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(pt) EUA - ISRAEL - PALESTINA [Artigo de N. Chomsky, publicado no nº 192 de A BATALHA]

From Worker <a-infos-pt@ainfos.ca>
Date Fri, 7 Jun 2002 11:52:26 -0400 (EDT)


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      A - I N F O S  S e r v i ç o  de  N o t í c i a s
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EUA -- ISRAEL -- PALESTINA

Há um ano o sociólogo Baruch Kimmerling da Universidade Hebraica, 
comentou: "Aquilo que temíamos aconteceu". Judeus e palestinianos 
"regressam a um tribalismo supersticioso... A guerra parece ser um destino 
inevitável", uma "maldita guerra colonial". Esta ano, após a invasão 
israelita de campos de refugiados, o seu colega Ze'ev Sternhel escreveu 
que "no Israel colonial... a vida humana é barata". Os dirigentes "já não 
se envergonham de falar em guerra quando estão realmente empenhados no 
policiamento colonial, que recorda o reassumir do controlo dos bairros 
negros pobres pela polícia branca, na África do Sul, na era apartheid." 
Ambos realçam o óbvio: não há simetria entre os "grupos 
etnico-nacionais" que regressam ao tribalismo. O conflito centra-se em 
territórios que estiveram sob dura ocupação militar durante 35 anos. O 
conquistador é uma grande potência militar, actuando com enorme apoio 
militar, económico e diplomático da superpotência global. Os seus 
súbditos estão sós e indefesos, muitos deles sobrevivendo a custo em 
campos miseráveis, constantemente sujeitos ao terror mais brutal, do 
tipo bem conhecido das "malditas guerras coloniais", e praticando agora, 
como vingança, terríveis atrocidades.
O "processo de paz" de Oslo alterou as modalidades da ocupação, mas não 
o seu conceito básico. Pouco entes de integrar o ministério de Ehud 
Barak, o historiador Shlomo Ben-Ami escreveu que "os acordos de Oslo 
tinham como fundamento uma base neocolonialista, a dependência 
permanente duma parte relativamente a outra". Ben-Ami tornou-se 
rapidamente num arquitecto das propostas de Israel- Estados Unidos em 
Camp David, no verão de 2000, que se manteve fiel àqueles pressupostos. 
Os acordos foram altamente elogiados nos comentários norte-americanos. 
Os palestinianos e o seu maldito dirigente foram acusados pelo fracasso 
do plano e pela violência subsequente. Mas isto foi uma completa 
"fraude", como referiu Kimmerling e a totalidade dos comentadores honestos.
Na verdade, Clinton-Barak deram alguns passos na criação dum modelo tipo 
Bantustão. Imediatamente antes de Camp David os palestinianos da margem 
ocidental foram confinados em 200 áreas dispersas, e Clinton-Barak 
propuseram uma melhoria: consolidação em três cantões, sob controlo 
israelita, praticamente separados uns dos outros e de um quarto enclave, 
uma pequena área de Jerusalém oriental, centro da vida palestiniana e 
das comunicações na região. No quinto cantão, Gaza, não houve definição 
precisa excepto que a população permaneceria de igual modo virtualmente 
prisioneira. É compreensível que se não encontrem mapas nem quaisquer 
registos pormenorizados das propostas nos Estados Unidos.
Ninguém pode honestamente duvidar do papel decisivo que os EUA 
continuarão a desempenhar. É pois de crucial importância compreender o 
que tem sido este papel e como ele é entendido internamente. A versão 
das "pombas" é apresentada pelos editores do New York Times (7 de 
Abril), elogiando o presidente pelo seu "discurso que abre um caminho" e 
pela "perspectiva emergente" que configura. O seu primeiro elemento é 
"terminar o terrorismo palestiniano", de imediato. Algum tempo depois 
vem "o congelamento, seguido de retirada, dos colonatos judaicos e a 
negociação de novas fronteiras" para terminar a ocupação e permitir o 
estabelecimento de um Estado palestiniano. Se o terror palestiniano 
terminar os israelitas serão encorajados a "aceitar a proposta histórica 
da Liga Árabe de uma paz total e o reconhecimento de Israel em troca de 
uma retirada mais séria". Mas primeiro os dirigentes palestinianos devem 
demonstrar que são "parceiros diplomáticos legítimos".
