nossa postura perante o sindicalismo revolucionário origina-se do que será
dito em seguida. Sem querer tentar solucionar com antecedência a questão
de papel dos sindicatos revolucionários após a revolução, se eles serão os
organizadores de uma nova produção, ou se deixarão esta função para os
comitês de fábricas ou os soviets de trabalhadores - julgamos que os
anarquistas devem participar do sindicalismo revolucionário como sendo uma
das formas do movimento revolucionário dos trabalhadores.
Contudo, a questão colocada hoje não é se os anarquistas devem ou não
participar do sindicalismo revolucionário, mas sim como e para que fim
eles devem tomar parte.
Consideramos o período, até o dia de hoje, quando os anarquistas entraram
no movimento sindicalista como indivíduos e propagandistas, como um
período de relações artesanais direcionadas ao movimento dos trabalhadores
profissionais.
O anarco-sindicalismo, tentando introduzir forçosamente as idéias
libertárias na ala esquerda do sindicalismo revolucionário como sendo uma
forma de criar tipos de sindicatos anarquistas, representa um passo para
frente, porém ainda não deixa de ser um método empírico(1), pois o
anarco-sindicalismo não necessariamente une a 'anarquização' do movimento
sindicalista com aquela dos anarquistas organizados fora do movimento.
Pois somente dentro desta base, de tal ligação, que o sindicalismo
revolucionário pode ser 'anarquizado' e impedido de se direcionar ao
oportunismo ou reformismo.
Considerando o sindicalismo somente como um corpo profissional de
trabalhadores sem uma teoria social e política coerente, e,
consequentemente, sem poder para resolver a questão social sozinho,
acreditamos que as tarefas dos anarquistas nos postos do movimento
consiste em desenvolver a teoria libertária, e conduzi-lo em uma direção
libertária, a fim de transformá-lo em um braço ativo da revolução social.
É preciso ter sempre em mente que, se o sindicalismo não achar na teoria
anarquista um apoio nos momentos oportunos, ele se direcionará, com ou sem
nossa aprovação, para a ideologia de um partido político estatal.
As funções dos anarquistas nos postos do movimento revolucionário dos
trabalhadores puderam ser concretizadas somente sob as condições de seus
trabalhos estarem diretamente ligados e costurados à atividade da
organização anarquista fora do sindicato. Em outras palavras, devemos
entrar em sindicatos revolucionários como uma força organizada,
responsável por executar metas no sindicato perante a organização
anarquista geral e orientada por ela.
Sem nos restringirmos apenas à criação de sindicatos anarquistas, devemos
exercitar nossa influência teórica em todos os sindicatos, e de todas as
formas (a IWW, o sindicato russo). Só podemos conquistar este objetivo
trabalhando em coletivos anarquistas rigorosamente organizados; mas nunca
em pequenos grupos empíricos, que não têm entre eles nem uma ligação
organizacional nem um acordo teórico.
Grupos anarquistas em companhias, fábricas e oficinas de trabalhos,
preocupados em criar sindicatos anarquistas, levando a luta em sindicatos
revolucionários para a dominação das idéias libertárias no sindicalismo,
grupos cujas ações são organizadas por uma organização anarquista geral:
estes são as formas e os meios das posturas anarquistas quanto ao
sindicalismo.
SEÇÃO CONSTRUTIVA

A meta fundamental dos trabalhadores na luta é a fundação, por meio da
revolução, de uma sociedade comunista livre e igualitária fundada no
princípio "de cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo
com suas necessidades".
No entanto, esta sociedade não surgirá sozinha, somente pela força da
revolução. Sua concretização se dará por um processo de revolução social,
mais ou menos esquematizado, orientado pelas forças organizadas dos
trabalhadores vitoriosos em um caminho determinado.
A nossa função é indicar este caminho a partir de agora, e formular
problemas concretos e positivos que ocorrerão aos trabalhadores desde o
primeiro dia de revolução social, o resultado que depende dos acertos de
suas soluções.
É evidente que a construção de uma nova sociedade só será possível após a
vitória dos trabalhadores em cima do sistema capitalista burguês e seus
representativos. E impossível começar a construção de uma nova economia e
novas relações sociais enquanto o poder do estado, que defende o regime de
escravidão, não tiver sido esmagado, enquanto trabalhadores e camponeses
não tiverem tomado, como o objeto da revolução, a economia industrial e
agrícola.
Consequentemente, a primeira tarefa social revolucionária é esmagar o
edifício estatal do sistema capitalista, desapropriar a burguesia e todos
os elementos privilegiados em geral dos seus meios de poder, e estabelecer
acima de tudo a vontade de revolta dos trabalhadores, como é expressado
pelos princípios fundamentais da revolução social. Este aspecto agressivo
e destrutivo da revolução só pode servir para limpar o caminho para as
tarefas positivas que formam o significado e a essência da revolução
social.
Estas tarefas são as que se seguem:

1. A solução, no sentido comunista libertário, do problema da
produção industrial do país.
2. Similarmente, a solução do problema agrário.

