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{Info on A-Infos}
(pt) MAKHNO E LENIN: Debate histórico
From
a-infos-pt@ainfos.ca
Date
Sun, 24 Aug 2003 15:50:48 +0200 (CEST)
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A - I N F O S S e r v i ç o de N o t í c i a s
Notícias sobre e de interesse para anarquistas
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No verão de 1918, quando a Ucrânia foi invadida pelos exércitos austríaco
e alemão, Makhno teve que marchar à Russia central e aproveitou sua
estadia em Moscou para debater e dialogar com algumas das personalidades
mais destacadas e conversar sobre a luta e a revolução que se
desenvolviam. Entre elas figura Lênin. O diálogo foi preparado por
Sverdlov, um dos membros mais proeminentes do bolchevismo russo, de quem
Lênin sempre atendia os conselhos, considerando-o como seu professor. Na
época do debate, Sverdlov era o presidente do Comitê Executivo dos Soviets
da Pan-Rússia, e concedendo muita importância à personalidade de Makhno,
se ocupou pessoalmente de todo o necessário para que este pudesse
encontrar-se com Lênin. A conversa teve lugar no Kremlin, diante de
Sverdlov, e durou cerca de duas horas.Aqui está como a descreve o próprio Makhno:
“Lênin, que se interessava muito sobre o que acontecia na Ucrânia, ocupada
pelos exércitos invasores, me perguntou várias vezes sobre a atitude dos
camponeses ucranianos e, sobretudo, queria saber como haviam recebido os
campneses da Ucrânia o lema “todo poder aos soviets locais”. Expliquei que
os camponeses interpretara este lema a sua maneira. Segundo eles, “todo
poder aos soviets locais” queria dizer que o poder, em todos seus
aspectos, devia se exercer diretamente com o consentimento e vontade dos
trabalhadores; que os soviets dos deputados, operários e camponeses,
locais e regionais, não eram outra coisa que as unidades coordenadoras das
forças revolucionárias e da vida econômica, enquanto durara a luta que os
trabalhadores sustentavam contra a burguesia e seus aliados, os
socialistas de direita e seu governo de coalizão.- Você crê que esta interpretação é adequada?- me perguntou.
- Sim - respondi.
- Neste caso, o campesinato daquela região está infestado pelo anarquismo.
- Isto é mal?
- Não quero dizer isso, ao contrário. Isto me causaria regozijo, pois
adiantaria a vitória do comunismo sobre o capitalismo e seu poder.- Isto é muito lisonjeiro para mim- insinuei.
- Não, não, volto a afirmar seriamente que um fenômeno desta natureza na
vida dos camponeses adiantaria a vitória do comunismo sobre o capitalismo;
mas eu creio que este fenômeno no campesinato não é natural. Foi
introduzido em suas fileiras pelos propagandistas anarquistas e pode ser
prontamente esquecido. Até estou predisposto a crer que este espírito, não
organizado, ao ver-se sob os golpes da contra-revolução triunfante, já
desapareceu.Adverti a Lênin que um grande líder não podia ser pessimista nem cético, e
depois de conversar sobre vários temas me perguntou que pensava fazer em
Moscou. Ao que respondi que não tinha intenção de ficar naquela capital
mas de regressar à Ucrânia.- Você irá à Ucrânia clandestinamente?- me perguntou.
- Sim - respondi.
Lênin, dirigindo-se ao senhor Sverdlov, disse:
- Os anarquistas sempre estão dispostos a toda classe de sacrificios; são
abnegados, mas também cegos e fanáticos. Deixam escapar o presente por um
futuro distante.Voltando-se para mim pediu que não me desse por citado nestas palavras.