O mundo real tem poucas semelhanças com este quadro para uso próprio - 
praticamente copiado do dos anos 80, quando EUA e Israel procuravam 
desesperadamente escamotear as propostas de negociação e acordo político 
da OLP e mantinham a exigência de não negociar com a OLP, nem aceitavam 
um "Estado palestiniano adicional" (uma vez que a Jordânia já era um 
Estado palestiniano), nem "nenhuma alteração na situação da Judeia, 
Samaria e Gaza que não esteja de acordo com as directrizes básicas do 
governo (israelita)" (Plano de coalizão Peres-Shamir, de Maio 1989, 
sancionado por Bush I no plano Baker de Dezembro de 1989). Nada disto 
foi publicado, como já anteriormente acontecera, embora os comentários 
denunciassem os palestinianos por indubitavelmente comprometidos com o 
terrorismo, solapando assim os esforços humanitários dos EUA e seus aliados.
No mundo real, a primeira barreira à "perspectiva emergente" tem sido, e 
continua a ser, a rejeição sistemática e unilateral dos EUA. Há poucas 
novidades na "proposta histórica da Liga Árabe". Repete os termos 
básicos da Resolução do Conselho de Segurança de Janeiro de 1976, 
apoiado virtualmente por todo o mundo, incluindo os Estados árabes mais 
importantes, a OLP, a Europa e o Bloco Soviético - de facto todos os 
apoios relevantes. Teve a oposição de Israel e o veto dos EUA, que assim 
a vetou para a história. A Resolução apelava a uma solução em fronteiras 
internacionalmente reconhecidas "com as disposições adequadas... para 
garantir... a soberania, integridade territorial e independência política 
de todos os Estados da área e o seu direito a viver em paz no interior 
de fronteiras seguras e reconhecidas" - com efeito, uma modificação da 
ONU 242 (tal como foi igualmente interpretado pelos EUA), ampliada para 
incluir o Estado palestiniano. Iniciativas semelhantes pelos Estados 
árabes, da OLP e da Europa têm sido desde então bloqueadas pelos EUA e 
pela maior parte suprimidas ou negadas nos comentários públicos.
A rejeição sistemática pelos EUA já durava há 5 anos (desde Fevereiro de 
1971) quando o presidente Sadat, do Egipto, propôs em Israel um tratado 
de paz completo em troca da retirada israelita do território egípcio, 
sem mencionar os direitos nacionais dos palestinianos ou o destino 
doutros territórios ocupados. O governo trabalhista de Israel reconheceu 
a genuinidade desta proposta de paz, mas rejeitou-a, porque tencionava 
estender os seus colonatos para nordeste do Sinai; o que rapidamente 
fez, com extrema brutalidade, e foi a causa precipitante da guerra de 
1973. Israel e os EUA compreenderam que a paz era possível em 
concordância com a política oficial norte-americana. Mas, como explicou 
Ezer Weizmann, dirigente do partido trabalhista (depois presidente), 
esta solução não permitia a Israel "existir de acordo com a escala, 
espírito e qualidade que agora corporiza". O comentador israelita Amos 
Elon escreveu que Sadat gerou o "pânico" entre os dirigentes políticos 
israelitas quando anunciou o seu desejo de "estabelecer um acordo de paz 
com Israel, e respeitar a sua independência e soberania dentro de 
'fronteiras seguras e reconhecidas'".
Kissinger conseguiu bloquear a paz, instituindo a sua preferência pelo 
que designava de "xeque-mate": nada de negociações, só força. As 
propostas de paz jordanas foram também rejeitadas. Desde essa altura a 
política oficial dos Estados Unidos permanece a do consenso 
internacional quanto à retirada - até Clinton, que efectivamente 
rescindiu as resoluções da ONU e as considerações de direito 
internacional. Mas, na prática, a política tem seguido as linhas mestras 
de Kissinger, aceitando negociações só quando compelida a fazê-lo, como 
Kissinger após a quase derrocada da guerra de 1973, de que foi um grande 
responsável, e nas condições redigidas por Ben Ami.
Os planos para os palestinianos seguiram as orientações formuladas por 
Moshe Dayan, um dos dirigentes trabalhistas mais favorável à proposta 
palestiniana. Ele aconselhou o seu governo de que Israel deveria tornar 
claro aos refugiados que "não temos nenhuma solução, vocês continuarão a 
viver como cães e quem o desejar pode ir-se embora, e veremos aonde este 
processo conduz". Quando interpelado respondeu, citando Ben-Gurion, que 
disse "quem abordar o problema Sionista dum ponto de vista moral não é 
sionista". Poderia também haver citado Chaim Weizmann, que afirmou ser o 
destino de "várias centenas de milhar de negros" na pátria judaica "uma 
questão irrelevante".