3. A solução do problema de consumo.

Produção

Levando-se em conta que a indústria de um país é o resultado dos esforços
de várias gerações de trabalhadores e que as diversas ramificações da
indústria estão fortemente ligadas, consideramos toda produção efetiva
como uma única oficina de trabalho de produtores, pertencendo totalmente a
todos os trabalhadores juntos, e não a alguém em particular.
O mecanismo produtivo do país é global e pertence à toda classe
trabalhadora. Esta tese determina o caráter e as formas da nova produção.
Ela também será global, comum no sentido que os produtos produzidos pelos
trabalhadores pertencerão a todos. Estes produtos, de qualquer categoria
que sejam, o fundo geral de provisões para os trabalhadores, onde cada um
que participar na produção receberá aquilo que precisar, de uma forma
igual para todos.
O novo sistema de produção suplantará totalmente a burocracia e a
exploração em todas as suas formas e estabelecerá em seu lugar o princípio
de cooperação fraternal e solidariedade entre os trabalhadores.
A classe média, que em uma sociedade capitalista moderna exercita funções
intermediárias - comércio, etc., assim como a burguesia, deve tomar parte
do novo modo de produção sob as mesmas condições que todos os outros
trabalhadores. Caso contrário, estas classes se posicionarão fora da
sociedade de trabalho.
Não haverão chefes, nem empreendedores, proprietário ou proprietário
indicado pelo Estado (como é o caso atual do estado bolchevista). Nesta
nova produção, a gestão será repassada para a administração especialmente
criada pelos trabalhadores: soviets de trabalhadores, comitês de fábrica
ou gestão pelos trabalhadores de trabalhos e fábricas. Estes órgãos,
interligados ao nível de comuna, distrito e finalmente a gestão geral e
federal da produção. Construídos pelas massas e sempre sob seu controle e
influência, todos estes órgãos constantemente renovados e realizadores da
idéia de autogestão, autogestão verdadeira, pelas massas populares.
Produção unificada, na qual os meios e os produtos pertencem a todos,
tendo substituído a burocracia pelo princípio de cooperação fraternal e
tendo estabelecido direitos iguais para todo tipo de trabalho, da gestão
produtiva feito pelos órgãos do controle dos trabalhadores, eleito pelas
massas, é o primeiro passo verdadeiro no caminho para a realização do
comunismo libertário.
Consumo

Este problema aparecerá durante a revolução em duas formas:

1. O princípio da procura por produtos e consumo.

2. O princípio de sua distribuição.

Naquilo que concerne a distribuição de mercadorias aos consumidores, a
solução depende sobretudo da quantidade de produtos disponíveis e do
princípio de acordo de alvos.
A revolução social, preocupando-se com a reconstrução de toda ordem
social, toma para si também a obrigação de satisfazer as necessidades de
vida de todos. A única exceção é do grupo dos não trabalhadores - aqueles
que se negam a tomar parte na nova produção por razões
contra-revolucionárias. Mas em geral, excetuando-se a última categoria de
pessoas, a satisfação das necessidades de todos na área da revolução é
assegurada pela reserva geral de mercadorias. No caso da insuficiência de
mercadorias, elas são divididas de acordo com o princípio de maior
urgência, isto é, o caso de crianças, inválidos e famílias trabalhadoras.
Um problema ainda mais dificil é a organização de uma base para o consumo
em si.
Sem dúvidas, desde o primeiro dia da revolução, as fazendas não oferecerão
todos os produtos vitais à vida da população. Ao tempo que os camponeses
têm em abundância que falta às cidades.
Os comunistas libertários não têm dúvidas sobre o relacionamento mútuo
existente entre os trabalhadores da cidade e os do campo. Eles acreditam
que a revolução social só pode ser realizada através dos esforços iguais
de trabalhadores e camponeses. Em conseqüência, a solução do problema de
consumo na revolução só será possível por meio de uma colaboração
revolucionária direta entre estas duas categorias de trabalhadores.
Para estabelecer esta colaboração, a classe trabalhadora urbana, tendo
assumido a produção, deve imediatamente suprir as necessidades de
sobrevivência do campo e esforçar-se por prover os produtos, meios e
implementos usados na agricultura coletiva diariamente. As medidas de
solidariedade tomadas pelos trabalhadores quanto às necessidades dos
camponeses, provocarão como resposta destes o mesmo tipo de gesto, a
provisão do produto do seu trabalho coletivo para as cidades.
As cooperativas de trabalhadores e camponeses serão os principais órgãos,
assegurando às cidades e o campo suas necessidades em alimentação e
materiais econômicos. Mais tarde, sendo também responsáveis por funções
mais importantes e permanentes, como fornecer tudo que seja necessário
para garantir e desenvolver a vida social e econômica dos trabalhadores e
camponeses, estas cooperativas serão transformados em órgãos permanentes
encarregados de prover cidades e campo.
Esta solução para o problema de provisão permite ao proletariado criar um
estoque permanente de provisões, que terá um efeito favorável e decisivo
no resultado de toda nova produção.
A terra