- A você, companheiro –afirmou- o considero como um homem de realidades,
que está preocupado pelos problemas atuais. Se na Rússia tivéssemos pelo
menos uma terça parte desta classe de anarquistas, nós, os comunistas,
estaríamos dispostos a colaborar com eles sob certas condições, em prol da
livre organização da produção.Adverti que começava a estimar a Lênin, a quem até fazia pouco tempo havia
considerado como o culpado pela destruição de todas las organizações
anarquistas de Moscou, o que foi o sinal para destruir las de outras
muitas capitais da Rússia. Em meu interior começava a envergonhar-me de
mim mesmo e buscava rapidamente uma resposta adequada. Disse o seguinte:- Todos os anarquistas apreciam muito a revolução e suas conquistas. Isto
nos demonstra que neste sentido todos somos iguais.- Não me diga isto você –retrucou rindo Lênin-. Nós conhecemos aos
anarquistas tanto como os conhece você mesmo. A maioria deles, ou não
pensam nada sobre o presente, ou pensam bem pouco, apesar da gravidade. E
para um revolucionário é vergonhoso não tomar resoluções positivas sobre o
mesmo. A maioria dos anarquistas pensam e escrevem sobre o porvir, sem
entender o presente. Isto é o que nos separa a nós, os comunistas, dos
anarquistas.Ao pronunciar esta última frase, Lênin se levantou da cadeira, e passeando
pelo salão, acrescentou:- Sim, sim: os anarquistas são fortes nas idéias sobre o porvir, mas no
presente não pisam terreno firme e são deploráveis, já que não tem nada em
comum com este presente.A tudo isto respondi a Lênin que eu era um camponês semi-analfabeto e que
sobre aquele abstrato assunto dos anarquistas, tal como ele me expunha,
não sabia discutir. Mas disse:- Suas afirmações, companheiro Lênin, de que os anarquistas não
compreendem o presente e que não têm nenhuma relação com ele, são
equivocadas. Os anarco-comunistas da Ucrânia ou do sul da Rússia, como
dizem vocês os comunistas bolcheviques, têm dado já demasiadas provas que
demonstram sua compenetração com o presente. Toda a luta revolucionária do
povo ucraniano contra a Rada Central da Ucrânia se tem levado sob a
direção das idéias anarco-comunistas e também, em parte, sob a influência
dos Socialistas Revolucionários, os quais –há que dizer a verdade- ao
lutar contra a Rada Central, tinham finalidades muito distintas das
nossas. Nos povos da Ucrânia quase não existem bolcheviques, e ali onde há
alguns, sua influência é nula. Quase todas as Comunas Agrícolas tem sido
criadas por iniciativa dos anarco-comunistas. A luta armada do povo da
Ucrânia contra a reação e, muito especialmente, contra os exércitos
expedicionários de austríacos, alemães e húngaros, foi iniciada e
organizada sob a ideologia e direção dos anarco-comunistas. A verdade é
que vocês, tendo em conta os interesses de vosso partido, encontram
inconvenientes para reconhecê-lo; mas tudo isto são fatos inegáveis. Vocês
sabem muito bem a qualidade e a capacidade combativa de todos os
destacamentos revolucionários da Ucrânia. Não em vão sublinharam o valor
com que aqueles destacamentos tem defendido nossas conquistas
revolucionárias. Pois bem: mais da metade deles íam à luta sob a bandeira
anarquista. Os chefes de destacamento Makrousov, Nikiforoba, Cheredniak,
Garen, Cherñak, Luñev e muitos outros cuja relação seria demasiado
prolíxa, são anarquistas comunistas. Não falo de mim pessoalmente, como
tampouco do grupo ao qual pertenço, mas daqueles destacamentos e batalhões
voluntários para a defesa da revolução, os quais tem sido criados por nós
e não podem ser desconhecidos por vossos altos comandos da Guarda
Vermelha. Tudo isto demonstra o quão equivocadas são as suas
manifestações, companheiro Lênin, de que nós, os anarquistas, somos
incorrigíveis e débeis no “presente”, apesar de que nos agrada muito
pensar no porvir. O que foi dito demonstra a todos, e também a você, que
nós, os anarco-comunistas, estamos compenetrados com o presente,
trabalhamos nele, e precisamente na luta buscamos a aproximação do futuro,
sobre o qual pensamos muito e seriamente. Sobre ele não pode caber dúvida.