Não surpreende pois que o princípio orientador da ocupação tenha sido o 
de uma humilhação incessante e degradante, conjuntamente com tortura, 
terror, destruição de propriedades, deslocação de populações e 
instalação de colonatos, apoderando-se ainda dos recursos básicos, 
nomeadamente da água, que é crucial. É evidente que isto necessitou do 
apoio decisivo dos Estados Unidos, que se estendeu até aos anos de 
Clinton-Barak. "O governo de Barak deixou ao governo de Sharon um legado 
surpreendente", relatou a imprensa israelita quando se deu a 
transferência: "o maior número de casas em construção nos territórios 
desde o tempo em que Ariel Sharon foi ministro da Construção e Colonatos 
em 1992, antes dos acordos de Oslo" - com fundos proporcionados pelo 
contribuinte norte-americano, enganado por histórias fantásticas de 
"perspectivas" e de "magnanimidade" dos dirigentes norte-americanos, 
realçadas pelo contraste com o comportamento de terroristas como Arafat, 
que abusou da "nossa confiança", e talvez também por alguns extremistas 
judeus que reagem excessivamente aos crimes do dirigente palestiniano.
Edward Walker, responsável oficial do Departamento de Estado para aquela 
região na administração Clinton, explica sucintamente como deve actuar 
Arafat para readquirir a nossa confiança. O extraviado Arafat deve 
anunciar sem ambiguidades que "nós pomos o nosso futuro e destino nas 
mãos dos EUA", país que durante os últimos 30 anos conduziu a campanha 
para destruir os direitos palestinianos.
Comentadores mais sérios reconheceram que a "proposta histórica" repetia 
em larga medida o Plano Fahd, saudita, de 1981 - solapado, disse-se, 
pela recusa árabe em aceitar a existência de Israel. Os factos são, de 
novo, bastante diferentes. O plano de 1981 foi solapado sim pela reacção 
israelita, condenada como "histérica" pela sua principal imprensa. 
Shimon Peres preveniu que o Plano Fahd "ameaçava a própria existência de 
Israel". O presidente Haim Herzog acusou o Plano Fahd de ter por 
"verdadeiro autor" a OLP, e de ser mesmo mais radical do que a Resolução 
do Conselho de Segurança de Janeiro de 1976 que foi "preparada pela" OLP 
quando ele era embaixador de Israel nas Nações Unidas. Estas afirmações 
dificilmente poderiam ser verdadeiras (embora a OLP tivesse apoiado 
publicamente os dois planos) mas são um indicador do desesperado receio 
de um acordo político por parte "das pombas" israelitas, com o apoio 
perseverante e decisivo dos Estados Unidos.
O problema fundamental, então como agora, reside em Washington, que 
persistentemente apoia a rejeição israelita nos termos de um amplo 
consenso internacional, reiterando no essencial "as propostas históricas 
da Liga Árabe".
As modificações ocasionais dos termos da rejeição norte-americana são 
até à data tácticas e pouco significativas. Estando ameaçados os seus 
planos para um ataque ao Iraque, os Estados Unidos permitiram uma 
resolução das Nações Unidas em que se apelava à retirada israelita "sem 
demora" - significando "tão depressa quanto possível", como logo 
explicou o secretário de Estado Colin Powell - dos territórios recém 
invadidos. O terror palestiniano deve terminar "imediatamente", mas o 
terror israelita, muitíssimo maior e que dura há 35 anos, pode fazê-lo 
calma e paulatinamente. Israel procedeu de imediato a uma escalada dos 
ataques, levando Powell a dizer "fiquei satisfeito por saber que o 
primeiro ministro disse estar a acelerar as suas operações". Há fortes 
suspeitas que a chegada de Powell a Israel esteja a ser demorada para 
que possam ser mais "aceleradas" ainda. A atitude dos EUA pode muito bem 
variar, de novo por razões tácticas.
Os Estados Unidos permitiram uma resolução das Nações Unidas apelando a 
uma "perspectiva" de Estado palestiniano. Este gesto antecipatório, 
recebido com aplauso, não se eleva contudo ao nível do da África do Sul 
há 40 anos, quando o regime do apartheid implementou a sua "perspectiva" 
de Estados governados por negros que eram, pelo menos, tão viáveis e 
legítimos como a dependência neocolonial que os Estados Unidos e Israel 
têm vindo a planear para os territórios ocupados.