Para a solução do problema agrário, acreditamos serem os camponeses
trabalhadores, que não exploram o trabalho de outros - e o proletariado
assalariado do campo as principais forças revolucionárias e criativas. Sua
tarefa será efetivar a redistribuição de terras no campo de forma a
estabelecer o uso e exploração da terra de acordo com princípios
comunistas.
Como a indústria, a terra, explorada e cultivada por sucessivas gerações
de trabalhadores, é o produto dos seus esforços. Também pertence a todos
os trabalhadores e a ninguém em particular, visto que é propriedade comum
e inalienável dos trabalhadores, a terra nunca mais pode ser comprada,
vendida ou alugada: ela não pode, portanto, servir como um meio de
exploração do trabalho de outros.
A terra é também uma espécie de oficina de trabalho geral e pública, onde
as pessoas produzem os meios pelos quais vivem. Mas é o tipo de oficina
onde cada trabalhador (camponês) se acostumou, graças à certas condições
históricas, a realizar seu trabalho sozinho, independente de outros
produtores. Enquanto, na indústria, o método coletivo de trabalho é
essencial e o único caminho possível nos dias de hoje, a maioria dos
camponeses cultiva a terra por conta própria.
Consequentemente, quando a terra e os meios para sua exploração são
assumidos pelos camponeses, sem possibilidade de venda ou arrendamento, a
questão das formas de utilização e os métodos de exploração (comunitário
ou familiar) não achará uma solução completa e definitiva imediatamente,
como no setor industrial. De início, provavelmente ambos os métodos serão
usados.
Serão os próprios camponeses revolucionários que estabelecerão os termos
definitivos de exploração o utilização da terra. Nenhuma pressão vinda de
fora será possível quanto à esta questão.
Contudo, já que consideramos que somente uma sociedade comunista, pela
qual a revolução social será realizada, retira os trabalhadores da sua
situação de escravidão e exploração e lhes dá total liberdade e igualdade;
já que os camponeses constituem a grande maioria da população (quase 85%
na Rússia na época tratada aqui) e, consequentemente, o regime agrário que
eles estabeleceram será o fator decisivo do destino da revolução; e,
finalmente, já que uma economia privada para a agricultura, assim como em
uma indústria privada, leva a um comércio, acumulação, propriedade privada
e restauração de capital - nosso dever será o de fazer tudo possível,
desde agora, para facilitar a solução do problema agrário de uma forma
coletiva.
Para tal, precisamos, desde já, nos engajar em uma propaganda enérgica
entre os camponeses a favor de uma economia agrária coletiva.
A fundação de um sindicato especificamente dos camponeses libertários,
facilitará consideravelmente esta tarefa.
A respeito disto, o progresso técnico será de grande importância,
facilitando a evolução da agricultura, assim como a concretização do
comunismo nas cidades e, acima de tudo, na indústria. Se os trabalhadores
industriais agirem junto aos camponeses, não individualmente ou em grupos
separados, mas sim como um imenso coletivo comunista, abraçando todos os
ramos da indústria; se, além disso, eles manterem em mente as necessidades
do campo e se, ao mesmo tempo, suprirem cada vila com coisas usadas
diariamente, ferramentas e máquinas para a exploração coletiva das terras,
os camponeses se sentirão impelidos a aplicar o comunismo na agricultura.
A defesa da revolução