Isto é, precisamente, todo o contrário da opinião que têm vocês de nós.Naquele momento olhei para o presidente do Comitê Central Executivo dos
Soviets, Sverdlov, que havia corado.Lênin, abrindo os braços, me disse:
- Pode ser que eu esteja equivocado.
- Sim, sim –adverti-; neste caso você tem estas opiniões sobre os
anarquistas porque está muito mal informado da realidade na Ucrânia, e
porque tem todavia piores informações sobre o papel que nós desempenhamos
na mesma.- Pode ser. Eu não nego. Todo homem pode equivocar-se e muito
especialmente em uma situação como na qual nos encontramos nestes
momentos- disse Lênin, terminando a conversa sobre o tema.”Pelo tom, de certo modo respeitoso, com que Lênin debateu com Makhno, se
poderia pensar que o movimento encabeçado por este último seria, quando
menos, respeitado, ainda que não fomentado; mas o próprio Lênin ordenou
umas vezes e consentiu outras que o movimento makhnovista e qualquer outra
manifestação anarquista fossem implacavelmente combatidos. Este ódio
contra o anarquismo se manifestou de forma histérica em León Trotski, que
foi o real organizador da implacável repressão que sofreu o movimento
anarquista russo. Milhares de anarquistas e simpatizantes foram
aniquilados desde antes da luta que a makhnovitchina sustentou contra as
forças cegas dos exércitos bolcheviques.
Citado da Enciclopédia Anarquista, editada em 1971 em México D.F. pelo
grupo Tierra y Libertad
ANEXO:
“Com certeza, não é possível deixar de ocupar-se do movimento de massas na
Ucrânia, sobretudo se estuda-se a Revolução russa desde o ângulo que eu a
encaro.Este movimento desempenhou na Revolução um papel excepcionalmente
importante, mais ainda que o de Kronstadt, em razão de sua extensão, sua
persistência, seu caráter essencialmente popular, a clareza de sua
tendência ideológica e, por fim, as tarefas e obras que realizou.Agora bem: as obras sobre a Revolução russa, de toda índole, guardam
silêncio sobre este movimento ou só falam dele em poucas linhas e com
propósito difamatório.Em suma, a epopéia ucraniana permanece, até o presente, pouco menos que
desconhecida, apesar de ser, entre os elementos da Revolução desconhecida,
o mais notável por certo.Ainda a nutrida obra de Archinov (320 páginas na edição castelhana da
Editorial Argonauta, 1926) não é senão um resumo. O movimento ucraniano,
tratado como se merece, deveria ocupar vários volumes. Só os documentos,
de grande valor histórico, a ele relativos requereriam centenas de
páginas. Archinov não pode reproduzí-los apenas em ínfima parte.
Naturalmente, uma obra de tal extensão incumbirá aos historiadores
futuros, que disporão de todas as fontes desejáveis. Contudo, este
movimento deve ser posto à luz o melhor possível, desde já.Tais considerações contraditórias me determinaram finalmente a:
1.Aconselhar a leitura da obra fundamental de Piotr Archinov.
2.Aportar o essencial do movimento, aproveitando sobretudo a documentação
de Archinov.3.Completar a exposição com detalhes extraídos das obras de Néstor Makhno.
(...) Os numerosos destacamentos de guerrilheiros -os existentes e os que
se iam formando- se coligavam aos grupos de Makhno a procura de unidade de
ação. A necessidade desta unidade e de uma ação generalizada era
reconhecida por todos os guerrilheiros revolucionários. E todos coincidiam
em que ela seria satisfeita melhor sob a direção de Makhno. Esta era
também a opinião de vários destacamentos de insurretos, até então
independentes entre si, entre eles o grande corpo dirigido por Kurilenko,
que operava na região de Berdiansk, o de Stchuss, na região de Debrivka, o
de Petrenko-Platonoff, na de Grichino, e outros, que se uniram
espontâneamente ao destacamento de Makhno. Assim, a unificação das
unidades desligadas de guerrilheiros na Ucrânia meridional em um só
exército insurreto sob o mando supremo de Makhno, se fez de modo natural,
por força das coisas e vontade das massas.” (Citado do livro de Volin A
Revolução Desconhecida)
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