Entretanto os Estados Unidos continuam, usando as palavras do seu 
presidente, a "implementar o terror", fornecendo a Israel meios de 
terror e destruição, incluindo um novo envio dos mais sofisticados 
helicópteros do arsenal norte-americano (Robert Fisk, Independent, 7 de 
Abril). Estas são as reacções padronizadas às atrocidades perpetradas 
por um regime vassalo. Para citar apenas um exemplo instrutivo, nos 
primeiros dias da actual Intifada, Israel utilizou helicópteros para 
atacar alvos civis, matando 10 palestinianos e ferindo 35, o que é 
dificilmente aceitável como "autodefesa". Clinton respondeu com um 
acordo para "a maior aquisição de helicópteros militares pela Força 
Aérea Israelita numa década" (Ha'aretz, 3 de Outubro de 2001), 
juntamente com peças sobressalentes para helicópteros de ataque Apache. 
A imprensa deu uma ajuda recusando-se a relatar os factos. Poucas 
semanas depois, Israel começou igualmente a usar os helicópteros 
americanos para assassinatos. Um dos primeiros actos da administração 
Bush foi enviar helicópteros Apache Longbow, os mais mortíferos de 
todos. Isto mereceu uma referência marginal no noticiário comercial.
O compromisso de Washington na "implementação do terror" foi de novo 
ilustrado em Dezembro, quando vetou uma Resolução do Conselho de 
Segurança apelando à implementação do Plano Mitchell e ao envio de 
observadores internacionais para fiscalizar a redução de violência, meio 
geralmente reconhecido como o mais eficaz, mas que teve a oposição de 
Israel e foi, como habitualmente, bloqueada por Washington. O veto teve 
lugar durante o período de 21 dias de calma - significando que apenas um 
soldado israelita foi morto, bem como 21 palestinianos incluindo 11 
crianças, e 16 incursões israelitas em áreas sob controlo palestiniano 
(Graham Usher, Middle East International, 25 de Janeiro de 2002). Dez 
dias antes do veto, os Estados Unidos boicotaram - portanto solaparam - 
uma conferência internacional em Genebra que, uma vez mais, concluiu que 
a Quarta Convenção de Genebra se aplica aos territórios ocupados, de 
modo que virtualmente tudo o que os Estados Unidos e Israel aí fazem é 
uma "violação grave"; em termos simples um "crime de guerra". A 
conferência declarou especificamente que os colonatos israelitas 
financiados pelos Estados Unidos são ilegais, e condenou a prática de 
"assassínio deliberado, tortura, deportação ilegal, privação deliberada 
do direito a julgamentos regulares e imparciais, extensa destruição e 
apropriação de propriedades... efectuadas ilegalmente e de modo 
irrestrito". Como Alta Parte Contratante, os Estados Unidos estão 
obrigados por tratado solene a processar os responsáveis por tais 
crimes, incluindo os seus próprios governantes. Consequentemente, tudo 
isto se passou em silêncio.
Os Estados Unidos não retiraram oficialmente o seu reconhecimento da 
aplicabilidade das Convenções de Genebra aos territórios ocupados, ou a 
sua censura às violações de Israel como "potência ocupante" (afirmada, 
por exemplo, por George Bush I quando era embaixador nas Nações Unidas). 
Em Outubro de 2000 o Conselho de Segurança reafirmou o consenso nestas 
matérias, "apelando a Israel, como potência ocupante, para cumprir 
escrupulosamente as suas obrigações segundo a Quarta Convenção de 
Genebra". A votação foi de 14 - 0. Clinton absteve-se, não querendo 
presumivelmente vetar um dos princípios fundamentais da lei humanitária 
internacional, particularmente à luz das circunstâncias em que foi 
estabelecida, isto é, a de criminalizar formalmente as atrocidades 
nazis. Tudo isto foi também rapidamente consignado ao buraco da memória, 
outra contribuição à "implementação do terror".
Até que se permita que tais assuntos sejam discutidos, e as suas 
implicações compreendidas, não tem sentido apelar ao "empenhamento dos 
EUA no processo de paz", e as perspectivas para uma acção construtiva 
continuarão obscuras.
Noam Chomsky *
Ver: http://www.zmag.org/content/Mideast/chomskyapril9.cfm



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