A questão da defesa da revolução também está ligada ao problema do
'primeiro dia'. Basicamente, o meio mais poderoso para a defesa da
revolução é a solução feliz para seus problemas positivos: produção,
consumo, e a terra. Assim que se resolver corretamente estes problemas.
nenhum contra-revolucionário será capaz de alterar ou desequilibrar a
sociedade livre de trabalhadores. No entanto, os trabalhadores terão de
sustentar uma luta ferrenha contra os inimigos da revolução, a fim de
manter sua existência concreta.
A revolução social, que ameaça os privilégios e a própria existência das
classes não-trabalhadoras da sociedade, provocará inevitavelmente uma
resistência desesperada por parte destas classes, que tomará a forma de
uma violenta guerra civil.
Como podemos perceber pelo que aconteceu na Rússia, uma guerra civil como
tal não será uma questão de poucos meses, mas sim de muitos anos.
Não importando quão bem sucedidos sejam os primeiros passos dos
trabalhadores no início da revolução, as classes dominantes irão conservar
uma enorme capacidade de resistência por muito tempo. Por muitos anos elas
irão lançar ofensivas contra a revolução, tentando reconquistar o poder e
os privilégios dos quais foram desprovidas.
Uma grande exército, estratégias e técnicas militares, capital - serão
jogados contra os trabalhadores vitoriosos.
De forma a preservar as conquistas da revolução, os trabalhadores devem
criar órgãos para a defesa da revolução, para assim fazer oposição às
ofensivas reacionárias com uma força guerrilheira que corresponda à
magnitude da tarefa. Nos primeiros dias da revolução, esta força
guerrilheira será formada por todos os trabalhadores e camponeses armados.
Mas esta força armada espontânea só será valiosa durante os primeiros
dias, antes de a guerra civil alcançar seu pico e os dois partidos em luta
terem criado organizações militares regularmente constituídas.
Na revolução social o momento mais crítico não é durante a supressão da
Autoridade, mais sim o que se segue, que é quando as forças do regime
derrotado lançam uma ofensiva geral contra os trabalhadores, e quando se
trata de uma questão de se guardar bem as conquistas sob ataque. O caráter
próprio desta ofensiva, assim como as técnicas e o desenvolvimento da
guerra civil, obrigarão os trabalhadores a criar certos contingentes
militares revolucionários. A essência e os princípios fundamentais destas
formação deverão ser decididos com antecedência. Ao negar os métodos de
governo estatais e autoritários, também estaremos negando o método estatal
de organizar as forças militares de trabalhadores, em outras palavras, os
princípios de um exército estatal baseado no serviço militar obrigatório.
Sendo coerente com as posições fundamentais do comunismo libertário, o
princípio de serviço voluntário deve ser a base das formação militares de
trabalhadores. As repartições de guerrilheiros insurgentes, trabalhadores
e camponeses, que lideraram a ação militar na revolução russa, podem ser
citadas como exemplos de tais formações.
No entanto, 'serviço voluntário' e a ação de guerrilheiros não deve ser
entendida no sentido estrito da palavra, que é o de uma luta de
repartições de trabalhadores e camponeses contra o inimigo local, não
coordenada por um plano geral de operação e cada uma agindo sob sua
própria responsabilidade, sob seu próprio risco. A ação e as táticas
usadas pelos guerrilheiros no período de seu desenvolvimento completo
devem ser guiadas por uma estratégia revolucionária comum. Como em todas
as guerras, a guerra civil não pode ser financiada com êxito pelos
trabalhadores, a menos que eles apliquem os dois princípios fundamentais
de qualquer ação militar: unidade no planejamento de operações e unidade
de comando em comum. O momento mais crítico da revolução virá quando a
burguesia marchar contra a revolução como uma força organizada. Este
momento crítico obriga os trabalhadores a adotar estes princípios de
estratégia militar.
Desta maneira, em vista das necessidades impostas pela estratégia militar
e também pela estratégia contra-revolucionária, as forças armadas da
revolução deve, inevitavelmente, ser baseada em um exército revolucionário
geral com um comando em comum e planejamento de operações. Os princípios
que se seguem formam a base para este exército.
(a) o caráter de classe do exército;

(b) serviço voluntário (qualquer coação será completamente
excluída da tarefa de defender a revolução);
(c) disciplina revolucionária livre (autodisciplina) (serviço
voluntário e autodisciplina revolucionária são perfeitamente
compatíveis, e dão ao exército revolucionário mais moral do que
qualquer exército do estado);
(d) submissão total do exército revolucionário às massas de
trabalhadores e camponeses como são representadas pelas
organizações de trabalhadores e camponeses comum por todo país,
e estabelecidas pelas massas nos setores de controle da vida
econômica e social.
Em outras palavras, o órgão de defesa da revolução, responsável por
combater a contra-revolução, por grandes frentes militares assim como por
uma frente interna (complôs burgueses, preparação para ação
contra-revolucíonária), estará inteiramente sob a jurisdição das
organizações produtivas dos trabalhadores e camponeses, às quais será
submisso, e pelas quais receberá seu direcionamento político.
Observação: ao mesmo tempo que deve ser conduzido em conformidade com
princípios comunistas libertários definitivos, o exército em si não deve
ser considerado um ponto de princípio. Não é nada além de uma conseqüência
de estratégia militar na revolução, uma medida estratégica que os
trabalhadores são fatalmente forçados a tomar devido o processo de guerra
civil. Mas esta medida deve chamar atenção a partir de agora. Deve ser
estudada cuidadosamente a fim de evitar quaisquer contratempos
irreparáveis no trabalho de proteção e defesa da revolução, pois os
contratempos em uma guerra civil podem provar ser desastrosos ao resultado
de toda revolução social.
SEÇÃO ORGANIZACIONAL

As posições gerais, construtivas expressadas acima constituem a plataforma
organizacional das forças revolucionárias do anarquismo.
Esta plataforma, contendo uma orientação tática e teórica definitiva,
parece ser o mínimo necessário e urgente para reunir todos os militantes
do movimento anarquista organizado.
Sua tarefa é agrupar ao seu redor todos os elementos saudáveis do
movimento anarquista em uma organização geral, ativa e agitadora em uma
base permanente: a União Geral dos Anarquistas. As forças de todos os
militantes anarquistas devem ser orientadas em direção à criação desta
organização.
Os princípios fundamentais para a organização de uma União Geral de
anarquistas são os seguintes:
1. Unidade Teórica

A teoria representa a força que orienta a atividade de pessoas e
organizações por uma trilha definida e direcionada a um objetivo
determinado. Naturalmente, ela deve ser comum a todas as pessoas e
organizações aderentes à União Geral. Qualquer atividade realizada pela
União Geral, tanto no global quanto em seus detalhes, deve estar em
perfeita concórdia com os princípios teóricos professados pelo coletivo.
2. Unidade Tática ou o Método Coletivo de Ação

Da mesma forma, os métodos táticos aplicados pelos membros e grupos
isolados dentro da União devem ser unitários, ou seja, estar em concórdia
rigorosa tanto entre si quanto com a teoria e a tática da União.
Uma linha tática comum no movimento é de importância decisiva para a
existência da organização e para o movimento todo: ela elimina o efeito
desastroso de várias táticas que se opõe entre si, concentra as forças do
movimento, oferece à elas uma direção em comum levando, portanto, a um
objetivo fixo.
3. Responsabilidade Coletiva

A prática de agir sob a responsabilidade de um indivíduo deve ser
decididamente condenada e rejeitada nos postos do movimento anarquista. As
áreas da vida revolucionária, sociais e políticas, são, acima de tudo,
profundamente coletivas por natureza. A atividade social revolucionária
nesta áreas não pode ser baseada na responsabilidade de indivíduos
militantes.
O órgão executivo do movimento anarquista geral, a União Anarquista, ao
tomar uma posição definitiva contra a tática de individualismo
irresponsável, introduz em seus postos o princípio de responsabilidade
coletiva: a União toda será responsável pela atividade política e
revolucionária de cada membro; da mesma forma, cada membro será
responsável pela atividade política e revolucionária de União como um
todo.
4. Federalismo

O anarquismo sempre negou o conceito de organização centralizada, tanto na
área da vida social das massas quanto na sua ação política. O sistema
centralizado depende na diminuição do espírito crítico, iniciativa e
independência de cada indivíduo e na submissão cega das massas ao
'centro'. As conseqüências naturais e inevitáveis deste sistema são a
escravidão e a mecanização da vida social e da vida da organização.
Sendo contra a centralização, o anarquismo sempre professou e defendeu o
princípio de federalismo, que concilia a independência e a iniciativa dos
indivíduos e da organização que servem à causa comum.
Ao conciliar a idéia de independência e alto grau dos direitos de cada
indivíduo com o serviço das carências e necessidades sociais, o
federalismo abre as portas para toda manifestação saudável das faculdades
de todo indivíduo.
Mas, freqüentemente, o principio federalista tem sido deformado nos postos
anarquistas: ele tem sido interpretado como o direito, acima de tudo, de
manifestar o 'ego' de alguém, sem a obrigação de arcar com os deveres para
com a organização.
Esta falsa interpretação já desorganizou nosso movimento no passado. Está
na hora de pôr um fim a isso de uma forma firme e irreversível.
A federação significa a concordância livre entre indivíduos e organizações
a trabalhar coletivamente em rumo a um objetivo comum.
Contudo, tal acordo e federação, que é baseada nele, só poderão se tornar
realidade, ao invés de ficção ou ilusão, sob as condições essenciais de
que todos os participantes do acordo e a União cumpram completamente os
deveres assumidos, e conforme as decisões compartilhadas. Em se tratando
de um projeto social, independente de quão vasta seja a base federalista
na qual é construído, não podem haver decisões que não sejam executadas. É
ainda menos admissível em uma organização anarquista, que assume
exclusivamente obrigações relacionadas aos trabalhadores e sua revolução
social.
Consequentemente, o tipo federalista de organização anarquista, ao mesmo
tempo que reconhece os direitos de independência, opinião livre, liberdade
individual e iniciativa de cada membro, requer deles que assumam deveres
organizacionais fixos, e exige a execução de decisões compartilhadas.
Somente com esta condição o princípio federalista terá vida, e a
organização anarquista funcionará corretamente, e se guiará em direção do
objetivo definido.
A idéia da União Geral dos Anarquistas expõe o problema de coordenação e
concordância das atividades de todas as forças do movimento anarquista.
Cada organização aderente à União representa uma célula vital do organismo
todo. Cada célula deve ter seu secretariado, executando e guiando
teoricamente o trabalho político e técnico da organização.
Visando a coordenação da atividade de todas as organizações aderentes da
União, um órgão especial será criado: o comitê executivo da União. O
comitê será responsável pelas seguintes funções: a execução das decisões
tomadas pela União com as quais são confiados; a orientação teórica e
organizacional da atividade de organizações isoladas consistente com as
posições teóricas e a linha geral tática da União; a monitoração do estado
geral do movimento; a manutenção das relações de trabalho e
organizacionais entre todas as organizações da União; e com outras
organizações.
Os direitos, responsabilidades e tarefas efetivas do comitê executivo são
fixados pelo congresso da União. A União Geral dos Anarquistas tem uma
meta concreta e determinada. Em nome do sucesso da revolução social ela
deve, acima de tudo, atrair e absorver os elementos mais revolucionários e
altamente críticos dos operários e camponeses.
Exaltando a revolução social, e mais ainda, sendo uma organização
anti-autoritária que aspira à abolição da sociedade de classes, a União
Geral dos Anarquistas depende igualmente da duas classes fundamentais da
sociedade: os operários e os camponeses. Ela põe peso igual sob o trabalho
de emancipação destas duas classes.
Quanto aos sindicatos dos trabalhadores e as organizações revolucionárias
das cidades, a União Geral dos Anarquistas terá de dedicar todos os seus
esforços para ser seu pioneiro e guia teórico.
Ela assume a mesma tarefa em relação às massas exploradas de camponeses.
Assim como pretende ter o mesmo papel que o sindicato revolucionário dos
trabalhadores, a União se esforça por efetivar a criação de uma rede de
organizações econômicas revolucionárias dos camponeses, além disso, uma
união específica de camponeses, fundada a partir de princípios
anti-autoritários.
Nascida da massa de pessoas trabalhadoras, a União Geral deve tomar parte
de todas as manifestações de suas vidas, levando a eles o espírito de
organização, perseverança e ofensiva em todas as ocasiões. Somente desta
forma ela poderá concretizar sua tarefa, sua missão teórica e histórica na
revolução social dos trabalhadores, e se tornar a vanguarda organizada do
seu processo de emancipação.
Nestor Mhakno, Ida Mett, Piotr Archinov, Valevsky, Linsky 1927

(1) baseado em observações ou experiências e não em teoria.




*******
****** Serviço de Notícias A-Infos *****
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
******
INFO: http://ainfos.ca/org http://ainfos.ca/org/faq.html
AJUDA: a-infos-org@ainfos.ca
ASSINATURA: envie correio para lists@ainfos.ca com a frase no corpo
da mensagem "subscribe (ou unsubscribe) nome da lista seu@enderço".

Indicação completa de listas em:http://www.ainfos.ca/options.html


A-Infos Information Center